Elioterio defende novo modelo de saúde com foco na atenção primária

Candidato do PCdoB foi sabatinado nesta quinta e disse que cidade precisa romper com modelo hospitalocêntrico


Por Renato Salles

15/10/2020 às 20h05- Atualizada 15/10/2020 às 20h07

Primeiro candidato à Prefeitura de Juiz de Fora pelo PCdoB em toda a história, o servidor público federal Fernando Elioterio (PCdoB) foi o quinto entrevistado da série Voto & Cidadania, parceria entre as redações da Tribuna de Minas e Rádio CBN Juiz de Fora. A sabatina aconteceu nesta quinta-feira (15) e Elioterio teve a oportunidade de falar sobre suas propostas em áreas diversas, como educação, saúde, segurança, mobilidade urbana e desenvolvimento econômico e social. “Nosso projeto é inspirado no do Flávio Dino”, afirmou, citando o governador do Maranhão, uma das principais referências do PCdoB no país. Assim, o candidato destacou que, caso eleito, as duas principais preocupações do projeto defendido pelo partido para Juiz de Fora serão a educação e a saúde. No caso da saúde, ele propõe uma mudança de modelo e sugere maiores investimentos e foco redobrado nas ações de prevenção da atenção primária.

Candidato do PCdoB foi sabatinado nesta quinta e disse que cidade precisa romper com modelo hospitalocêntrico e avançar na prevenção à saúde (Foto: Fernando Priamo)

Sobre como levantar os recursos financeiros necessários para investimentos nas duas áreas, o candidato defendeu que a superação da crise, “que já existia e foi potencializada pela pandemia”, se dará com diálogo e com criatividade. “Juiz de Fora hoje é uma cidade sem rumo, que deixa de cumprir, por exemplo, o Estatuto da Cidade”, afirmou, para justificar que, por exemplo, seria possível conseguir recursos para investimentos em aparelhos públicos a partir de contrapartidas arcadas pela iniciativa privada, como compensação por impactos de vizinhança .provocados por grandes empreendimentos na cidade. “Temos hoje uma cidade desordenada. Temos que pactuar com toda a sociedade quais caminhos queremos para Juiz de Fora. Às vezes é preciso ser mais líder do que gestor.”

PUBLICIDADE

Concurso para professor

Após desejar um feliz Dia do Professor, Elioterio foi indagado pelos entrevistadores sobre suas propostas para a área de educação. O candidato assumiu publicamente a intenção de realizar concurso público para compensar o déficit de professores efetivos no quadro de pessoal do magistério municipal. “Defendemos que seja aberto um concurso geral para a contratação de professores efetivos. Não podemos admitir que, todo ano, sejam contratados, por meio de contratos precários, cerca de 2.600 professores. Isso gera uma descontinuidade imensa no trabalho da rede municipal. Temos isso como um ponto importante em nosso projeto.” Sobre a execução do concurso, o candidato se disse aberto ao diálogo com os educadores. “Temos que dialogar muito com o sindicato e os profissionais de educação. Eles precisam ser parte da discussão. Não podemos admitir perdas e precisamos defender os direitos dos profissionais da educação. A educação é fundamental para tudo.”

Escola aberta e volta às aulas

Elioterio falou ainda sobre o desejo de implantar um modelo ao qual chamou de “escola aberta” na rede municipal de educação. “A escola precisa ser um local de defesas dos direitos e aberta às famílias. Queremos uma escola aberta que funcione como um instrumento público para gerar conhecimento para toda a sociedade.” Sobre o retorno das aulas presenciais na rede municipal, suspensas por conta da pandemia, o candidato defendeu que a retomada só aconteça de forma integral mediante regras e protocolos seguros definidos por entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até lá, e mesmo após a pandemia, ele defende que a Prefeitura deve trabalhar para superar a exclusão digital vivenciada por boa parte dos alunos da rede pública e garantir aos professores as ferramentas necessárias para explorar as novas tecnologias a favor do aprendizado. “Precisamos preparar a rede para essa nova era digital.”

