Sapo de Fora: Ela não me dava bola!


Por Marcos Araújo

29/06/2018 às 07h00- Atualizada 29/06/2018 às 07h40

Corre pra lá, rola pra cá. Corre pra cá, rola pra lá. Que desentendimento! Uma infância inteira ele procurou por ela, se arriscou por ela, se humilhou e sofreu por ela. Quis conquistá-la e mostrar que também era digno de cuidar bem dela. Todavia, implacável, ela não deu o braço a torcer. Monarca sempre, ela esteve junto aos outros garotos. Repartia com eles toda a sua generosidade, sua alegria.

O menino não entendia porque, mesmo que tentasse encontrá-la, não a atingia. Muitas vezes, de longe, do banco, por trás da grade, ele chorava internamente: por que será que ela não gosta de mim? Apelou para tudo a fim de alcançar a sua simpatia: comprou Kichute novo, meias bem lavadas, camisa do time preferido e até da seleção. Nada! Irredutível, ela se mantinha.

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O mundo parecia ter caído. Como assim? Justo comigo, pensava o menino. A contragosto, se convenceu: ela não era para ele. Ficou de mal por algum tempo. Os anos passaram, e o menino cresceu. Transformou-se em rapaz. Para evitar constrangimentos, toda vez que havia um programa social, no qual tinha certeza de que ela estaria presente, ele inventava uma desculpa, tipo: amanhã tenho prova e não posso ir.

A turma não compreendia bem a resistência dele, porque ela era uma rainha, amada e idolatrada por seus súditos. Ela sempre teve um país a seus pés. Mas ele já tinha compreendido que era melhor assim: ele no seu lugar, ela no lugar dela! Ao longo dos anos, ela, permanentemente venerada, recebeu diversos nomes. Eis alguns: Telstar, em 1970, para homenagear o satélite que fazia transmissão ao vivo para toda a Europa. Tango, em 1982, criada para ser mais resistente à água. Fevernova, em 2002, que deixou uma nação pintada de alegria verde e amarela. Jabulani, em 2010, nome que ficou marcado para sempre, e Brazuca, em 2014, quando foi batizada depois de consulta popular. As outras alternativas eram Carnavalesca e Bossa Nova. Telstar 18 é o nome que recebeu em 2018.

Mas para ele, ela sempre foi a bola, com quem se apaziguou e se encontra de quatro em quatro anos. Ela nos gramados. Ele na torcida. Cada um na sua posição e sempre apaixonados!

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