PT estuda ir à Justiça contra post de ex-secretário de Estado de Saúde

O médico Carlos Eduardo Amaral publicou montagem em que a ex-presidente Dilma aparece com ferimentos e com o olho roxo; secretário observa que legenda da imagem diz o contrário


Por Renato Salles

30/03/2022 às 17h29

O nome do ex-secretário de Estado de Saúde, o médico juiz-forano Carlos Eduardo Amaral, acabou envolvido em uma polêmica nesta quarta-feira (30). Na noite de terça, Carlos Eduardo postou em suas redes sociais uma publicação em que faz menção ao tapa dado pelo ator Will Smith no comediante Chris Rock durante a cerimônia do Oscar, realizada no último domingo. Na imagem da publicação, aparecia uma montagem sobre uma foto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), com o olho roxo, ferimentos e outros sinais de violência, com os dizeres: “Falou besteira leva um tapa? Se essa moda pega!” A imagem contrastava com o texto da legenda, em que Carlos Eduardo afirmava que “nada justifica uma agressão física”. A publicação provocou revolta entre alguns internautas, em especial entre partidários de Dilma, com manifestação de lideranças petistas locais, como a prefeita Margarida Salomão (PT). O diretório estadual do PT publicou nota de repúdio, em que diz que avalia “as medidas cabíveis”.

Em nota encaminhada à Tribuna, Carlos Eduardo Amaral afirmou que “o post foi publicado com uma legenda com conteúdo claro”. “Nada justifica uma agressão física, se todos respondessem comentários infames ou piadas (pior que sejam) com um tapa, voltaríamos à barbárie”, reforçou o ex-secretário, em citação direta à própria publicação. Carlos Eduardo ainda falou sobre a imagem, com a montagem em referência a ex-presidente Dilma. “A foto usada realmente foi impactante, mas não sugeria que se apoiava a violência. Me chamou a atenção a reação exuberante que alinha exatamente com o que o texto fala. Se formos responder a comentários infames, voltaremos à barbárie. Essas reações seguem esse caminho, respostas agressivas e violentas com um excesso de violência verbal por toda parte”, disse.

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As reações entre lideranças do PT em Juiz de Fora à publicação foram diversas. A prefeita Margarida Salomão classificou a postagem como “mais um absurdo” caso de misoginia e de desrespeito. Margarida ainda manifestou sua solidariedade à ex-presidente Dilma. “Misoginia e desrespeito que se tornam ainda mais perversas por se dirigirem a uma mulher covardemente torturada pela ditadura. A idealização dessa violência já é desprezível por si só. Configura-se muito pior, contudo, quando proferida por um agente público”, postou em suas redes sociais.

Afastamento

O deputado estadual Roberto Cupolillo (Betão, PT) também se manifestou e classificou a publicação como uma “brincadeira de mau gosto”. Betão ainda fez referência à passagem de Carlos Eduardo Amaral pelo secretariado do governador Romeu Zema (Novo), no comando da Secretaria de Estado de Saúde. “Papelão um ex-secretário, afastado no governo Zema, acusado de fura-fila da vacina, usar as redes para propagar a misoginia, o machismo e fomentar a violência”, disse o parlamentar petista, também pelas redes sociais.

Empossado em janeiro de 2019, Carlos Eduardo foi afastado da Secretaria de Estado de Saúde em março de 2021, após ter seu nome envolvido em outra polêmica, que resultou, inclusive, na instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

À época, o colegiado apurou supostas irregularidades na vacinação de cerca de 800 servidores contra a Covid-19, incluindo o próprio ex-secretário, sob suspeitas de que estes haviam furado a fila das prioridades da imunização. Em maio de 2021, Carlos Eduardo afirmou que “o processo foi extremamente correto”; que “não houve fura-fila”; e que havia se vacinado para dar exemplo aos funcionários da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Nota de repúdio

O diretório municipal do PT em Minas Gerais emitiu uma nota de repúdio à postagem. “O departamento jurídico do PT de Minas está avaliando as medidas cabíveis que serão tomadas em relação ao caso. Não podemos aceitar como normal nenhum tipo de violência por qualquer motivo que seja. Muito menos por divergências políticas, partidárias e ideológicas. Os debates e embates devem ficar no campo das ideias, sempre regidos pelos princípios da civilidade e do respeito às diferenças. Estamos em março, o mês das mulheres, e, por isso, reforçamos nosso posicionamento contra todo tipo de violência de gênero”, diz a sigla.

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