Negros periféricos

Elioterio ainda respondeu sobre o fato de só ter sido oficializado como pré-candidato à PJF após a desistência do advogado João Vítor Garcia em encabeçar o projeto do PCdoB. “A candidatura já vinha sendo discutida desde o ano passado. Já havia esse entendimento. Com a chegada do João Vítor no partido, naturalmente, por sua experiência, abri mão da candidatura. Mas já vinha sendo preparado como candidato a vice-prefeito”, afirmou, considerando o lançamento de seu nome como um processo natural dentro da legenda. Neste sentido, defendeu ainda todo o simbolismo em torno do projeto do partido para Juiz de Fora, que tem como candidatos a prefeito e vice-prefeito dois homens negros e de periferias da cidade. “A última vez que tivemos um candidato negro de periferia foi em 1988, no caso o Jorge Lima (candidato pelo PT, à época).

Foco na atenção primária

“Precisamos sair de um modelo hospitalocêntrico e partir para um modelo de prevenção”, argumentou o candidato. Neste caso, Elioterio defende especificamente que o foco da gestão e também da destinação de recursos públicos seja revisto, de forma gradativa. “Queremos investir na atenção básica. Hoje, a cada R$ 10, R$ 8 vão para média e alta complexidade. Essa lógica precisa ser invertida. A medida em que você investe mais na atenção primária, você tem recursos para cuidar da saúde como um todo, pois economiza aquilo que é mais caro, que é a saúde de média e alta complexidade. Não é um trabalho de curto prazo, mas isso precisa ser iniciado.” Também defendeu uma ampliação dos equipamentos da rede pública de saúde e a expansão do Programa Saúde da Família na cidade.

Mobilidade urbana

O candidato afirmou que quer “um sistema com foco no usuário”. “Temos que ter um sistema que possa ser tão bom que as pessoas prefiram deixar o carro em casa. Esse sistema atual está falindo. Precisamos pactuar um novo modelo em diálogo com a sociedade.” Neste sentido, Elioterio defendeu, como um exemplo da reestruturação que pretende adotar, o uso de veículos menores para cobrir o atendimento a algumas localidades. O candidato sinalizou ainda o interesse de rever o atual contrato de licitação em vigência para a prestação do serviço, o que pode resultar em, até mesmo, o rompimento da licitação vigente. Tudo dialogado com as partes envolvidas, como a sociedade e o empresariado. Disse até mesmo estar aberto a dialogar com a sociedade sobre a possibilidade de municipalização da atividade.

Plataforma antirracista

Negro de periferia, Elioterio considerou que a adoção de ações afirmativas é um tema muito caro para o projeto apresentado pelo PCdoB como opção para a Prefeitura de Juiz de Fora, como a implementação de uma plataforma municipal antirracista. “A juventude negra é a que mais sofre na periferia, vive uma abordagem diferente da vista no Centro ou em um bairro de classe média alta. Precisamos mudar essa mentalidade. Precisamos, inclusive, que as escolas aprofundem esse tema, para que possamos minimizar esse sofrimento.”

O conteúdo continua após o anúncio

Desenvolvimento econômico

Para Elioterio, a saída para contornar a crise financeira pela qual passa o Município, que deve fechar o ano com um déficit fiscal de R$ 150 milhões, também passa pela criatividade e pela liderança do futuro prefeito. “Temos em Juiz de Fora um potencial turístico fantástico, que, a meu ver, é pouco explorado”, exemplificou, citando a busca de parcerias para a recuperação de pontos turístico. Também defendeu a definição de planejamentos estratégicos e emergenciais para a cidade, de forma sustentável. Sobre a geração de empregos, além da busca por soluções para a atração de novos investimentos, Elioterio voltou a defender “o diálogo com todos os setores”. “Mas a pandemia também nos mostrou que temos que voltar os nosso olhos para o desenvolvimento do comércio local e regional. Na nossa Administração, vamos trabalhar a descentralização da Prefeitura do ponto de vista financeiro, com um orçamento participativo e aberto com a sociedade. Queremos diálogo com todos, com pequenos e médios empresários e também com os grandes, para que possamos achar uma saída juntos.”

Tópicos: eleições 2020

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.