A oposição vive seu melhor momento


Por Tribuna

03/01/2015 às 07h00- Atualizada 06/01/2015 às 08h32

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Candidato descarta uma possível candidatura à Prefeitura de Juiz de Fora

Presidente estadual do PSDB e seguindo para seu segundo mandato na Câmara dos Deputados, Marcus Pestana (PSDB) prevê um ano destacado para seu partido nas oposições aos governos da presidente Dilma Rousseff (PT) e do governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Sem meias palavras, o deputado federal juiz-forano já sai em campanha do senador Aécio Neves (PSDB) que deve voltar a disputar a Presidência em 2018. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o parlamentar admitiu, pela primeira vez, que houve falhas estratégicas na campanha de Pimenta da Veiga (PSDB) ao Governo, o que custou a seu partido o final da hegemonia de 12 anos do PSDB à frente do Executivo estadual. Com uma atuação de abrangência mais estadual, após ocupar pastas importantes no Estado em um passado recente, Pestana descartou a possibilidade de se colocar como candidato à Prefeitura de Juiz de Fora, mas deixou em aberto uma possível candidatura ao Palácio Tiradentes daqui a quatro anos.

Tribuna – Após 12 anos, o grupo político encabeçado pelo senador Aécio Neves irá deixa o Palácio Tiradentes. Agora no campo de oposição nas esferas nacional e estadual, o que o senhor espera dos futuros governos do PT?

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Marcus Pestana – Democracia pressupõe alternância de poder. Ditaduras como Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, onde os governos se perpetuam, perdem vitalidade. Aécio e Anastasia deixam uma herança de transformações profundas e exemplos reconhecidos no Brasil e no mundo. Agora, chegou a vez de o PT mostrar serviço. O papel que a sociedade nos deu é o de oposição. Isso também é fundamental na democracia, embora, no plano nacional, esperemos que esse ciclo se encerre em 2018, com Aécio (Neves, senador, PSDB) eleito presidente. A gestão do PT levou a federação brasileira a uma crise profunda, que afeta os estados. Isso em função da ação do Governo federal, que decretou um crescimento medíocre da economia, o que impacta no ICMS. Esse “pibizinho” da Dilma (Rousseff, presidente, PT) afeta diretamente nos estados. Por outro lado, houve a criação de obrigações formais ou não formais para estados e municípios em áreas como educação e saúde, por exemplo. No Governo FHC (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, PSDB), 56% dos gastos do SUS eram provenientes do Governo federal. Hoje, este investimento está na casa dos 46%. A corda arrebenta nas mãos de prefeitos e governadores. É urgente discutir uma reforma tributária e fiscal acompanhada pelo redesenho do pacto federativo. É impossível governar um país continental e diversificado como o Brasil com o grau de centralização imposto pelo atual Governo federal.

– O senhor chegou a se colocar como pré-candidato ao Governo, mas acabou declinando a favor da candidatura de Pimenta da Veiga (PSDB), que não conseguiu o desempenho esperado nas urnas. O senhor acredita que o PSDB errou na escolha do nome de seu candidato em Minas?

– O Pimenta é um grande político, foi ministro e prefeito da capital, mas estava há 12 anos afastado da vida pública e não acompanhou a par e passo os governos de Aécio e Anastasia (Antonio Anastasia, PSDB, ex-governador eleito para o Senado). Isso provocou um estranhamento entre a opinião pública e nossa campanha. Poderíamos ter tido um outro desempenho. A perspectiva inicial era de uma vitória nossa, mas aconteceu um impasse em nosso grupo. Tínhamos três candidaturas: a minha; a do presidente da ALMG, Dinis Pinheiro (PP); e a do Alberto Pinto Coelho (ex-governador que deixou o cargo no último dia 1º, PP). Com o impasse, a direção partidária coordenada por Aécio e Anastasia optou por um quarto nome. Foi uma saída de manual, que não funcionou bem. Não foi apenas um problema do desempenho individual do candidato. A campanha cometeu erros de estratégia. O adversário (Fernando Pimentel, governador, PT) foi o melhor candidato que o PT teve em sua história. Foi prefeito da capital, ministro e não é um petista radical. Tem uma pinta que o aproxima dos tucanos. Assim, seduziu uma parcela do nosso eleitorado. Sei de amigos petistas que houve comemorações do adversário quando retirei minha candidatura. Nossos erros somados às virtudes do Fernando construíram o resultado.

– Com a saída do Governo estadual, o PSDB perdeu uma linha de diálogo direto com o eleitor juiz-forano. Qual posicionamento o senhor acha que o partido deve seguir na sucessão municipal em 2016?

– Ainda não é hora de falar das eleições de 2016. A população tem horror desse hábito que, às vezes, passa a ideia de que alguns políticos só pensam em eleição. A população quer saber de trabalho para melhorar a vida das pessoas. O Geraldo Alckmin (governador de São Paulo, PSDB) fala muito que só dois sujeitos são ansiosos em relação aos embates eleitorais: os políticos e os jornalistas que cobrem política. O povo não está preocupado com isso. O ano de 2015 será duríssimo, com uma crise econômica profunda e uma crise ética e moral que só está começando a vir à tona. Será uma combinação explosiva de sociedade inquieta e crises econômica, ética e moral. A gente não sabe que país vai sobrar em dezembro de 2015. O momento do conversar sobre eleição municipal é o primeiro trimestre de 2016. Temos diálogo permanente com o Bruno (Siqueira, prefeito, PMDB) e com o PMDB de Juiz de Fora, temos participação na Administração municipal e fazemos parte da base do prefeito na Câmara. Temos também muitos nomes para ser candidato, caso caminhemos para uma candidatura própria. E temos interlocução com outras forças, como é o caso do próprio Júlio Delgado (deputado federal candidato à Presidência da Câmara, PSB). No momento certo, o PSDB vai construir sua estratégia.

