Juiz-forano Matheus Mazzei é vice-campeão do Rally dos Sertões

Navegador fez história diante de 90 competidores na categoria UTV, entre eles Nelsinho Piquet


Por Bruno Kaehler

29/08/2021 às 07h00

Noventa competidores e dez dias de desafio com 3.615 quilômetros percorridos por sete estados do Nordeste (RN, PB, CE, PI, BA, AL e PE). Na disputa do Rally dos Sertões 2021, nomes como Nelsinho Piquet, além de campeões do Rally Dakar, americanos, portugueses e outros especialistas no off road. Entre eles, o juiz-forano Matheus Mazzei (MH Racing), que fez história. O navegador de 34 anos, do Bairro Santa Luzia, Zona Sul, conquistou, no último domingo (22), o vice-campeonato do maior rally das Américas ao lado do piloto catarinense André Hort com seu Can-Am Maverick X3, na categoria UTV.

“Há um mês, eu estava vendo a Olimpíada e falei com minha esposa: ‘qual deve ser a sensação desses caras?’ E no nosso caso, qualquer competidor de rally quer correr o Sertões. É o segundo maior do mundo. Então é uma sensação sem explicação. Eu queria chegar entre os 20 primeiros e já estaria muito feliz. Faz sete anos que não corro no cross country, só estava no de regularidade. Montei uma estratégia de andar forte desde o começo, mas preservar a máquina até o último dia”, conta Mazzei à Tribuna. “Isso me exigiu concentração total e no terceiro dia já estávamos entre os cinco primeiros. Aí comecei a acreditar em algo melhor, apesar de que até hoje acho que não acredito no resultado”, brinca.

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A conquista se torna ainda mais especial para o navegador por não apenas alimentar, como ultrapassar de forma contundente o próprio sonho de infância. “Sou alucinado por rally desde pequeno, meu pai me levava para as corridas e meu sonho era dar uma volta em um carro de off road”, destaca. “Eu queria correr o Ibitipoca (Off Road) quando pequeno, por ser muito próximo da gente. E meu pai foi meu primeiro piloto. Com o tempo, ganhei meu primeiro Ibitipoca em 2008, depois mais três vezes, sou cinco vezes campeão mineiro, campeão carioca de regularidade e vice-brasileiro em 2013”, recorda.

Mazzei (à direita) com seu parceiro André Hort comemorando o resultado histórico no maior rally das Américas (Foto: Ricardo Leizer)

‘O Sertões me pegou de surpresa’

Multicampeão de regularidade, Matheus Mazzei não imaginava, de fato, que em 2021 teria tamanho sucesso no cross country.
“O Sertões me pegou de surpresa, estava sete anos parado. O cross country entrou na minha vida entre 2012 e 2014, mas não consegui muitos títulos, foi uma passagem curta. Parei também até porque o Sertões de 2014 foi meio traumatizante, tive vários problemas e prometi que não correria mais. Só que o piloto (André Hort) me ligou, a gente conversou para não cometer os mesmos erros daquele ano e deu supercerto.”

Agora, Mazzei pode dizer que é vice-campeão do maior rally das Américas e em uma das categorias que mais cresce no mundo, a UTV – em português, “veículo multitarefa”, que é uma evolução dos quadriciclos, com bancos ou assentos que acomodam motorista e navegador sentados lado a lado.

“Ano passado, tinha metade dessa quantidade de competidores. Muitas pessoas têm migrado dos quadriciclos. A manutenção nessa categoria é um pouco mais barata e, ao mesmo tempo, é com carros espetaculares, um grande motor. Chegam a 150km/h, mas no regulamento só podemos ir a 130km/h, o que praticamente conseguimos manter na prova inteira. É bacana demais. E ainda é no segundo maior rally do mundo, que só fica atrás do Dakar, mas que tem, agora, uma pessoa muito visionária na administração, em um evento que se tornou, de fato, mundial”, explica Mazzei.

Mais que isso, muitas portas serão abertas em horizontes certamente ainda mais promissores do que os 3.615 quilômetros nordestinos do Sertões. “Olhei no espelho e vi que posso mais. Fiquei muito feliz com esse resultado, por poder correr ao lado de caras que você vê em revistas, jornais, que correm o Dakar, e ainda dar certo. Abriu uma possibilidade que eu não esperava e pretendo aproveitar.”

UTV de Matheus Mazzei e André Hort em ação durante uma das nove etapas do Rally dos Sertões (Foto: Marcelo Vandrebande Maragni)

Juiz de Fora tem grandes campeões

A conquista no Sertões, conforme Mazzei salientou, é um marco não só em sua carreira, como para Juiz de Fora. No entanto, o navegador lamenta a escassa divulgação do esporte na cidade, bem como o pouco conhecimento dos próprios juiz-foranos sobre os pilotos e navegadores que levam a bandeira da cidade para todo o país.

“Aqui em JF nós temos grandes campeões. O Breno Rezende, no próprio Rally dos Sertões, assim como Flávio Bisi, Weidner Moreira e muitos outros que ganham o Ibitipoca e diversas competições pelo país. Quando nos referimos a rally por onde passamos, dizemos que um cara é navegador do Norte, do Sul, da grande São Paulo. E Juiz de Fora é uma referência, tem grandes nomes, mas o próprio juiz-forano não sabe”, reitera. “O Rally dos Sertões é um marco divulgado no mundo todo do off road e muitas pessoas não têm noção do tamanho da representatividade trazida para nossa cidade.”

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Conforme Mazzei, há uma clara diferença na cultura das regiões que leva também a esse desconhecimento local. “No Nordeste, as pessoas sabem o seu nome. Estava parado há sete anos e pediam pra tirar foto comigo. É um calor inexplicável. Os americanos ficaram loucos com o rally, um deles foi campeão do Dakar. O Nelsinho Piquet estava na minha categoria. É muito forte”, exalta. “E que esporte tem 90 competidores e de tamanho nível na mesma categoria? Por isso digo que é um marco para a cidade. Aqui é um berço de grandes pilotos e navegadores, que digo que já nascem desta forma, desde a barriga da mãe”, completa Mazzei.

O juiz-forano evidencia, ainda, que possui toda uma equipe em sua volta que abre mão da companhia de familiares por semanas para auxiliar a dupla que aparece nas câmeras e levanta os troféus. “Os competidores daqui são muito bons, mas também nossa equipe. Eu sou só mais um, não sou o cara. Os mecânicos, por exemplo, largam suas famílias para prestar esse apoio, de dez dias nos ajudando. A equipe tem muita gente e merece palmas, ninguém consegue nada sozinho.”

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