Antônio Almas não vai tentar a reeleição
Prefeito anuncia que está fora da disputa em novembro; decisão foi motivada em grande parte por razões pessoais
Prefeito de Juiz de Fora, Antônio Almas (PSDB) anunciou, nesta quarta-feira (12) que não será candidato à reeleição no pleito municipal que acontece em novembro. A decisão foi informada durante entrevista coletiva à imprensa realizada no Teatro Paschoal Carlos Magno após o prefeito informar sua equipe sobre sua resolução. Almas considerou o comunicado como uma “satisfação à cidade”, em meio às especulações sobre seu futuro político que cresceram nas últimas semanas.
“Quero fazer uma comunicação a Juiz de Fora. Acho que devo essa satisfação à cidade que, há quatro anos, nos trouxe a assumir a Prefeitura. Há dois anos e quatro meses, o prefeito Bruno renunciava, e eu assumia neste momento tão difícil da história de Juiz de Fora. Assim quis o destino. Preciso externar à cidade qual a minha decisão enquanto coordenador da equipe que comanda a Prefeitura. Quero comunicar a todos que o prefeito Antônio Almas não disputará as eleições”, sentenciou.
Pesou para a decisão de não tentar a reeleição aspectos pessoais. “Não foi uma decisão só minha. Foi tomada após conversas com muitas pessoas e também ouvindo os desejos da minha família. Estar no mundo da política nem sempre é recebido de forma positiva por amigos e familiares, pois eles se sentem agredidos com a forma virulenta e agressiva como a sociedade tem se comportado hoje. Esta série de fatos me levaram à decisão de não ser candidato”, pontuou Almas, destacando ataques sofridos nas redes sociais.
O prefeito, assim, considerou que a definição não se deu por conta dos desafios enfrentados até aqui à frente da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). “Os desafios do ponto da gestão, do déficit atuarial da Prefeitura, da manutenção de uma folha de pagamento que hoje custa mais de 50% daquilo que a Prefeitura arrecada, não me levariam a deixar de ser candidato, mas sim a agressividade das redes sociais que atingem especialmente à minha família e que passou dos limites do que considero aceitável.”
Dor e agradecimento
O prefeito ressaltou que a pandemia e a tomada de decisões necessárias para o enfrentamento ao coronavírus agravaram os ataques, uma vez que todas as medidas implicavam resultados diversos, que, muitas vezes, traziam prejuízos pontuais para alguns setores.
“Daí, a insinuar que eu, enquanto pessoa, esqueci das minhas origens e esqueci que meu pai, com a barriga em um balcão (o pai dele era comerciante), me fez médico, não dá”, disse, emocionado, ao rechaçar que as decisões da Prefeitura não minimizaram a incidência de mortes por Covid-19 na cidade. “Ser prefeito trouxe muita dor. Mas quero dizer: muito obrigado, Juiz de Fora, pela possibilidade de ser prefeito da terra em que nasci”, resumiu.
Administração sem candidato oficial
No último domingo, a Tribuna já havia antecipado manifestação do prefeito liberando os partidos de sua base de apoio para trabalhar candidaturas próprias ou mesmo conversar com outras siglas para composições em projetos encabeçados por outros pré-candidatos, reforçando que não desejaria que sua indefinição atrapalhasse os planos dos partidos que hoje integram o núcleo e o entorno do Governo municipal.
Na ocasião, o próprio prefeito afirmou à reportagem que uma decisão sobre uma candidatura à reeleição deveria ficar para o mês que vem, perto do prazo limite definido pelo calendário eleitoral para a realização de convenções partidárias para a oficialização das candidaturas. A movimentação foi considerada por muitos atores políticos como uma forte sinalização de que Almas estaria fora da disputa, o que foi confirmado nesta quarta. Segundo as regras vigentes, tais discussões precisam ser celebradas entre os dias 31 de agosto e 16 de setembro.
