PT quer ampliar bancada em 33%

Ex-secretário de Estado de Direitos Humanos e pré-candidato à Câmara, Nilmário Miranda afirma que objetivo da legenda é eleger, pelo menos, 80 deputados federais em outubro


Por Renato Salles

22/04/2018 às 07h00- Atualizada 23/04/2018 às 18h22

Nilmário vê ruptura do pacto democrático estabelecido na Constituição de 1988 (Foto: Fernando Priamo)

Candidato ao Governo de Minas Gerais em 2002 e 2006, o ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, o ex-deputado Nilmário Miranda (PT) deve se lançar candidato à Câmara dos Deputados nas eleições de outubro para tentar potencializar um projeto do Partido dos Trabalhadores de ampliar sua bancada no Congresso Nacional. Em visita a Juiz de Fora no meio da semana, Nilmário esteve na Tribuna e revelou que o PT tem o anseio de eleger, pelo menos, 80 parlamentares federais em todo o país em atendimento ao apelo do líder maior da legenda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba pelo Caso Triplex, mas mantido como pré-candidato petista à Presidência. “Eu já havia desistido de ser candidato. Já havia comunicado minha família que não seria. Mas o Lula apontou que o problema do Brasil está no Congresso, sobretudo, na Câmara. Ali que o apodrecimento de nossa política partidária se fez. Assim, o PT deve lançar como candidatos todos os quadros que já foram ministros, deputados, senadores, prefeitos de capital”, afirmou em conversa com a reportagem.

Para Nilmário, uma maior bancada no Congresso significa uma maior capacidade de diálogo, no sentido de restabelecer um projeto de esquerda para o país. “Quando fui candidato a governador em 2002, o PT elegeu 91 deputados. Na última eleição da Dilma (em 2014), foram 69”, pontuou, considerando que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), que também está preso no âmbito da Operação Lava Jato e foi um dos artífices do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), controlava por meio de financiamento de campanha cerca de 170 parlamentares. “Aí apodreceu. Como governar o Brasil sem um resgate do Congresso?”, questionou, lembrando o enfraquecimento de Dilma em seu segundo mandato, a partir de 2015.

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Ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, Nilmário considera o impeachment de Dilma como uma ruptura do pacto democrático estabelecido pela Constituição de 1988, após a redemocratização do país que seguiu o período de 21 anos em que o Brasil viveu uma ditadura militar. “O que é o pacto democrático? O artigo primeiro da Constituição define que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Aí, tivemos um processo de impeachment em que os próprios adversários já admitem que não houve crime de responsabilidade. Arrumaram um pretexto para tirar a Dilma, que estava enfraquecida. Houve um ruptura do pacto democrático e a soberania popular deixou de ser um fundamento da democracia”, considerou o ex-deputado.

Neste sentido, Nilmário entende que o senador Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência da República em 2014, quando foi derrotado no segundo turno exatamente por Dilma Rousseff, teve importante contribuição no que chama de ruptura do pacto democrático. “Desde que retomamos as eleições diretas (a partir de 1989), Lula aceitou a derrota em 1989, 1994 e 1998. Serra aceitou a derrota em 2002 e 2010. Alckmin aceitou em 2006. Aécio não aceitou em 2014”, afirmou o petista, lembrando discursos públicos do senador, em que o tucano questionou o resultado das urnas. O ex-deputado ainda apontou outros pontos em que considera que o consenso construído na Constituição de 1988 está sendo derrubado 30 anos depois, como a própria prisão de Lula, à revelia do texto constitucional ser claro sobre a execução da pena após o trânsito em julgado de um processo.

‘Vamos levar até o limite’

Nilmário sai em defesa da candidatura do ex-presidente. “Temos que defender as eleições livres. Sem escolher quem pode e quem não pode ser candidato. Tenho certeza que se Lula perder as eleições, ele aceita o resultado. Ele tem capacidade de transferência enorme. O PT estava bem desgastado por seus erros e pela demonização. Mas temos hoje mais de 30 milhões de pessoas que se declaram petistas. Nenhum partido do Brasil chega perto disto. Por isto, é possível fazer uma boa bancada. Sessenta milhões de brasileiros querem Lula presidente. Vamos levar até o limite. Quem vai ter o ônus de tirar o Lula é quem iniciou este processo (de ruptura do pacto democrático).

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Na defesa de aliança com MDB

Sobre a disputa eleitoral no âmbito estadual, Nilmário Miranda considerou que o PT deve caminhar para reeditar a dobradinha com o MDB, que, em 2014, indicou Antônio Andrade (MDB) como vice do governador Fernando Pimentel (PT), que vai tentar a reeleição. Uma nova aliança com os emedebistas é defendida, independentemente das rusgas entre os dois partidos nas discussões nacionais, que ficaram ainda mais evidente após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e ascensão de Michel Temer (MDB) à Presidência. “Sem o MDB, não teríamos ganhado a eleição. Há um distanciamento entre o MDB nacional e o estadual. O nacional fechou com Temer, votou pela Reforma Trabalhista, votou na PEC do teto de gastos e votou pelo impeachment, mesmo sendo parte do Governo. No Estado, temos uma relação estreita. O Adalclever (Lopes, presidente da ALMG) foi eleito com nosso apoio na Assembleia e nunca o Governo perdeu uma votação no Legislativo. Aqui, eles são aliados. A reedição da dobradinha é o caminho. Já temos dez partidos coligados”, pontuou.

Dilma pré-candidata

Apesar de considerar uma aliança com o MDB como caminho natural, Nilmário revelou que a possibilidade de Dilma disputar uma cadeira no Senado por Minas Gerais pode dificultar o entendimento entre as partes, uma vez que, com o PT encabeçando a chapa ao Governo, seria natural que o MDB pleiteasse a indicação de um quadro próprio para correr pelo Senado, representando a coligação. Em cenário conturbado, o petista afirmou que, inicialmente, chegou a ser contrário à movimentação de Dilma Rousseff, que transferiu seu título de eleitor do Rio Grande do Sul para Minas Gerais em tempo hábil de correr por uma cadeira parlamentar no Estado. “Estamos em um momento muito complicado, e trazer para Minas Gerais o debate nacional não seria bom. Mas mudei de ideia por conta do posicionamento do Aécio. Quando ele articulou a volta do Anastasia (o senador Antonio Anastasia, pré-candidato ao Governo do estado pelo PSDB), a discussão já estava nacionalizada. Não dependia mais da gente”, avaliou.

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Segundo Nilmário, no entanto, ainda não há uma definição sobre a candidatura de Dilma Rousseff ao Senado. Nas entrelinhas, o ex-deputado admitiu que há correntes dentro do diretório estadual do PT que entendem que uma candidatura de Dilma à Câmara poderia ajudar o partido a eleger um número maior de parlamentares federais, o que seria um dos principais objetivos da legenda nas eleições de outubro, além, é claro, de viabilizar o nome de Lula como postulante à Presidência da República, de forma que a sigla possa retornar ao Palácio do Planalto.

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