Excesso de velocidade causa 4 em cada 10 acidentes na 040
Trecho de JF a Barbacena teve 382 acidentes em 2017, com 23 mortes
Em 2017, a rodovia BR-040, entre Juiz de Fora e Barbacena, no segmento de responsabilidade da Via 040, contabilizou 382 acidentes, o menor índice desde que a concessionária se tornou responsável pelos 936 quilômetros da estrada, até Brasília. No entanto, as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que a diminuição no número de ocorrências foi menor neste trecho se comparado ao próximo, que vai de Alfredo Vasconcelos a Belo Horizonte. Para se ter ideia, de 2014 a 2017, enquanto o segmento até Barbacena apresentou queda de 19%, no outro a redução chegou a 48%. Ano a ano, a realidade se repete, conforme análise feita pela Tribuna.
Mesmo quando os dois trechos da rodovia apresentam diminuição, o resultado de Juiz de Fora a Barbacena é o pior, não só no número de acidentes, como também nos óbitos e na quantidade de feridos graves. E mais: se considerar uma viagem completa até a capital, o percurso até o perímetro urbano de Barbacena, de quase 70 quilômetros (a partir da Barreira do Triunfo, Zona Norte), representa 30% do deslocamento, embora concentre 34% dos acidentes e 33% das mortes. Gradativamente, este trecho está aumentando o percentual de mortes ao longo dos últimos anos na comparação com os outros segmentos da via (ver quadro).
As 382 ocorrências atendidas pela PRF ano passado de Juiz de Fora a Barbacena apresentam ainda outro aspecto corriqueiramente discutido, que é a imprudência.
Do total, 43% dos registros tiveram como causa o excesso de velocidade, seguidos pela falta de atenção do motorista, comum em 20% dos casos. Neste grupo, entram ocorrências como colisões frontal, transversal e traseira, saída de pista, tombamento, atropelamento de pedestre e capotamento. Aliás, dos 23 óbitos registrados no ano passado, apenas um teve outro motivo, senão estes dois: um atropelamento, por falta de atenção do próprio pedestre, registrado em uma madrugada de maio no entorno de Barbacena. Além disso, é preciso considerar que a concessionária está com todos os 117 radares até Brasília desativados, pois o processo de transferência de responsabilidade dos equipamentos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Via 040 ainda está em andamento.
Os cerca de 70 quilômetros que separam o Bairro Barreira do Triunfo, na Zona Norte, até o perímetro urbano de Barbacena, é um traçado comum por moradores da região. Embora tenha a maior parte duplicada, os perigos são muitos. Entre eles, destaca-se o traçado sinuoso disputado por carros e veículos de carga, a neblina em alguns pontos e a interação com o perímetro urbano de cidades como Santos Dumont e Oliveira Fortes. O estudante de medicina Rafael Simão, 28 anos, divide o tempo entre Barbacena, onde estuda, e Juiz de Fora, onde vive a família. Por isso, a BR-040 é o seu destino a cada 15 dias, além dos feriados. “A estrada possui trechos mal sinalizados e vários pontos de estreitamento de pista para entrar nas pontes. Em minha opinião, a concessão só serviu para colocar o pedágio e cortar a vegetação. Um ponto ou outro tem asfalto novo, mas é pouca coisa”, afirmou,
acrescentando que os acidentes são presenciados com frequência, “principalmente em dias de chuva e muito movimento”. “Já cheguei a contar cinco acidentes em uma única viagem. Em chuvas, já vi muita colisão traseira e capotamento, enquanto que, nos dias normais, o mais recorrente é a saída de pista ou tombamento de caminhões.” O estudante foi questionado sobre a imprudência, resultado de 63% de todas as ocorrências contabilizadas em 2017. Para ele, os abusos são comuns, principalmente nas retas, quando os condutores tentam compensar os atrasos acumulados nos trechos de curvas.
