Chance de vaga em Tóquio 2021 traz luz a atletas juiz-foranos em meio ao caos sanitário

Manutenção de foco de esportistas de ponta da cidade por participação na Olimpíada dá forças e eleva a esperança de dias melhores


Por Bruno Kaehler e Gabriel Silva, estagiário sob a supervisão de Bruno Kaehler

27/12/2020 às 06h55

Reflexo do cenário pandêmico em todo o mundo, o 2020 dos atletas de ponta nascidos ou radicados em Juiz de Fora e que sonham com a participação na Olimpíada de Tóquio, adiada para o próximo ano, foi fortemente prejudicado pela impossibilidade da realização de treinos específicos de suas modalidades e, principalmente, de competir entre março e, no mínimo, setembro último. Ainda assim, a possibilidade de participação na principal competição poliesportiva do mundo, marcada, a princípio, para começar em julho de 2021, e com a Paralimpíada a partir da última semana de agosto, manteve a motivação e o foco dos esportistas locais a todo vapor. Uma luz em meio à escuridão tomada pelo coronavírus.

Este é o caso de atletas entrevistados pela Tribuna neste final de ano, como o oposto juiz-forano Felipe Roque, que se transferiu para o Vôlei Taubaté (SP), potência nacional da modalidade, e que tem se destacado na saída de rede como um dos atletas mais talentosos de uma nova geração brasileira. O mesmo ocorreu com o nadador Gabriel Geraldo, jovem de apenas 18 anos radicado em JF, paratleta do Clube Bom Pastor que na disputa dos Jogos Parapan-Americanos de Lima, em agosto de 2019, conquistou nada mais, nada menos, que um recorde mundial, dois brasileiros e cinco medalhas, resultado histórico.

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O sonho também é compartilhado pelas referências Beatriz Ferreira, do boxe, e Larissa Oliveira, da natação. A primeira, baiana mas que mora em Juiz de Fora com o pai, Sergipe, há mais de 15 anos, foi obrigada a pausar uma sequência espetacular nos ringues pelo mundo por conta da pandemia. Até o cancelamento dos treinos com a seleção brasileira e das competições – como a Pré-Olímpica, que seria disputada na Argentina, Bia vinha como papa-títulos em sua categoria, a leve (60kg). Campeã mundial e número 1 do mundo em sua modalidade, ela se tornou, no Pan do Chile, a primeira pugilista a conquistar a sonhada medalha de ouro em seu esporte, tão tradicional.

Bia Ferreira precisa vencer torneio pré-olímpico para ir a Tóquio 2021 (Foto: Reprodução Instagram)

Em entrevista recente à reportagem, ainda deste mês, logo após se tornar tricampeã brasileira, Bia comemorou o fato de poder fazer o que ama e, acima de tudo, manter vivo o sonho de sua primeira participação olímpica, maior sonho da carreira. Para isto, ela aguarda, pacientemente, uma nova marcação do torneio classificatório aos Jogos de Tóquio, adiados em março em função da pandemia. Aos especialistas, Bia é considerada uma das principais esperanças de medalha para o Brasil no Japão.
Em seu perfil no Instagram, Bia se despediu desta temporada ao lembrar um pouco do que passou. “Chegaram as férias, o descanso merecido e graças a Deus consigo encerrar esse ano tão turbulento com um sorriso no rosto. Com certeza poderia estar muito mais feliz, mas encerro a temporada satisfeita por ter conseguido me manter treinando bem”, inicia a pugilista.

“Começamos 2020 a todo vapor, com treinos intensos para lutar pela vaga olímpica e, de repente, tudo mudou, tudo parou, o nosso sonho olímpico foi adiado para o ano que vem e só nos restou voltar pra casa, onde treinamos cada um com o que tinha. Mas a Confederação Brasileira de Boxe e o Time Brasil (equipe olímpica) foram os diferenciais pra esse ano. Graças a eles tivemos um ótimo ano preparatório, conseguimos retornar pra São Paulo, treinar em Portugal, e sempre com toda segurança possível para toda equipe olímpica de boxe. Diante disso, consegui me manter treinando bem e sempre me preparando. Me sinto bem, e em uma boa fase para chegar nos Jogos Olímpicos de Tóquio.”

Larissa já participou de Rio 2016 e ampliou o sonho de estar em uma segunda Olimpíada (Foto: Reprodução Instagram)

Segunda Olimpíada

Já Larissa Oliveira, nadadora do Esporte Clube Pinheiros, aproveitou a paralisação para curtir a família em Juiz de Fora e cuidar, sobretudo, de sua saúde mental – acompanhada, claro, da parte física. Mulher com o maior número de medalhas da história do Brasil em Jogos Pan-Americanos – dez pódios em duas participações -, a juiz-forana voltou a competir apenas em outubro, pela International Swimming League (ISL), liga independente de natação que reúne muitos dos principais nomes do esporte aquático de todo o planeta.

Ainda sem ter conseguido confirmar sua vaga em Tóquio 2020, também por conta da pandemia, Larissa tem buscado uma voz cada vez mais ativa em prol das mulheres na natação. Paralelamente à meta de ver seu esporte igualitário entre gêneros, ela sonha com sua segunda participação em Jogos Olímpicos – naturalmente seu principal sonho profissional -, visto que já representou JF e o Brasil no Rio 2016.

