Cidades da região suspendem aplicação de segunda dose por falta de vacinas

Problema já foi observado, pelo menos, em Rio Pomba e Visconde do Rio Branco


Por Renato Salles

30/04/2021 às 07h41

Nos últimos dias, prefeituras de várias regiões do país vêm anunciando a suspensão da aplicação de vacinas contra a Covid-19 por falta de doses da Coronavac, fabricada pelo Instituto Butantan. A maior preocupação é referente à segunda dose, que complementa a imunização para aqueles que já receberam a primeira aplicação do imunizante. A situação já é observada em pelo menos duas cidades da Zona da Mata, uma vez que representantes da Prefeitura de Rio Pomba e também de Visconde do Rio Branco confirmaram a falta dos antivirais à equipe da Rádio CBN Juiz de Fora nesta quinta-feira (29).

No caso da Prefeitura de Rio Pomba, inclusive, foi divulgado um comunicado oficial em que o município reconhece que precisou suspender a aplicação das segundas doses da vacina Coronavac programadas para esta semana. Segundo a nota, a retomada das aplicações depende de envio de novas doses por parte do Governo federal, havendo previsão de recebimento de novas remessas ainda na primeira quinzena de maio.

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Fazendo referência à nota técnica do programa nacional de imunizações (PNI), a Prefeitura de Rio Pomba, no entanto, afirma que “o intervalo aumentado entre a aplicação das duas doses não reduz a eficácia da vacina contra a Covid-19”. O que não é corroborado pela Secretaria de Estado de Saúde, que afirmou à Tribuna que o ideal é que a segunda dose seja ministrada conforme os prazos orientados pelos fabricantes. O documento ainda destaca que não é possível usar um tipo de imunizante na primeira dose e outro na segunda. “Assim que receber a nova remessa da vacina, o Município irá retomar a aplicação das segundas doses da Coronavac”, diz nota publicada pela Prefeitura do município localizado a cerca de 75 quilômetros de Juiz de Fora.

Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora nesta quinta, o secretário Municipal de Saúde de Rio Pomba, Jair de Paula Coelho, reforçou o cenário de falta de unidades da Coronavac para a aplicação da segunda dose entre idosos na cidade. Segundo ele, a escassez dos antivirais compromete a complementação vacinal de parte do grupo etário com idade entre 70 e 72 anos e também entre aqueles com idade entre 65 e 69 anos que já receberam a primeira dose.

“Essa situação não é uma particularidade só de Rio Pomba. Várias cidades estão relatando a falta de doses para aqueles que já tomaram a primeira aplicação. A gente sabe que houve um atraso na chegada do IFA (insumo farmacêutico ativo), que é usado na produção da Coronavac, e o Instituto Butantan não conseguiu produzir em tempo hábil. Para a primeira dose, ainda dispomos de unidades da AstraZeneca e, na próxima segunda-feira, iniciamos a aplicação da primeira dose em pessoas de 62 anos”, explicou o secretário.

Visconde do Rio Branco

Já na cidade de Visconde do Rio Branco, também na Zona da Mata mineira, o prefeito Fábio Antonucci (Avante) relatou situação bastante similar à descrita pelo secretário municipal de Rio Pomba. “Vínhamos avançando bastante na vacinação. Mas, agora, sofremos com a falta de doses da Coronavac nestes últimos dias”, afirmou Fábio, também em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora. De acordo com o prefeito, a escassez do imunizante produzido pelo instituto Butantan pode comprometer o prazo para a complementação vacinal, com a aplicação da segunda dose, de pessoas da faixa etária que vai dos 69 aos 72 anos.

Assim como o secretário Municipal de Saúde de Rio Pomba, o prefeito de Visconde do Rio Branco apontou que o problema se deu após o município seguir recomendação do Ministério da Saúde, que sinalizou a possibilidade de utilização das unidades recebidas para a segunda aplicação como primeira dose, de forma a avançar a campanha de vacinação.

Histórico

No dia 21 de março, o Ministério da Saúde, ainda sob o comando do general da ativa Eduardo Pazuello, autorizou que todas as vacinas recebidas e armazenadas por estados e municípios para garantir a segunda dose fossem utilizadas como dose 1. Na última segunda-feira (26), porém, o atual ministro da saúde, Marcelo Queiroga, admitiu dificuldades no fornecimento de novas remessas da Coronavac para aplicação em segunda dose, por conta de atrasos na importação do ingrediente farmacêutico ativo, vindo da China, e necessário para a produção do Butantã.

