Sindtanque-MG adere a manifestação de caminhoneiros

Entidade aponta para possibilidade de desabastecimento até que o presidente Jair Bolsonaro se pronuncie sobre vitória de Lula


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

31/10/2022 às 15h44- Atualizada 01/11/2022 às 07h55

O Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Sindtanque-MG) aderiu à manifestação dos caminhoneiros, que bloqueia rodovias em diversas partes do país. Segundo o presidente do sindicato, Irani Gomes, o bloqueio vai permanecer até que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifeste publicamente acerca da vitória de Lula (PT), anunciada no último domingo (30).

Falando à Tribuna, o presidente do sindicato não descartou a possibilidade de desabastecimento de combustíveis em todo o estado de Minas Gerais. “Estamos sem informação nenhuma do nosso presidente Jair Bolsonaro, então vamos parar, cruzar os braços até ele se posicionar.” De acordo com ele, a paralisação segue por tempo indeterminado e o desabastecimento pode ocorrer nos próximos dias. Até o momento, o Sinditanque afirmou que ainda não há como mensurar os impactos da paralisação.

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Pela manhã, o mesmo sindicato havia se posicionado contrário aos bloqueios de estradas, mas, segundo Irani, isso só ocorreu porque a entidade não havia se reunido em assembleia. O presidente do Sindtanque também reforça a unanimidade da decisão. “Todo mundo se sente representado. Nós não concordamos com a forma na qual essas eleições foram feitas. Foi divulgado que o Exército ia acompanhar a apuração, mas após as eleições não houve manifestação nenhuma, nem do Exército, nem do Bolsonaro.”

Divergências no movimento

Diferente de Irani, ao menos três representantes de caminhoneiros se pronunciaram dizendo que os protestos não refletem a maior parte da demanda das categorias. Os protestos incluiriam manifestantes que não são caminhoneiros, segundo os líderes. O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, afirmou que não vê 100% da categoria representada. “São pessoas que estão descontentes com o resultado das eleições. A gente está tentando levantar de onde está saindo o movimento”, disse em matéria divulgada pela Agência Estado.

Em relação às imagens que circulam em grupos de WhatsApp e redes sociais, que falam em intervenção militar para reverter o resultado do pleito, Chorão foi categórico: “Fico muito triste de muitas pessoas usarem o nome dos caminhoneiros. Não luto e nunca vou lutar contra a democracia do país. Minha linha é mais de pacificação, conversar, dialogar e unificar o país.”

Em Muriaé, a manifestação ocorre na BR-116, na altura do km 702, também com interdição parcial (Foto: Silvan Alves)

Bloqueios por todo Brasil

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ainda não há bloqueios em Juiz de Fora, porém, cidades da Zona da Mata, como Muriaé e Manhuaçu, já foram alcançadas pela paralisação. Em Manhuaçu, o bloqueio ocorre na BR-262, com interdição parcial na altura do km 50, e na BR-116, no entroncamento com o km 590, causando congestionamento na estrada. Em Muriaé, a manifestação ocorre na BR-116, na altura do km 702, também com interdição parcial.

A PRF também informou que um pequeno grupo de caminhoneiros interdita parcialmente a BR-040, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, por volta das 19h30. O bloqueio ocorria no km 109, sentido Juiz de Fora, próximo ao entroncamento com a Rio-Magé. O grupo ocupa parcialmente as pistas central e lateral, sendo acompanhado pelos policiais. A retenção se estende até o km 123. Até o momento, a pista sentido Rio de Janeiro seguia operando com normalidade.

Em Minas Gerais, segundo atualização da PRF às 19h desta segunda-feira, 17 cidades registravam bloqueios: Ipatinga, com interdição parcial na BR-381, no km 258; Betim, com interdição total na BR-381, no km 485; Patrocínio, com interdição parcial na BR-365, nos kms 471 e 476; Uberaba, interdição parcial na BR-050, nos kms 176 e km 179; Patos de Minas, interdição total na BR-365, no km 406; João Pinheiro, na BR-040, no km 145; Prata, interdição total na BR-153, km 112; Uberlândia, interdição parcial na BR-050, no km 85; Bom Despacho, interdição parcial na BR-262, km 480; João Monlevade, interdição parcial na BR-381, km 361, Jaguaraçu, interdição parcial na BR-381, no km 278; Três Marias, interdição parcial na BR-040, no km 275; Governador Valadares, com interdição total na BR-381, no km 410; Nova Serrana, interdição total na BR-262, no km 447 e em Perdões, com interdição total na BR 381, no km 678.

As manifestações de caminhoneiros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro acontecem em escala nacional, desde a noite de domingo. Ao menos 11 estados já confirmaram pontos de interdições em estradas e, nas redes sociais, circulam vídeos de fechamentos de rodovias, incluindo barricadas com fogo em pneus. Além de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina e Bahia estão entre os estados que passam pelo problema. No Rio de Janeiro, outro local com manifestação, um bloqueio na Rodovia Presidente Dutra, no município de Barra Mansa, no Sul do estado, causa congestionamento.

Atraso na volta para casa

O jornalista José Abramo teve sua viagem de volta para casa atrasada em mais de 12 horas por conta dos bloqueios na rodovia. Ele saiu de Juiz de Fora às 22h de domingo (30) com destino a São Paulo. Segundo ele, a previsão era de que o ônibus chegasse à Rodoviária Tietê às 6h. No entanto, na altura de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, o ônibus ficou preso em um congestionamento na Rodovia Presidente Dutra. “Por volta de 1h meu ônibus parou, a princípio achei que era alguma fiscalização e voltei a dormir. Mas quando acordei já eram 3h e nós ainda estávamos no mesmo lugar. Aí que fui ver que era um protesto dos caminhoneiros.”

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O jornalista optou por descer da condução e pegar um outro ônibus com destino à cidade do Rio de Janeiro. O plano era pegar um voo para São Paulo. “Ao longo de todo trajeto observei interdições na via, mas no sentido contrário. Até que chegou em Nova Iguaçu e um caminhão cruzou a pista e parou. Nós ficamos cerca de 30 minutos parados até que a Polícia chegou e desmobilizou a interdição.”

Por volta das 17h desta segunda, quando conversou com a reportagem, João Abramo ainda estava no Aeroporto Santos Dumont aguardando embarque para São Paulo. “Uma viagem que duraria 6 horas e eu estou aqui, torcendo para chegar em casa ainda hoje.”

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