A Tribuna buscou contato com Bia e Larissa, a dupla de esportistas de primeiro patamar no mundo, mas sem sucesso.

Horizonte promissor da estrela Gabriel Geraldo

Em matéria veiculada pela Tribuna em fevereiro de 2020, o paratleta Gabriel Geraldo já era considerado uma das principais esperanças de medalha juiz-forana nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Com campanha de destaque nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, o nadador tinha agendada etapa classificatória das Paralimpíadas do Open Internacional Loterias Caixa de Atletismo e Natação, no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo (SP). A disputa estava marcada para março, justamente o mês em que o Brasil parou devido à pandemia de coronavírus.

Passados dez meses daquela matéria, Gabriel segue sendo um dos grandes expoentes do esporte em Juiz de Fora, e ainda tem o foco nos Jogos Olímpicos de Tóquio, agora marcados para começar em julho de 2021. O adiamento das Olimpíadas foi apoiado pelo paratleta, que ainda ficou fora das piscinas durante mais de três meses. “Fiquei um pouco triste no momento (do adiamento dos Jogos), mas creio que foi a atitude certa dos órgãos responsáveis. Ainda fiquei um pouco parado das piscinas por mais de cem dias, mas, por estar em uma cidade pequena, eu consegui voltar um mês antes do que (os clubes) retornaram em Juiz de Fora”, relata.

Gabriel Geraldo, no último mês, nadou abaixo de dois índices para Tóquio 2021 em teste durante treinamento (Foto: Reprodução Instagram)

O acompanhamento do Clube Bom Pastor e do técnico Fábio Antunes, inicialmente, foi à distância. Gabriel manteve os exercícios em casa, mesmo sem ter uma estrutura de ponta à disposição. A rotina atípica durou até setembro, quando ele conseguiu voltar a treinar no clube respeitando todas as medidas sanitárias. “Consegui manter os tempos e até melhorar. Em 2020, no aspecto profissional, foi um período de aprendizado e para refletir. Foi um ano muito difícil, mas, na piscina, eu consegui manter tudo e ainda evoluir bastante”, avalia.

Em vias de iniciar um novo ano olímpico, o paratleta tem duas etapas internacionais da World Series para alcançar índices olímpicos – entre os dias 25 e 28 de março, o Open Internacional (que foi adiado em março de 2020), e entre os dias 16 e 22 de maio, na Ilha da Madeira, em Portugal. “Eu continuo na pegada mantendo a rotina de treino para, quando tiver a competição, estar pronto para nadar rápido a qualquer momento. Assim que o clube ou a Seleção Brasileira falar que vai ter alguma competição, eu estarei pronto para dar o melhor por mim e representar o país, como sempre fiz”, confia Gabriel.

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Evolução nas quadras

Durante os últimos anos, Juiz de Fora esteve em evidência no cenário do vôlei masculino brasileiro com um jovem prodígio: Felipe Roque. O atleta já era habituado a frequentar as camadas jovens da seleção brasileira do esporte, mas em 2019 passou também a atuar pela equipe principal do selecionado brasileiro, participando da campanha medalhista de bronze no Pan-Americano e também vencendo a Copa do Mundo de Vôlei, no final do mesmo ano.

Felipe Roque veste a camisa do Taubaté ao lado de campeões olímpicos e acumula experiência e evolui para voltar à seleção profissional (Foto: Reprodução Instagram)

O ano de 2020, então, seria de consolidação no elenco nacional e de decisão na Superliga pelo Minas Tênis Clube, equipe que Felipe defendia até a paralisação do vôlei nacional, em março. Mas nem mesmo a pandemia atrapalhou a evolução do oposto juiz-forano. De saída do Minas, o jogador se transferiu para o Vôlei Taubaté, equipe paulista que é uma das principais forças e maiores investidoras do esporte nacional. “A temporada 19/20 acabou antes dos playoffs. Eu estava bem no Minas, mas infelizmente a pandemia não permitiu isso. Eu me dediquei durante esse período de pandemia para cuidar do meu corpo para uma experiência nova”, relata Felipe.

O segundo semestre de 2020, por fim, acabou reservando diversos aprendizados na convivência com o estrelado elenco do Taubaté. “Eu tive um crescimento muito grande fisicamente e psicologicamente, porque estou do lado de atletas campeões olímpicos. Nós temos que acompanhar o ritmo de treinos deles, então eu tive um amadurecimento muito grande”, afirma o atleta.

Pensar nas Olimpíadas de Tóquio ainda parece distante para o atleta, que afirma pensar primeiramente no desempenho pelo clube. Alcançando uma boa performance nas diversas competições importantes que o Taubaté disputa em 2021, os Jogos Olímpicos são um caminho natural. “A gente está numa crescente. Eu acredito que a gente tem muito o que melhorar ainda, mas estamos nesse processo e as expectativas para 2021 são muito boas. Nós temos várias competições e queremos ser campeões de todas”, resume Felipe.

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