Missão dada e cumprida


Por GUSTAVO PENNA

25/10/2015 às 07h00

Doze horas depois da desgastante maratona da volta de Alagoas, que durou toda a tarde e parte da noite da última terça-feira, o vice-presidente do Conselho Gestor do Carijó, Cloves Santos, já estava na ativa. Entre uma garfada e outra durante o almoço em um restaurante do Centro de Juiz de Fora, o dirigente aproveitava para discutir planejamento com o técnico Leston Júnior. Uma dinâmica que virou rotina ao longo dos sete anos de envolvimento com o futebol alvinegro, culminando com a maior conquista da história centenária do clube, o acesso para a Série B de 2016.

Dividindo-se com as responsabilidades de diretor administrativo na Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora e o trabalho no Tupi, Cloves Santos sente o alívio do dever cumprido. Em um ano que começou turbulento com a campanha ruim no Campeonato Mineiro, o dirigente foi alvo frequente das críticas da torcida, mas agora consegue respirar tranquilo com a confirmação da conquista que bateu na trave em 2014.

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E foi com esse espírito, de balanço da temporada, que Cloves Santos recebeu a reportagem da Tribuna para analisar a caminhada. Nessa entrevista, o dirigente avalia a relação entre clube e Juiz de Fora, os atritos com a torcida, o rendimento dos atletas, a continuidade de Leston Júnior e o planejamento para 2016. Um aquecimento para o ano que promete ser o mais empolgante do futebol juiz-forano.

 

Tribuna – Pelo caminho que percorremos até a Câmara você foi cumprimentado por muitas pessoas. Já deu tempo de sentir o reconhecimento pelo acesso?

Cloves Santos – Não, muitas dessas pessoas já me cumprimentam sempre. Tenho muita facilidade de conversar com o público acima de 35 anos. Tenho um pouco mais de dificuldade com os torcedores mais jovens. Não sou de muito relacionamento por redes sociais, e isso acaba criando uma distância.

 

– Você acredita que o acesso vai ser uma maneira de amenizar as críticas?

– Eu não faço nada pelo Tupi esperando reconhecimento e mérito. Quando falo que não me dou bem especificamente com torcida organizada, é por envolver muito coração. Todos entendem de futebol e são bem informados. Só que precisamos tomar decisões, fazer o que é possível. Não adianta querer trabalhar com o impossível. Eu queria muito que eles entendessem que estamos do mesmo lado.

 

– O valor dos ingressos, considerado caro pela torcida, é um exemplo?

– A gente coloca R$ 40 e R$ 20, ou R$ 30 e R$ 15, por não poder fazer diferente. Futebol é muito caro. As pessoas não fazem noção do que é o dia a dia. Ter uma comissão técnica com o mínimo de qualidade exige muita coisa. Futebol não é só folha de pagamento e jogos.

 

– Para o dirigente, o gol de placa está na conquista do acesso?

– O gol de placa do Tupi vem do planejamento. É muita gente envolvida, tínhamos convicção do que estávamos fazendo, mesmo com críticas para caramba. Essa “teimosia” nos fez preservar nossa essência. Continuamos acreditando que o Campeonato Mineiro precisa mudar. A fórmula é horrível. Caldense e Tombense foram finalistas, mas qual foi o grande prêmio deles? Na Série C, o grande prêmio é o acesso, que dá mais receita e visibilidade. Estamos entre os 40 melhores clubes do Brasil. O Mineiro precisa mudar para ser mais atrativo e rentável. Hoje, quem ganha, perde. Sou apaixonado pelo Campeonato Brasileiro e não tenho muito carinho pelos estaduais. Mas as pessoas não entendem, querem ganhar tudo. Eu nunca tive vergonha de dizer que trabalhamos para não cair (no Mineiro) e gastar pouco dinheiro.

 

– Será assim em 2016?

– Não acho que isso deva mudar. Temos que manter uma base que possa ficar para a Série B. É melhor parar e montar um time com 45 dias de antecedência (para o Brasileiro), investir muito menos no Mineiro e fazer uma senhora pré-temporada. É ali que se controla tudo. Vamos montar uma base, é óbvio. Esse ano fizemos isso. Até jogadores questionados por todo mundo eu mantive. O Marco Goiano, mantive quando ninguém acreditava nele. Não fez um bom Mineiro por ter ficado marcado por uma jogada. E foi esse cara que participou dos quatro gols do acesso. Eu tenho que ser covarde, por todo mundo estar pedindo para mandá-lo embora, ou confiar no que eu vejo no dia a dia? A Myrian (Fortuna, presidente do Tupi) é muito importante por dar autonomia. É muito importante ter isso para montar o time, a comissão técnica. Ela é uma presidente muito inteligente. É importante saber delegar.

