Sapo de Fora: Vai lá Panamá, diz para o mundo: nós não nos curvamos
Distraidamente com a televisão ligada em um domingo de manhã, com um céu lusco-fusco, olho para a televisão e vejo Inglaterra 2 a 0. Minutos depois, 3 a 0. O primeiro tempo acaba e vejo já um placar de 5 a 0. Volto à minha leitura e aos meus afazeres, mas antes dou mais uma espiada na tevê e lá está a Inglaterra com os seus 6 a 0 já no segundo tempo. Na televisão, o locutor anuncia que já temos um novo artilheiro na Copa: é Harry Kane (muito prazer!), da Inglaterra. Continuo com a minha leitura, interessando-me pouco por aquele jogo. Mas começo a me preocupar…
Pergunto ao meu marido como o Panamá foi parar aí na Copa da Rússia. E ele responde que aqueles que olho com pena em suas camisas vermelhas tiraram times de países “importantes” da competição, como os Estados Unidos. Começo a observar um pouco mais aquela partida, temendo uma goleada maior. Meu marido zapeia para outro canal, e os apresentadores lembram da maior goleada da Copa – um 10 a 1 -, Hungria 10 a 1 El Salvador, em 1982. Penso, “tomara que não se repita… o Panamá não merece isso”. Ainda mais quando fico sabendo que os jogadores panamenhos que ali estão têm um salário pequeno, claro que em relação a todas as demais seleções (nada comparado ao mundo dos reles mortais). Na internet, vi ainda que eles são o time menos custoso da Copa e que, em 2017, o volante Almílcar Henriquez havia sido morto a tiros em um país assolado pelo narcotráfico.
De repente, um milagre: o Panamá faz um gol e, como mágica, aquela torcida panamenha que estava quietinha e acuada comemora, grita, pula, se abraça. Por um momento, me emociono. Que lindo!! Que grande espírito esportivo. É gol, é Copa do Mundo. Foi um grande esforço estar ali. Não importa o placar tão elástico para o “inimigo”. É gol, tem que comemorar, tem que ter espírito esportivo.
E, mesmo que eu não entenda nadinha de futebol, saio da sala, tentando esconder uma lágrima boba que corre, sem motivo, só de olhar aquela gente na torcida se abraçando… Depois, tento refletir de onde vem aquela minha emoção. E falo para mim mesma: isso é mais que futebol. Há muitos atletas que deram o sangue para estar ali. Há muitas nações que se fazem vistas ali, mas que são tão silenciadas em tantas notícias de jornal. No entanto, agora, estão ali, ó, dizendo “eu existo”. E o Panamá tem o meu respeito. Contra a poderosa Inglaterra, um golzinho está valendo, não um golzinho qualquer, mas o primeiro gol daquele país em um mundial!! Tem que pular e gritar mesmo, como se dissessem: “vocês nos sufocam, mas nós não nos curvamos!!”.