Trabalhadores do MST recebem ameaças em novo acampamento

Secretaria de Direitos Humanos deve visitar local que recebe cerca de 250 pessoas


Por Marcos Araújo

19/01/2018 às 19h18- Atualizada 19/01/2018 às 21h23

Cerca de cem famílias, com aproximadamente 50 crianças, do acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gabriel Pimenta, na divisa entre os municípios de Antônio Carlos e Santos Dumont, foram alvos de ameaça por parte de homens ocupantes de motocicletas. Enquanto trabalhavam na construção de suas moradias, moradores do grupo foram intimidados pelos desconhecidos, que teriam gritado contra eles: “Aproveitem bem, cambada de vagabundos, pois daqui a dois dias a alegria vai acabar”.

Antes disso, um morador do acampamento também foi alvo dos motociclistas. “Dois homens numa moto abordaram um senhor de idade, que é um dos integrantes do acampamento. Essa abordagem aconteceu na Estrada Real e perguntaram se ele era da ocupação. Ele disse que sim e ouviu diversos xingamentos e ameaças, falando que iriam acabar com aquela alegria. Ele voltou muito amedrontado para o acampamento”, afirmou uma das coordenadores regionais do MST, Tatiana Gomes. Segundo ela, a dupla desceu pela estrada e voltou, momento em que ameaçou algumas famílias que estavam construindo seus barracos.

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Sabendo do risco que as famílias estão correndo, foi registrado um boletim de ocorrência na Polícia Militar. “Como é um lugar isolado e não na beira da estrada como o outro acampamento, ficamos com muito receio. Então, fizemos o boletim de ocorrência na cidade de Antônio Carlos. Além disso, acionamos a Secretaria de Direitos Humanos de Minas Gerais. Estamos numa ocupação totalmente pacífica, com cerca de 50 crianças, e aproximadamente 250 pessoas”, ressaltou Tatiana.

PM irá acompanhar a situação

De acordo com a assessoria de imprensa do 13ª Região de Polícia Militar, em Barbacena, na noite desta quinta-feira (18), a PM do município de Antônio Carlos registrou uma ocorrência de ameaça no acampamento do MST. Segundo o registro policial, dois acampados relataram que, na parte da manhã, três homens chegaram no local em duas motocicletas, fizeram ameaças e foram embora. A assessoria informou que a Polícia Militar, juntamente com os outros órgãos de segurança pública, permanece atenta à situação.

Na última terça-feira (16), oficiais de Justiça e policiais militares cumpriram a reintegração de posse da Fazenda São José-Liberdade, pertence ao complexo de Fazendas Reunidas HD, em Coronel Pacheco, ocupada por membros do MST desde meados de 2017. Os acampados estão em fase de transferência para o acampamento Gabriel Pimenta, na Fazenda da Serra. Localizada no “pé” da Serra da Mantiqueira, no município de Antônio Carlos na divisa de Santos Dumont, a propriedade conta com mais de quatro mil hectares e, segundo o MST, se encontrava em completo estado de abandono. Conforme o MST, a área pertencia à Companhia Têxtil Ferreira Guimarães, antiga Companhia Industrial Valença, que encerrou suas atividades industriais em 2013. A fazenda foi a leilão e não sendo arrematada continua em estado de abandono.

De acordo com Tatiana Gomes, a maior parte das pessoas chegaram ao novo acampamento no último sábado (13). “Outra parte voltou ao acampamento, em Coronel Pacheco, para buscar seus pertences e tem mais gente para chegar”, ressalta a coordenadora. Ela afirma que essas ameaças endereçadas ao grupo são para intimidar. “Querem deixar as famílias com medo de continuar na luta, para que desistam. As pessoas não entendem que a luta pela terra não é uma escolha, não é uma opção, é resultado de uma conjuntura. Vivemos uma situação de crise no Brasil, onde as pessoas, cada vez mais desempregadas, não têm onde morar, não conseguem pagar aluguel. Então, quem está ali é devido a essa crise. Fica parecendo que é uma escolha, porque o acampamento parece ser uma coisa muito legal, mas é difícil. É muito difícil morar em um barraco de lona com seus filhos”, enfatiza Tatiana.

Ela acrescenta que as famílias que chegaram à nova fazenda estão iniciando do zero. “Tem que colocar as crianças na escola, produzir tudo de novo, porque, na fazenda que ficou para trás, passaram por cima de toda a produção de milho, abóbora e hortaliças. Eram hectares de produtos plantados e nem tiveram a permissão de colherem, o que é mais desumano”, desabafa.

Secretaria de Direitos Humanos defende apuração

O secretário-adjunto de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais, Biel Rocha, informou que a pasta irá acompanhar a situação vivenciada pelos moradores do acampamento Gabriel Pimenta.”Eles já deram um passo importante, que foi registrar o boletim de ocorrência a respeito das ameaças. Agora, a secretaria irá acompanhar o desdobramento na Polícia Civil e também vamos providenciar uma visita da nossa área de Mediação de Conflito para conhecer de perto o que está acontecendo”, afirmou Biel, acrescentando que a visita ainda será agendada.

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“Será montada uma equipe para realizar a visita, porque são 184 conflitos no estado, e todos estão sendo acompanhados, então vai depender da agenda”, ressaltou. Segundo ele, as ameaças realizadas contra os moradores do acampamento é séria e deve ser apurada com rigor. Biel ainda reflete sobre como o processo de ocupação merece ser visto de uma forma mais humana. “Isso é reflexo de uma situação de pobreza que a cada dia aumenta mais. É uma solução encontrada por famílias que necessitam de moradia, de trabalho, de lugar para criar seus filhos. Então, o processo de ocupação é preciso ser visto nesse sentido. Temos o entendimento de que a terra é para plantar, para morar e tem que garantir uma função social”, considera.

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