 

– As críticas foram o principal obstáculo fora de campo?

– As pessoas têm mania de achar que não gostamos de críticas. Eu não tenho problema com críticas. Não pode é gente que não vai (ao estádio) e nem sabe a escalação vir falar do Tupi. Isso eu não aceito. A minha função é defender quem está comigo. Quando o Kaio Wilker foi hostilizado, assim como o Goiano, foi lá no estádio. Cantaram para ele “Kaio Wilker, não sei o quê, o meu Tupi não precisa de você”. E quem cantou isso? Precisaram dele, sim.

 

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– Juiz de Fora fez por merecer o acesso?

– Fez sim. Eu não posso analisar esse ano isoladamente. Juiz de Fora já fez muito pelo Tupi. Só que a cidade se abateu em jogos específicos. O Tupi é um dos times mais vitoriosos do interior do Brasil. Somos muito respeitados lá fora. A cidade se envolveu pouco? Sim. Mas quando quis se envolver, deu esse show aí (no acesso). E quando foi que fizeram isso na fase ruim? Comprar ingresso e ser sócio-torcedor é ser como pequenas formiguinhas que vão construir um castelo. A molecada está chegando. Eu admiro muito os torcedores organizados. Temos as nossas diferenças, mas eu admiro muito por eles não deixarem o clube sozinho. É muito bom saber que tem alguém ao seu lado.

 

– O que o Tupi precisa para ter sucesso em 2016?

– Dentro do que é possível, a estrutura tem que mudar. Mudar tudo. Santa Terezinha precisa passar por uma reforma urgente no gramado, precisa virar um centro de treinamento. Essa verba (aumento da cota de TV) precisa ter parte destinada para isso. Não podemos abrir mão do que achamos certo, que é não montar time com estrelas. Não podemos dispensar uma base boa como essa, mas também não vamos fazer loucura para manter. Na estrutura e na parte administrativa ainda precisamos evoluir muito. O Tupi precisa ter dois mil sócio-torcedores. Precisaremos de uma média de público de três, quatro mil pagantes, ou então vai ser difícil se manter. Ano que vem vamos ter excelentes partidas. A rotina pode mudar. Vamos fazer o happy hour no estádio. Também vamos nos preparar para a venda de cerveja.

 

– O Leston é o treinador ideal para 2016?

– A energia dele é fundamental. O Leston veio por um projeto que abraçou, abrindo mão de muita coisa, virando um parceiro. Mas ele é um treinador que vai ficar muito valorizado, graças a Deus. O Tupi tem que fazer o possível para segurar. Não o impossível, mas o possível. Posso dizer sem dúvida que o Leston é o cara. É de uma nova geração que vai estar na Série A em breve.

 

– A Série B te renova como dirigente para seguir na função?

– O que me cansa são coisas que nem posso revelar. Mas o futebol é muito bom. Eu não deixaria facilmente. Tem uma frase que os meninos (jogadores) usam muito que é “o futebol é para todos, mas nem todos são para o futebol”. É muito prazeroso viver as emoções que eu vivi com o Tupi. Tive só um momento ruim, que foi em 2012, quando caímos. Ali eu fiquei destruído. Mas voltei em 2013 com muita intensidade. Eu sou muito intenso para trabalhar. Essa energia eu tenho muita, e me dá muito prazer, mas é muito cansativo. Futebol exige muito. Enquanto a gente conversa, já são 35 mensagens por causa de um treino. Posso te dizer que o Tupi fez de mim um ser humano muito melhor. Se tiver que sair, será com a cabeça erguida. A missão que me foi determinada em 2009 foi cumprida.

 

– Essa sua frase, “se tiver que sair”, é sobre uma possibilidade real ou algo hipotético?

– Eu tenho muita vontade de ficar pelo futebol. É muito difícil deixar essa convivência. Não vou nem tocar nesse assunto. Não é hora, mas sim de pensar nos jogadores. O Tupi tem chance de meter uma segunda estrela no peito.

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