‘Ponte monstruosa’
Para a micropigmentadora Cida Melo, 38, a parte da estrada que coincide com o perímetro urbano de Santos Dumont é a mais perigosa. “Já presenciei vários acidentes ali, de carro rodar na pista. Claro que tem muita imprudência, mas o traçado é mesmo perigoso, com curvas fechadas. Quem não conhece, acaba perdendo o controle e invadindo a contramão, sem contar aquelas pontes em curvas, com casas logo abaixo. Aquilo é monstruoso”, pontuou. Cida, que mora em Juiz de Fora, faz a viagem para Barbacena uma vez por mês atualmente para visitar a mãe, mas até pouco tempo, quando trabalhava com vendas, usava a rodovia diariamente. “Vejo que tiveram melhoras com a concessão. Não tem mais tanto buraco e, quando algum carro quebra ou ocorrem acidentes, o socorro chega. Antes era bem difícil, porque muitos pontos sequer têm sinal de telefone.”
60% dos casos durante tempo instável
As estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que seis a cada dez acidentes no trecho de Juiz de Fora a Barbacena ocorreram com condições de instabilidade atmosférica, ou seja, durante chuva, nevoeiro ou tempo nublado. No percurso seguinte, de Alfredo Vasconcelos a Belo Horizonte, o índice cai para 37%. Para o chefe substituto do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF em Juiz de Fora, Fernando Pettersen, as chuvas são, de fato, elementos agravantes na segurança do trânsito, principalmente aquelas pancadas fortes, após dias de estiagem. “É uma condição em que a pista ainda está suja e escorregadia. São comuns ocorrências nestas condições.” No entanto, ele reforça que o fator humano é o responsável por 95% das ocorrências, sendo somente 5% relacionadas a condições estruturais, como problemas de pavimentação. “E, neste contexto, sem sombra de dúvidas, o excesso de velocidade se sobressai muito.”
Apresentado aos dados apurados pela reportagem, Pettersen considerou que, de Juiz de Fora a Barbacena, o segmento de Santos Dumont é o mais preocupante. “Para Belo Horizonte, é muito grande o número de acidentes de Carandaí até Conselheiro Lafaiete. O que a gente tenta fazer é coibir as imprudências por meio dos radares móveis e rondas diárias em nosso trecho de responsabilidade (que vai da divisa com o Estado do Rio de Janeiro até Lafaiete). E as imprudências são flagrantes absolutamente comuns e recorrentes. Estamos sempre presenciando infrações e abordando os condutores para adotar as medidas administrativas possíveis.”
Um fato curioso é que dos 23 óbitos registrados nos 70 quilômetros que separam a Barreira do Triunfo (em Juiz de Fora) de Barbacena, no segmento de responsabilidade da Via 040, 17 foram contabilizados no fim de semana. Para Pettersen, o sábado e o domingo são os mais violentos por causa da característica do condutor. Ou seja, reduz o número de profissionais do volante e aumenta o de condutores eventuais, pouco habituados com rodovias. “Esta falta de experiência, infelizmente, faz toda a diferença. Mas é importante destacar, sempre, que a cautela e a prática da direção defensiva podem contribuir, e muito, para a redução desta estatística.”
Via 040 garante atendimento
Procurada pela reportagem, a Via 040 não respondeu aos questionamentos específicos sobre o trecho entre Juiz de Fora e Barbacena, como o fato de, neste percurso, a redução de acidentes ter sido menor. No entanto, informou, em nota, que, desde 2014, realiza investimentos contínuos em obras, equipamentos, manutenção do pavimento, conservação e melhoria da sinalização, principalmente em pontos que demandam mais atenção dos motoristas, sem citar quais. “A concessionária possui um núcleo de inteligência que realiza análise das ocorrências para que sejam implantadas melhorias em pontos específicos”, respondeu. Também salientou que, entre Juiz de Fora e Belo Horizonte, a redução média no número de acidentes é de 36,9%, se comparar os anos de 2012, 2013 e 2014 (antes da concessão) com os resultados obtidos em 2015, 2016 e 2017.
Relicitação
Em setembro do ano passado, a Invepar, controladora da Via 040, aderiu ao processo de devolução da concessão entre Juiz de Fora e Brasília. Mas este é um processo ainda não finalizado, dada a sua complexidade. Por isso, a concessionária informou que o formato, o parâmetro e os prazos do processo ainda serão definidos pelo Governo federal. Na prática, investimentos volumosos deixam de ser feitos por enquanto, embora a Via-040 afirme que os atendimentos permanecem inalterados. “Cabe destacar que os serviços de operação, como a inspeção 24 horas, socorro médico e mecânico, bem como os trabalhos de conservação, sinalização e manutenção do pavimento continuarão a ser executados sem nenhum prejuízo aos usuários.”