Juiz-forano com malformação congênita conclui exame de grau de kickboxing
Victor Veloso tinha muita vontade de praticar um esporte, mas, por anos, foi rejeitado em várias academias de JF; no último domingo, conquistou a faixa amarela
No último domingo (19), Victor Veloso, de 28 anos, conquistou uma de suas inúmeras vitórias na vida e no esporte. O juiz-forano do Bairro Benfica, Zona Norte da cidade, que tem malformação congênita em algumas partes do corpo, realizou o exame de grau de kickboxing em Juiz de Fora e obteve a conclusão com a troca de nível na arte marcial para a faixa amarela. O evento foi organizado pelo projeto social Galpão da Luta, realizado no Centro de Educação, Esporte e Saúde, localizado na sede da Estação da MRS, em Benfica, que permitiu o paratleta evoluir com treinamentos moldados mediante suas especificidades.
Há seis meses, Victor treina e realiza um verdadeiro tratamento no Galpão da Luta com o sargento e educador físico Luiz Bento e a sua esposa, Aparecida Bento, que adaptou várias atividades para melhor conduzi-lo diante de suas necessidades. Algumas adequações também foram feitas no dia do exame, como no exercício de polichinelo, que ele não consegue fazer – ainda. Logo, ele realizou uma outra atividade com o mesmo nível de dificuldade, conforme relatou o educador físico à Tribuna de Minas. “Ele estava com mais garra que muitos estudantes, servindo de inspiração a todos que estavam ali. Me agradeceu, assim como a mãe, que até chorou de emoção. Então, apesar do Victor ser um desafio para gente, ver a superação dele é uma grande satisfação”.
Victor reconhece o esforço dos mestres e é muito grato por toda ajuda que vem recebendo nos últimos tempos. “Além do treino, eles me motivaram para que eu conseguisse alcançar a faixa amarela. O kickboxing é disciplina e determinação, que os mestres ensinam com amor, porque eles gostam, e não por dinheiro. Apesar das nossas limitações, eles incluem os que têm dificuldade em todas as atividades e isso é muito importante para nós”, conta o paratleta.
O novo faixa amarela contou que achou o exame fácil. “Isso porque eu treinei com dedicação seguindo os ensinamentos do Bento, da Cida e do Israel. Se eu chegasse lá com apenas dois dias de treino, não daria certo, então eles fazem parte dessa conquista. Realmente me abraçaram e permitiram que eu chegasse onde estou”.
Inclusão com o kickboxing no combate à rejeição
“A falta de preparo que o Victor tinha talvez tenha sido o motivo de outros educadores terem rejeitado treinar ele, porque o caso é bem difícil. Ele não tinha firmeza nas pernas e chegou aqui carregado pelos pais”, recorda Luiz Bento. A dificuldade que ele tem em ficar de pé já tentou ser corrigida por meio de fisioterapia, mas esta não fez o fortalecimento muscular como o necessário, de acordo com o sargento. “O fisioterapeuta faz a reabilitação do membro e passa para o educador físico, então apesar de ele ter procurado a fisioterapia, faltou o processo de fortalecimento. Diante disto, nós fizemos um plano de treinamento específico pra ele contando com fortalecimento e emagrecimento, um verdadeiro tratamento”.
No início, Victor conseguia treinar apenas sentado ou encostado na parede, mas depois de bastante esforço, o jovem começou a se locomover, o que gerou emoção da família. “Naquele dia, após o treinamento, o pai dele me falou: ‘poxa, ninguém nunca fez isso por ele’”.
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A academia Galpão da Luta realiza exames de grau duas vezes no ano, com a primeira prova em junho. Neste ano, o mestre Bento foi surpreendido com o pedido do aluno Victor, que até então não conseguia nem se locomover de realizar o exame. Inicialmente, Bento achou bem complicado, pois o exame exige uma sequência muito pesada de exercícios. “Eu dei uma respirada, mas como eu gosto de desafio, autorizei ele a se inscrever ns prova”.