Durante a entrevista coletiva, Almas disse que abreviou o anúncio da decisão para não atrapalhar o seu partido, o PSDB, a definir qual caminho será seguido nas eleições de novembro. Todavia, Almas reforçou que a Administração municipal e o grupo político que uniu forças em 2016 para eleger a chapa formada por ele e o ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB) não terá uma candidatura oficial nas eleições de novembro. Vale lembrar que várias das legendas que integraram o projeto vitorioso nas urnas em 2016 já têm negociações em andamento para o lançamento de uma candidatura própria.
Números da PJF estarão disponíveis
“O meu partido vai continuar discutindo a sucessão municipal. A Prefeitura hoje não tem candidato. A Administração municipal continuará focada nos trabalhos e desafios até o dia 31 de dezembro. Nossa administração é composta por vários partidos. Continuaremos trabalhando nesta perspectiva. Quero dizer que os números da Prefeitura estarão abertos para todos os candidatos, para que os candidatos possam fazer, durante as eleições, uma grande discussão sobre a cidade real e não sobre projetos fictícios e de propostas fora da realidade. É preciso entender todas as dificuldades que a cidade enfrenta”, afirmou Almas.
Assim, não é correto avaliar que ocorra uma transferência do potencial eleitoral de Almas – ou do desgaste acumulado pelo prefeito no exercício da Administração municipal – para qualquer candidato. Em levantamento publicado pela Tribuna na última terça-feira, realizado pela Akros Pesquisa, o prefeito computou 5,2% das intenções de voto na consulta estimulada, integrando bloco intermediário entre os 13 pré-candidatos colocados como opções no estudo.
Tucano é o 2º prefeito a abrir mão de reeleição
Eleito vice-prefeito na chapa encabeçada por Bruno Siqueira (MDB) nas eleições de 2016, Almas foi alçado à condição de prefeito em abril de 2018, quando Bruno renunciou ao seu segundo mandato para tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), sem, todavia, obter sucesso nas urnas.
Almas assumiu a cadeira em 6 de abril de 2018, quando, então vice-prefeito, foi empossado no principal cargo político da cidade. Até o anúncio de que não irá disputar a reeleição, ele ocupou o cargo por dois anos e quatro meses. Ele assumiu a função com o compromisso de dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo ex-prefeito Bruno Siqueira e ampliar o foco no diálogo e na atuação social. À época com 60 anos, o médico e ex-servidor da PJF se tornou 23º prefeito de Juiz de Fora desde 1931.
Desde que as regras eleitorais permitiram a reeleição de detentores de mandatos eletivos por mais um período, a partir de 1997, a maioria dos ocupantes do cargo que gozavam de tal prerrogativa se aventuraram na disputa eleitoral. O primeiro deles foi o ex-prefeito Tarcísio Delgado (PSB). À época no MDB, Tarcísio foi reeleito em 2000, após ter sido eleito em 1996.
Eleito em 2004, à época no PTB, o também ex-prefeito Carlos Alberto Bejani (PSL) não chegou ao fim do mandato após se ver envolvido em suspeitas de corrupção. Sua saída elevou o então vice-prefeito José Eduardo Araújo, à época no PV, à condição de prefeito, que se absteve de disputar a reeleição em 2008, pleito em que Custódio Mattos – então no PSDB e hoje no Cidadania -, acabou eleito.
Custódio tentou a reeleição em 2012, mas acabou até mesmo fora do segundo turno do pleito vencido por Bruno Siqueira, que, quatro anos mais tarde, seria o segundo prefeito de Juiz de Fora – o segundo também pelo MDB – a afiançar sua reeleição nas urnas. Com a renúncia de Bruno, Almas foi elevado à prefeito, mas, assim como fizera o outro vice-prefeito elevado à condição de chefe do Executivo desde que foi adotada a possibilidade de reeleição, abre mão de entrar na disputa por mais quatro anos mandato.
Tópicos: eleições 2020