Retomada do desenvolvimento econômico é desafio para nova gestão

Lideranças apontam demandas para recuperação econômica diante do cenário de redução de emprego e renda


Por Gracielle Nocelli

08/11/2020 às 07h00

A retomada do desenvolvimento econômico de Juiz de Fora é um dos principais desafios para a próxima gestão municipal. O crescimento da economia passa pela geração de emprego e renda, indicadores que sofreram retração ao longo de 2020, sobretudo, em decorrência da pandemia da Covid-19.

Entre janeiro e setembro, Juiz de Fora perdeu 6.039 empregos formais, diferença entre as admissões e as demissões feitas no período. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cage), divulgados pelo Ministério da Economia.

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No ano passado, a cidade mantinha uma média salarial de R$ 2.630,20 para o trabalhador com carteira assinada. O valor era 16,6% inferior à média paga no Brasil, de R$ 3.156,02, conforme informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2019. Com o aumento do desemprego e a escassez de oportunidades no mercado formal, a tendência é que a renda das famílias reduza ainda mais este ano.

A busca dos juiz-foranos pelo auxílio emergencial, que varia de R$ 300 a R$ 600, evidencia esta realidade. Só em agosto, 115.601 pessoas receberam o benefício, responsável por injetar quase R$ 70 milhões na economia local naquele mês, conforme levantamento feito pela Tribuna junto ao Portal da Transparência do Governo federal.

Outro dado que exemplifica a queda na renda é a inadimplência dos consumidores. A cidade teve 100.496 pessoas negativadas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), entre janeiro e julho, conforme dados da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL-JF). Deste total, 12.384 foram incluídos na lista de restrição durante o período da pandemia.

Entre janeiro e setembro, Juiz de Fora perdeu 6.039 empregos formais; média salarial, verificada no ano passado, é 16,6% inferior à nacional (Foto: Fernando Priamo)

Ações estruturantes
O pagamento do auxílio emergencial é apontado como um paliativo que tem contribuído para movimentar a economia do município, mas os setores produtivos temem a realidade após o término da medida. Por isso, apontam a necessidade de ações estruturantes capazes de reerguer a economia local e fortalecê-la rumo à retomada do desenvolvimento.

Infraestrutura é a principal demanda do comércio e serviços

Considerados vocações econômicas de Juiz de Fora, os setores de comércio e serviços amargam grandes perdas, que culminaram no fechamento de estabelecimentos e na redução da empregabilidade.

Antes da pandemia, os segmentos já enfrentavam uma fase de retração, reflexo da crise econômica no país. A situação se agravou com a interrupção das atividades por conta do isolamento social. Entre janeiro e setembro, foram encerrados 2.919 postos de trabalho no setor de serviços.

Realidade semelhante foi observada no comércio, que fechou cerca de 400 lojas e perdeu 2.755 vagas. “É um ano que está sendo muito difícil. O lucro já foi embora. Quem continua na ativa busca minimizar os efeitos da crise”, diz o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), que também representa parte do setor de serviços, Emerson Beloti.

Demanda
Para reerguer os setores e mantê-los como referência para os consumidores da região, são necessárias melhorias de infraestrutura. “A organização e a forma como a cidade se apresenta interferem diretamente na nossa atividade. As condições de limpeza, iluminação e asfalto das ruas impactam o nosso dia a dia. É preciso cuidar dessa imagem e oferecer segurança para poder atrair consumidores”, avalia o presidente da CDL-JF, Marcos Casarin.

Compartilhando da opinião, Beloti ressalta que alguns pontos merecem atenção redobrada, como a Avenida Getúlio Vargas, no Centro. “Precisamos de uma gestão pública eficiente, visionária e com foco no desenvolvimento como um todo. O comércio e os serviços são parte desta engrenagem.”

Indústria aposta na desburocratização para crescer

A indústria também sentiu os impactos da pandemia da Covid-19, no entanto, tem demonstrado reação mais rápida com o aquecimento de segmentos específicos, como construção civil, móveis, alimentos e bebidas.

Mas ainda é cedo para se falar em retomada do crescimento. “Para que isso aconteça, é necessário o suporte do Poder Público na desburocratização de processos e no fortalecimento da cadeia produtiva”, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Regional Zona da Mata, Heveraldo Lima.

Ele acredita que, por meio da atração de novos investimentos e do apoio às indústrias já instaladas na cidade, será possível aumentar o emprego e a renda. “O crescimento de um setor alavanca os demais, pois estamos todos interligados.”

O presidente do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon-JF), Aurélio Marangon, concorda. “O nosso segmento vive um período de aquecimento motivado pela redução das taxas de juros e ofertas de linhas de financiamento, mas ainda encontramos entraves como a demora na aprovação de projetos. A desburocratização é fundamental para a nossa retomada.”

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Articulação entre setores e municípios

Na posição de polo regional da Zona da Mata, o diálogo entre Juiz de Fora e os demais municípios também é necessário, conforme explica o diretor do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), Ignácio Delgado. Para ele, a articulação entre a cidade e o entorno deve ocorrer no sentido de dinamizar a economia da região.

Esta dinamização também passa pelo entrosamento do Poder Público com a esfera privada, o ensino e a pesquisa. “Temos instituições na cidade que realizam um trabalho sólido, mas que pouco dialogam com as empresas”, analisa. “Nós temos setores, como o têxtil e o da agropecuária, que só irão se reinserir de forma competitiva no mercado se conseguirem agregar tecnologia, inovação. Este entrosamento é fundamental.”

O diretor explica que, a partir deste trabalho, será possível promover emprego e renda. “Por muito tempo, a principal estratégia de desenvolvimento tem sido trazer novos investimentos. Mas temos visto que muitos dos que chegaram aqui não promoveram uma liga consistente na economia, pois os fornecedores não eram locais. É preciso pensar no todo. Setores intensivos em tecnologia fortalecem a cadeia e criam oportunidades.”

Plataforma de bioquerosene

Ignácio Delgado aponta o projeto da Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata como uma ação estruturante que irá contribuir neste processo. “É um programa que associa a recuperação da área rural com a tecnologia, abrindo caminho para que no futuro possamos ser polo em energia renovável”, diz. “Precisamos de mais ações similares em outras áreas. Na saúde, por exemplo, temos muito potencial para pensar projetos inovadores que alinhem o Poder Público, a iniciativa privada e as instituições de ensino.”

Qualidade de vida impacta na economia

Além de ações específicas para os setores, as lideranças afirmam que a melhoria na qualidade de vida dos cidadãos também impacta positivamente os negócios. “As empresas trabalham com pessoas que precisam de creche para os filhos, transporte de qualidade, iluminação pública e segurança nas ruas. Oferecendo isso aos cidadãos, o Poder Público também ajuda na economia”, diz o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Heveraldo Lima.

Para assegurar esses direitos aos cidadãos, o médico e presidente da Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região, Célio Chagas, afirma que a próxima gestão municipal deverá realizar um trabalho técnico. “A pandemia da Covid-19 trouxe problemas econômicos para todos os municípios, mas ela é apenas um dos nossos desafios. A realidade da cidade está difícil em vários aspectos. Todas as áreas precisam de atenção.”

Para Célio, o desenvolvimento econômico passa por uma “gestão técnica e profissional”, visando a garantir melhorias na qualidade de vida dos juiz-foranos.

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