Após tempestade, Simão Pereira decreta situação de emergência

Cerca de 50 pessoas ficaram desalojadas no município, localizado a cerca de 30 quilômetros de JF. Um dia depois da forte chuva, mutirões podiam ser vistos pela cidade, que ainda tinha grande parte da população sem energia e sem água


Por Vívia Lima e Michele Meireles

06/12/2018 às 10h53- Atualizada 07/12/2018 às 09h23

O município de Simão Pereira decretou situação de emergência nesta quinta-feira (6), um dia após a cidade ter sido atingida por uma tempestade que provocou destruição, deixando 50 pessoas desalojadas. A cidade também permanecia sem energia elétrica mais de 24 horas após a chuva. A expectativa é de que a luz chegasse na noite desta quinta na área urbana, enquanto, na zona rural, a previsão era que o fornecimento seja normalizado em três dias, ou seja, apenas a partir deste sábado. A informação é da Cemig, que, até o fechamento desta edição, atuava na localidade a fim de amenizar os problemas. A comunidade também enfrenta o desabastecimento de água. A quinta-feira, no município, que fica a 30 quilômetros de Juiz de Fora, foi para contabilizar os prejuízos.

Moradores que ainda tinham água dividiam o produto com aqueles que sofriam com a falta dela na manhã de quinta. O serviço de telefonia também está comprometido. Funcionários da Prefeitura e residentes trabalharam durante todo o dia e irão permanecer nesta sexta, desobstruindo vias, retirando galhos e troncos de árvores e fazendo a limpeza das ruas. A tempestade, que veio acompanhada de muito vento e granizo, durou cerca de 40 minutos e assustou os moradores, que relataram nunca ter visto nada parecido na cidade. Apesar dos estragos, não houve registros de vítimas fatais.

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O pluviômetro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) não transmitiu os dados sobre a chuva e, por isso, não é possível estimar o volume pluviométrico na cidade. Para fim de comparação, em Juiz de Fora, por volta das 17h de quarta-feira, as rajadas de ventos atingiram 66 quilômetros por hora.
Pelo decreto que determina situação de emergência, todos os órgãos municipais estão mobilizados para atuar na recomposição do município. Além disso, autoriza a chamada de voluntários para agir e, entre outras medidas, permite que sejam feitos contratos de aquisição de bens e serviços para reconstruir a cidade sem licitações.

Trabalhos

Na área central de Simão Pereira, rajadas de ventos arrancaram árvores (Foto: Olavo Prazeres)

Na estrada que liga a BR-040 a Simão Pereira, ainda no final da tarde desta quinta, havia muitas árvores caídas e alguns pontos em meia pista devido a galhos e troncos estarem no meio da via. Durante a manhã, a equipe de reportagem flagrou dezenas de pessoas trabalhando na retirada da vegetação. Muitas casas foram destelhadas. Em algumas, moradores perderam móveis e eletrodomésticos.

Segundo os Bombeiros, ainda é feito balanço do número de famílias que precisaram deixar as suas residências. A estimativa é que haja entre 12 e 15 famílias desalojadas, totalizando 50 pessoas, que buscaram abrigo com amigos e parentes. No primeiro momento, em caráter de urgência, elas foram levadas para a Escola Municipal Conceição Aparecida Rosso. Alguns passaram a noite na instituição de ensino equipada com colchões e cobertores, mas, na manhã desta quinta, já haviam deixado o local, que serve agora como ponto de apoio e alimentação para os afetados pela chuva.

O secretário de Transportes de município, Emilson de Oliveira, afirmou que ontem os acessos à cidade ficaram bloqueados. A primeira ação, segundo ele, foi fazer a desobstrução das vias para a passagem do socorro. Enilson afirmou que toda a equipe da Prefeitura está empenhada na recuperação dos transtornos causados pela chuva, assim como Defesa Civil. O Corpo de Bombeiros também trabalha no município e faz avaliações dos trabalhos. No início da noite, militares permaneciam na cidade e não tinham previsão de retorno, devido à devastação local. A corporação informou que o caso mais grave foi registrado em uma casa, onde uma árvore caiu e deixou dois moradores levemente feridos. Outras seis pessoas, vítimas da chuva, foram atendidas no Posto Médico Municipal e pelo Samu, todas com ferimentos leves.

Estragos

Na Rua Santo Antônio, Centro de Simão Pereira, três postes de iluminação pública se partiram. Árvores e galhos também foram arrancados. Moradores relataram ter vivido momentos de terror. Uma idosa, que preferiu não ter o nome divulgado, disse que o maior medo foi que os postes e as árvores caíssem em sua casa. “Foi horrível, nunca vi nada igual. Na hora pensamos que aqui não fosse ficar ileso, mas graças a Deus nada de pior ocorreu.” O policial militar reformado Edson Rodrigues ainda estava assustado. Ele perdeu eletrodomésticos e móveis. “Parecia que o mundo ia acabar. Nem em meu trabalho como policial vi coisa assim.”