– Reforçando sua reflexão de que jornalista é quem gosta de antecipar o processo eleitoral, há a possibilidade de o senhor sair candidato à Prefeitura?

– Gosto do pensamento do filósofo espanhol José Ortega Y Gasset que trata do homem e suas circunstâncias. Não existo sem minhas circunstâncias. Eu quis ser candidato a prefeito em 1996. À época, era secretário de Governo do Custódio Mattos (ex-prefeito, PSDB), e fizemos uma administração muito positiva. Conhecia a cidade como a palma da minha mão. Sabia onde estava cada problema. Mas, ironicamente, fui convidado para ser a Secretaria de Estado de Planejamento em 1995 e me mudei para Belo Horizonte. Desde então moro na capital. Venho sempre a Juiz de Fora. Minha família e meus melhores amigos estão aqui, na cidade que é minha pátria e meu chão. Entretanto, uma candidatura à Prefeitura neste momento seria uma ideia fora de lugar. Minha atuação como secretário de Saúde e como dirigente partidário me deu uma dimensão estadual. O destino não construiu este horizonte.

– Estaria o destino traçando um caminho para uma candidatura de Marcus Pestana ao Governo em 2018?

– Aí, ainda temos pela frente 2015, 2016 e 2017. Tudo é possível.

– O PSDB caminha para apoiar o deputado juiz-forano Júlio Delgado à Presidência da Câmara. Ele tem também o seu apoio?

– Fizemos uma aliança com o PSB no segundo turno das eleições nacionais. Houve um grande entrosamento entre Aécio e Marina (Silva, PSB). Fizemos um embate que nos provocou um sentimento de convergência e unidade. Tanto que o PSB, logo depois da eleição, deixou muito claro que fará parte do bloco de oposição. A candidatura do Aécio reciclou o PSDB e as oposições. A autoestima de ser tucano voltou. O FHC foi reabilitado para a história. Quem produziu as grandes manifestações de rua foi o PSDB e a oposição, enquanto o PT fazia evento fechado. Construímos uma identidade nova personificada no Aécio. Isso, por exemplo, resultou na cassação do André Vargas (deputado federal cassado em dezembro), que, não fosse a firmeza das oposições, não ocorreria. Há duas candidaturas na órbita do Governo, e resolvemos construir uma candidatura alternativa que representa uma visão programática e republicana. Hoje, isso está representado pela candidatura do Júlio Delgado. Ele vai nos representar na defesa de duas questões básicas: da soberania e autonomia do Congresso com poder central na democracia brasileira, para não ser um anexo do Palácio do Planalto, e da questão ética que é imperativo da realidade num país tão conturbado, onde a desilusão da sociedade com a esfera pública pode levar a uma crise grave no futuro.

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– Como deputado federal, qual seu compromisso com a Zona da Mata?

– Tive uma participação importante na construção da agenda de desenvolvimento regional da Zona da Mata, que foi um primeiro passo para ter êxito neste empreendimento, ainda mais porque se trata de algo que precisa de ação de múltiplas instituições, partidos e atores políticos. Neste sentido, tivemos a assinatura do contrato definitivo que vai alavancar o aeroporto (Presidente Itamar Franco, em Goianá). Há uma série de ações concretas, como a estrada para o aeroporto, que já começaram a sair do papel. Eu procurei fazer minha parte. Não só com a alocação de emendas como as destinadas para a construção do parque tecnológico da UFJF. Apresentei um projeto estratégico que propõe uma nova saída da BR-040, ligando Monte Verde até a Via Dutra (ainda em tramitação na Câmara), economizando 70km e abrindo um novo eixo de desenvolvimento. Procurei agir com meu prestígio no Governo estadual para que as metas fossem alcançadas.

– Qual o balanço de seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados?

– Cheguei com uma bagagem maior que um simples estreante. Já havia estado por quatro anos em Brasília, com passagens pelos ministérios das Comunicações e do Meio Ambiente. Assim, tinha prévia convivência no Congresso. Já tinha experiência parlamentar aqui, na Câmara Municipal, e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Isso tudo facilitou muito. Por outro lado, no Congresso, você tem que ter foco. Então, selecionei três temas para dar uma maior ênfase: saúde, administração pública e economia. Optei também por não assumir cargos no primeiro mandato e ter a humildade de aprender com pessoas mais experientes. Estava na Presidência do PSDB-MG e tinha uma tarefa importante na construção da candidatura à Presidência do Aécio. Assim, resolvi não me candidatar à liderança ou à Presidência de comissão. Mesmo sem um cargo formal, fui um militante com grande influência na formação da opinião da bancada do PSDB.

– O que espera deste segundo mandato?

– Me sinto mais maduro e preparado. Há o reconhecimento do ranking da “Veja”, que apontou meu nome como melhor deputado na defesa de valores como a economia de mercado, a queda da carga tributária e a modernização do estado. A oposição vive seu melhor momento desde a derrota de 2002. Nunca vi uma derrota tão comemorada como a do Aécio e nem um vitorioso tão acuado com suas batatas como a Dilma (Rousseff, presidente). Ela não comemorou a vitória, pois está acuada por uma crise moral e econômica. O Aécio virou a personificação de um sentimento de mudança que move a população brasileira. Com o aprofundamento do escândalo da Petrobras, não sei se a Dilma venceria o Aécio se a eleição fosse feita hoje.

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