Estado estuda estratégias de recomposição

As cidades de Rio Pomba e Visconde do Rio Branco estão sob a jurisprudência da unidade Regional de Saúde de Ubá, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (SES). Em nota encaminhada à Tribuna, a SES afirma que “os quantitativos de vacinas foram enviados aos municípios conforme os públicos prioritários determinados pelo Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde”.

“A Coordenação de Imunizações está acolhendo as demandas dos municípios para que seja discutida, com o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública da SES (Coes Covid-19), a possibilidade de recomposição de doses. Sobre a chegada de nova remessa de imunizantes, a SES informa que aguarda o Informe Técnico do Ministério da Saúde sobre a previsão de chegada de novas doses”, diz o Estado.

“No momento, a SES aguarda o posicionamento do Ministério da Saúde”, reforça a pasta ao ser indagada diretamente sobre as futuras remessas dos imunizantes aos municípios.

Ainda conforme a secretaria, para os municípios que estão com seus estoques zerados, a orientação é para que preencham um formulário disponibilizado às prefeituras pela SES para avaliação de recomposição de D2 para a vacinação. A Secretaria de Estado de Saúde reforça que “o indicado é que a pessoa receba a segunda dose da vacina conforme prazo orientado pelo fabricante do imunizado administrado”. No caso da AstraZeneca, a segunda dose pode ser administrada com intervalo de 12 semanas após a primeira administração; e, da Coronavac, com intervalo de duas a quatro semanas entre elas.

“Ressaltamos que a aplicação da segunda dose é medida importante para garantir a segurança sanitária de toda a população, uma vez que os estudos científicos publicados até o momento comprovam que para a imunidade ser alcançada, individual e coletivamente, é importante a aplicação das duas doses. Também conforme recomendação das duas fabricantes dos imunizantes, Coronavac e Astrazeneca, a eficácia das vacinas se dá após a administração das duas doses”, diz o Governo de Minas.

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Municípios que ainda possuem estoque estão em alerta

Ante o clima de incerteza, outros municípios da Zona da Mata estão em alerta e no aguardo da chegada de novas remessas, embora ainda possuam estoques da Coronavac para serem utilizados na complementação de segunda dose da cobertura vacinal daqueles que já receberam a primeira aplicação.

É o caso da principal cidade da região, Juiz de Fora “O processo de vacinação adotado no município, desde o início tem trabalhado para que não faltem doses para a segunda aplicação. Contudo, um grande atraso no envio por parte do Governo federal pode modificar esta situação, uma vez que os municípios contam com o compromisso firmado de entrega dos imunizantes dentro do prazo previsto”, afirma a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora.

Situação similar foi relatada pela Prefeitura de São João Nepomuceno, que, nesta quinta-feira (29), dispunha de 400 unidades da Coronavac para aplicação de segundas doses. “Sobre riscos de faltar doses de vacinas, a Prefeitura explica que o estoque tem o controle da Superintendência Regional de Saúde em Juiz de Fora. Desta maneira, a movimentação do estoque acontece de acordo com as chegadas das doses e aplicadas imediatamente depois de chamamentos e divulgação nos meios de comunicação”, diz nota encaminhada à reportagem.

Especialista em imunologia destaca importância da segunda dose

Também entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora na manhã desta quinta-feira, o médico especialista em Alergia e Imunologia, Fernando Aarestrup, considerou que, em um cenário ideal, não deveria ocorrer a escassez do estoque para a complementação vacinal de segunda dose. Contudo, ressaltou que caso o problema seja equacionado no curto prazo, os riscos de prejuízo para a resposta imunológica ficam minimizados. “O ideal é fazer a dose no período correto. Mas um atraso de um pequeno espaço de tempo, de uma semana, por exemplo, não vai alterar a resposta imunológica”, avaliou.

Aarestrup, todavia, mostrou receio com a ausência da complementação vacinal no caso dos imunizantes da Covid-19, seja por desabastecimento ou mesmo pelo fato de as pessoas não retornarem aos postos de saúde para uma segunda dose. “Temos que atentar para um fato muito importante: há sempre a necessidade da segunda dose. Quanto mais tempo atrasar a segunda dose, mais pode haver um prejuízo da resposta imunológica.”

Assim, o médico defendeu que aqueles que perderam o prazo para tomar a segunda dose não devem deixar de fazê-la por conta disto e precisam procurar um posto de vacinação imediatamente para a complementação vacinal. Ele ainda afirmou que o ideal seria que os municípios tivessem controle e realizassem a busca ativa daqueles que se encontram em tal situação. “Mesmo que o atraso seja por mais tempo, as pessoas devem procurar o posto de vacinação o mais breve possível.”

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