 

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Postes foram arrancados com a força dos ventos durante tempestade (Foto: Olavo Prazeres)

O Centro Cultural Simão Pereira de Sá também foi atingido. Segundo o secretário de Cultura, Everton Junqueira, a sala onde ficavam guardadas cenários, figurinos e outros materiais foi destelhada e todos os materiais danificados. “Acredito que vamos conseguir aproveitar pouca coisa. O salão onde fazemos as apresentações também teve telhas arrancadas. O palco, que é de madeira, ficou encharcado. Ainda vamos avaliar se há como recuperá-lo.”

Em entrevista na quarta-feira, Rodrigo Gomes, titular da Secretaria de Saúde, informou que pedidos de exames, tratamentos e cirurgias, além de medicamentos, foram atingidos na sede da pasta. “As vacinas têm prazo de validade e irão estragar se a luz não voltar.” Conforme ele, o prejuízo inicial estimado, somente em relação aos remédios, chegaria a R$ 100 mil.

Cemig reforça equipes para tentar restabelecer energia

A Cemig informou que a tempestade que atingiu a cidade danificou as duas linhas de transmissão que atendem a cidade. Desta forma, conforme a companhia, 1.400 clientes ficaram sem o serviço, nas áreas urbana e rural. No caso da área urbana, a previsão da Cemig era restabelecer o fornecimento até às 20h desta quinta-feira, para 80 % dos clientes. O restante da população deveria ter o serviço normalizado nesta sexta. Já na área rural o trabalho pode levar até três dias, em razão das dificuldades de acesso nas estradas vicinais. A companhia reforçou o número de profissionais com trabalhadores de outras cidades da região.

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Em nota enviada à Tribuna, a Cemig informou que, até por volta das 18h, “ainda precisavam ser trocados oito postes e 40 cruzetas(que sustentam os fios de média tensão). Também uma torre da linha de transmissão que passa próximo ao município, foi derrubada”.  Claudia Tomaz é dona de uma mercearia na via onde os postes caíram. Ela já contabiliza os prejuízos da falta de energia elétrica. Segundo ela, foram perdidos bebidas e picolés. “Não estou nem pensando neste prejuízo, o mais importante para mim é que ninguém se feriu. Meu irmão perdeu tudo, não tem como voltar para casa. A situação é muito complicada.”

Na região

Apesar de outras cidades da região também terem registrado chuva e ventos fortes, como Piau e Tabuleiro, o Corpo de Bombeiros informou que somente em Simão Pereira houve necessidade de deslocamento. Nestes municípios, houve também falta de energia elétrica, mas equipes atuaram durante a madrugada e o serviço foi restabelecido ainda pela manhã desta quinta.

Campanha arrecada donativos para as vítimas

Por uma rede social, um grupo de cinco amigas iniciou uma mobilização, a fim de arrecadar donativos para as vítimas da chuva de Simão Pereira. A campanha foi iniciada logo após começar a circular na mídia os reais estragos, ainda na noite de quarta. O objetivo é arrecadar colchões, lonas, roupas de cama, calçados, roupas, artigos de higiene pessoal, móveis, eletrodomésticos, mantimentos, medicamentos e material de construção. “Nossa família é de lá e, por isso, estabelecemos um laço afetivo forte com a cidade. Assim que tivemos conhecimento dos estragos, nos mobilizamos para ajudar a população. Como era algo muito simples, não esperávamos essa repercussão”, diz uma das organizadoras, a empresária Thaís Horta Whitaker, acrescentando que, até a tarde desta quinta, um caminhão, uma caminhonete e outros dois veículos já circulavam por Juiz de Fora reunindo os donativos. “Apesar da quantidade que já conseguimos, ainda há muito o que fazer. Pessoas que quiserem disponibilizar seu tempo para reconstruir as casas, como pedreiros, também podem fazer contato. Toda ajuda é muito bem-vinda”, reafirma Thaís.

Durante a tarde, o proprietário de uma loja no Centro de Juiz de Fora cedeu o local onde foi montado um posto de coleta para receber os materiais doados. Os interessados devem seguir até a Rua Batista de Oliveira 47, das 10h às 18h, ou ainda fazer contato pelos telefones (32) 98852-0612; (32)9911-89638; (24) 98821-2300 e (32) 99184-4505. Outro ponto que irá receber os donativos é o Seminário Santo Antônio, na Avenida Rio Branco 4.516. As entregas poderão ser feitas em horário comercial.

Tópicos: chuva

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