Decreto permite redução de ICMS sobre querosene de aviação

Medida pode até zerar cobrança do imposto caso companhias aéreas cumpram contrapartidas


Por Gabriel Magacho, estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa

18/02/2023 às 21h00- Atualizada 18/02/2023 às 21h32

Companhias que quiserem o benefício terão de cumprir contrapartidas como, por exemplo, ter voos regulares em 14 municípios mineiros (Foto: Fernando Priamo/ Arquivo TM)

Com o intuito de incentivar a expansão do setor aéreo no estado, o Governo de Minas Gerais publicou, no fim do mês de janeiro, um decreto que prevê a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado sobre o querosene de aviação (QAV) revendido às companhias aéreas brasileiras nos aeroportos mineiros. A medida, que exige uma série de contrapartidas das empresas, pode até mesmo zerar a alíquota do imposto, que atualmente consta em 18%. A isenção completa, todavia, prevê o cumprimento de todos os requisitos listados pelo dispositivo. As aéreas que aderirem parcialmente às condições também podem receber redução do imposto, que pode vir a incidir entre 2% a 7%.

Dentre as regras gerais que definem as contrapartidas, é necessário que as aéreas cumpram um ou mais dos seguintes itens: possuir um centro de manutenção de aeronaves no estado; ter, no mínimo, 80 decolagens diárias do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte; ter voos regulares em 14 municípios mineiros; além da operação de voos internacionais a partir do estado com aviões de corredor duplo, que carregam em média 200-300 passageiros em seu interior. Para conseguir a isenção total do ICMS na compra do QAV, todavia, é necessário que as empresas cumpram com todos os itens listados acima até o fim do ano. De acordo com a Secretaria de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG), até o presente momento, somente a Azul Linhas Aéreas está em processo de assinatura do protocolo de intenções com o Estado.

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Mesmo que os requisitos exigidos pelo Executivo estadual, de certa maneira, não sejam suficientes para contemplar todas as particularidades operacionais das aéreas que operam em Minas Gerais, a concessão de benefícios fiscais para o setor é sempre vista de maneira benéfica pelo mercado, na visão do doutor em engenharia de transportes e idealizador do perfil no Instagram “Papo de Aeroporto”, Rafael Castro. “O Brasil é o único país do mundo que possui um imposto estadual sobre o querosene de aviação. Esse fato, somado aos aumentos que aconteceram nos últimos anos e à dolarização do combustível (mesmo que mais de 93% do que consumimos seja produzido no próprio Brasil), faz com que nós tenhamos um dos QAVs mais caros do mundo. O combustível responde, hoje, por cerca de 40% dos custos globais das empresas aéreas brasileiras, então programas de redução do ICMS são vistos com muito bons olhos pelo mercado”, analisa.

Ainda durante o mês de Janeiro, o Governo do Estado de São Paulo anunciou uma redução de 1,3% na alíquota do ICMS cobrado sobre o QAV no estado, que passou de 13,3% para 12%. Juntamente com o anúncio da medida, o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) também divulgou a criação subsequente de 150 voos domésticos no estado devido à redução do imposto. Para Castro, ambos os projetos beneficiam o setor da aviação de maneira geral. “Tendo em vista o impacto do altíssimo custo dos combustíveis na aviação, programas como esses devem corroborar para uma diminuição das tarifas aéreas, deixando o mercado doméstico mais competitivo e o transporte aéreo mais acessível aos passageiros brasileiros”, avalia.

Medida tende a beneficiar Azul, que tem hub em MG

De acordo com o próprio decreto nº 48.566, publicado em 26 de janeiro, a criação do benefício está diretamente atrelada à implementação, pelas companhias aéreas, de um centro de conexões de voos (hub aéreo), no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte. Dentre as três maiores empresas que operam atualmente no país, somente a Azul Linhas Aéreas possui um hub de conexões no local. Diante da adesão às medidas requeridas pelo Estado, a companhia já anunciou a criação de três novas rotas em Minas a partir de Confins, com voos para Araxá, Divinópolis e São João del-Rei. Além disso, também foi criada a primeira conexão aérea direta do Brasil com a cidade de Curaçao, no Caribe, que tem previsão de início em junho.

Análise realizada pela Tribuna a partir de dados disponibilizados pela Agência Nacional de Aviação Civil e pelo site aeronáutico Flight Radar 24 permite observar que as outras duas maiores companhias do país, Latam Airlines e Gol Linhas Aéreas, ainda estão longe de atingirem a média requirida de 80 decolagens diárias do Aeroporto de Confins, tendo em vista que, em média, ambas possuem cerca de 20 decolagens diárias do local – enquanto a Azul possui cerca de 90. Por outro lado, ainda que essas duas empresas sejam as principais detentoras do mercado doméstico, com participação total no setor de 38,5% e 33,6% em novembro de 2022, respectivamente, Latam e Gol também estão distantes de possuírem ligações aéreas com 14 munícipios mineiros, um dos itens necessários para a concessão do benefício fiscal.

A Tribuna questionou as três empresas sobre uma possível adesão ao projeto de incentivo fiscal. Em resposta, a Azul afirmou que vê com bons olhos a iniciativa do Governo estadual em reduzir o custo fiscal do abastecimento de aeronaves nos aeroportos de Minas Gerais. “Essa política, que está em linha com outras administrações estaduais no país, gera melhores condições para o desenvolvimento e crescimento da aviação comercial.” Já a Latam informou que também aprecia a iniciativa e que as reduções de carga tributária são extremamente relevantes para diminuir a pressão de custos altos no setor. “Para o momento, seguimos em negociação com as autoridades locais buscando uma possível redução parcial da alíquota do querosene de aviação (QAV) com base na legislação vigente”, afirmou a companhia. Por fim, a Gol respondeu que “sempre mantém diálogo com os representantes dos estados em que opera seus voos e, em conjunto, trabalha para garantir a melhor conectividade para todos os brasileiros que viajam pelo país”.

Aeroportos da região dependem das aéreas

Diferentemente da iniciativa realizada em São Paulo, que reduziu a alíquota do ICMS sobre o QAV sem a necessidade de contrapartidas, o novo decreto promulgado pelo Governo de Minas pode não ser eficaz, de imediato, na criação de novos voos no estado fora das regiões que já possuem operações mais consolidadas. Anteriormente à publicação da medida, o setor já contava com redução da alíquota do imposto sobre o QAV em Minas, diante da existência de um regime de Tratamento Tributário Setorial (TTS) que prevê cargas tributárias, que variam de 4% a 10%, para companhias áereas que operem em, pelo menos, dez municípios. Vale lembrar que a Azul tem operações em 14 cidades do estado. Já a Gol e Latam possuem atualmente, respectivamente, seis e quatro bases operacionais.

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A Tribuna questionou os dois aeroportos que atendem Juiz de Fora e região se ambos estão em negociações para uma possível expansão nos voos. Sem operações comerciais desde 2014, o Aeroporto da Serrinha continua buscando novos operadores aéreos. “A Infraero segue com o trabalho de planejamento conjunto com a Prefeitura para o desenvolvimento aeroportuário em curto, médio e longo prazo, incluindo melhorias necessárias à infraestrutura para a viabilização de novas rotas e ampliação da conectividade da região da Zona da Mata”, afirmou a concessionária do local. Já o Aeroporto da Zona da Mata, que recentemente ganhou uma ligação nova por meio da Azul Conecta para Belo Horizonte, avaliou a medida do Governo de Minas de forma positiva, e informou que mantém interlocução com os operadores aéreos a fim de atrair novas rotas e frequências.

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