Meu Flamengo x Botafogo inesquecível: leia relatos de Pitico e Márcio Guerra

Torcedores locais ilustres rememoram partidas históricas entre o Rubro-Negro e o Glorioso. Novo duelo entre os rivais cariocas ocorre às 16h deste domingo (28)


Por Pitico e Márcio Guerra

28/07/2019 às 07h00

A partir das 16h deste domingo (28), a bola rola no Maracanã para mais um clássico entre duas das maiores equipes do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro. Flamengo e Botafogo voltam a se enfrentar, agora pela 12ª rodada da competição nacional. Diante disto, a Tribuna convidou dois ilustres torcedores da cidade, Pitico e Márcio Guerra, para recordarem embates entre os dois clubes que não saem das respectivas memórias, e reiniciarem a série “Meu Clássico Inesquecível”.

O botafoguense Márcio Guerra (Foto: Arquivo pessoal)

Presente de Aniversário
Por Márcio Guerra, botafoguense

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Eu podia lembrar a cavadinha do Loco Abreu (não adianta o Diego pedir que ele não vai ensinar). Eu também podia fazer um texto sobre o gol histórico do Maurício, que tanto chororô provocou na urubuzada. E tem aquele jogo que o time deles sentou em campo (coisa feia, kkkk). Mas vamos ao dia 15 de novembro de 1972. Dia de aniversário deles e quando demos o maior presente. Inesquecível. Um 6 a 0 para enlouquecer qualquer um.

Cao, Osmar Guarnelli, Valtencir, Mauro Cruz e Marinho Chagas; Carlos Roberto, Nei Conceição; Zequinha, Ferreti, Ademir e Jairzinho. Esse é o nosso time que começou o jogo. Fischer e Marco Aurélio ainda entraram durante a partida. Eu tinha 13 anos. Eles estavam comemorando 77 anos de existência e entraram com a arrogância de sempre. Prometendo festa.

Coladinho no rádio, meu companheiro de sempre nas jornadas esportivas, desde o meio-dia acompanhei reportagens, preparativos, tudo muito mais exagerado pro lado deles, como sempre. Meu pai, banguense, passou na porta do meu quarto e falou, com toda sua sabedoria: “essa coisa de cantar vitória antes do jogo costuma dar errado”.

Profetizou e deu certo. O jogo era pelo Campeonato Brasileiro de 1972. Em 71 o Botafogo já tinha chegado perto do título, vencido injustamente pelo Atlético Mineiro. Mas quem estava preocupado com título? Quer coisa melhor do que ganhar deles de seis? Jorge Curi e Waldir Amaral dividiram a transmissão da Rádio Globo. O primeiro, fanático rubro-negro. O segundo, botafoguense de coração.

Jairzinho fez três (se tivesse Fantástico ia pedir música, só não podia ser o “Parabéns”, kkkk). Fischer, grande atacante argentino, entrou no segundo tempo e fez dois. Ferreti completou a tortura. Foi, certamente, algo inesquecível. Um presente para a urubuzada nunca mais se esquecer. Daí surgiu uma rivalidade à parte com eles. Tudo bem que anos depois eles devolveram o placar, mas não foi em aniversário e o jogo não tinha importância.

Um jogo que todo botafoguense, mesmo os que nasceram depois, sabe que faz parte de um dos momentos mais gloriosos da nossa história. Hoje eles de novo entram cheio de soberba, sendo apontados como favoritos. Não custa lembrar da frase profética do meu pai querido. Ganhar jogo antes dele ser jogado costuma dar um azar… Pra cima deles, Fogão. Que nossa estrela brilhe e ofereçamos outro presentinho para a urubuzada.

 

Nós gostamos de ‘vo(6)’!
Por José Anísio Pitico da Silva, flamenguista

O rubro-negro Pitico (Foto: Arquivo pessoal)

Em 1981, eu tinha 20 anos, uma farta cabeleira e um corpo típico de peladeiro: magro de pernas longas. Alto e veloz, contrariando a equação futebolística de que jogador grande é lento. Nunca fui de correr, mas dispunha de boa agilidade e técnica invejável. Não marcava. Nunca fui cascudo, mas construía e articulava as jogadas. Tudo isso movido pela paixão rubro-negra. De pai para filho.

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Na casa dos meus pais, meus amigos assistiam o Flamengo pela TV. Era uma zorra. Víamos o Flamengo do Zico e Cia. Demais! Jogávamos pelada na rua do Quartel do 10º Batalhão de Infantaria. Na pelada, a maioria era Flamengo. Depois, os botafoguenses, irritantes.

Lembro-me de um colega, o “Carlam”, deveras provocante e provocador. Não respeitava outra opinião. Era uma figura engraçada. Um líder nosso. O seu irmão, o “Marquim”, era do nosso time, flamenguista. Os irmãos facilmente brigavam. Das palavras ofensivas para um tapa, era um pulo. Estão na minha memória.

Aliás, o futebol compõe a minha vida. Através dele, eu tive uma vivência próxima à vida do meu pai, o Rivelino, da Rua General Gomes Carneiro, no Fábrica. E quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Por pouco eu jogaria no Vasco nos anos 80. Explico: sou de Porciúncula, cidadezinha do Noroeste do Rio de Janeiro, terra do ex-jogador Friaça. Ele, o craque do Vasco, me viu jogando no campo do Porciunculense e quis me levar para o Rio. Meu pai negou pelos estudos. Já morávamos em JF. Me orgulho dessa história. Continuei com as peladas no colégio, na rua. Aos domingos, saía de manhã com a chuteirinha numa sacola, ou com o bom e velho Ki-chute, e ia para os campos do Amanbai, Brasil, Bonsucesso; do curtume (Krambeck), Gargantão. Não me saem da cabeça! Eu tinha um sonho!

Meu Flamengo e Botafogo inesquecível? Foi em 1981, quando demos o troco pela goleada sofrida em 1972. Com gols bonitos de Jairzinho, Fischer e Ferreti. Os dois atacantes faziam muitos gols. Timaço! Nove anos depois, foi a nossa vez. Nós gostamos de “vo(6)”. Lavamos a alma. O Flamengo, embalado. Com gols do Nunes, Zico (2), Lico, Adílio e um golaço do Andrade. Conquistamos o Carioca daquele ano. Calamos o “Carlam” e, por tabela, os botafoguenses: matamos a colmeia porque prendemos a abelha rainha. Foi muito marcante porque tínhamos perdido pelo mesmo placar antes, no dia do aniversário do Flamengo. Precisávamos desse placar. E foi apoteótico. Não tem como esquecer.

Tópicos: futebol

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