Juiz-forano disputa a Spartathlon Ultra Race, na Grécia

Prova foi criada em homenagem ao corredor ateniense durante a histórica Batalha da Maratona, em 490 a.C.


Por Bruno Kaehler

24/09/2017 às 06h30- Atualizada 25/09/2017 às 08h18

(Foto: Leonardo Costa)

O ultramaratonista juiz-forano e tenente do Exército Brasileiro, Marco Farinazzo, 49 anos, disputa, a partir da próxima sexta-feira (29), em Atenas, na Grécia, a Spartathlon Ultra Race, prova com percurso de 246 km. A largada está marcada para as 7h do horário local, 1h de Brasília. Farinazzo, o paulista Urbano Craddo e o capixaba Carlos Gusmão serão os únicos brasileiros na prova, que atrai atletas de 35 países. Não basta participar: o atleta local possui um objetivo audacioso: “Em 2015 participei da prova pela primeira vez e tive vários problemas. Foi um calor muito forte durante o dia, choveu muito à noite. Não estava preparado. É uma prova em que você pode ter uma equipe de apoio, e eu não tinha. Então, passei aperto quando precisava trocar um tênis ou colocar capa de chuva. Foram 246km correndo sozinho, contando só com o apoio da organização, que possui 75 check points. Neste ano, por conta dos custos, estou indo novamente sem equipe de apoio, mas tenho experiência e possuo o que preciso levar e consumir planejados. Vou tentar ficar entre os cinco primeiros, mas se deixarem, a gente tenta ganhar!”.

O tenente, que simulou o trajeto em pontos como a BR-440 e trilhas na região de Valadares, descreveu o percurso. “É um terreno bem variado. Largamos no centro de Atenas e percorremos mais de 20km dentro da cidade, entre ruas e estradas, passando por alguns pontos turísticos. Aí pegamos o litoral, beirando o Mar Mediterrâneo por um bom tempo, até chegar ao Canal de Corinto. Ali, vamos pelo interior da Grécia. Saímos do asfalto e começa uma sequência de trilhas. Depois vem uma serra muito alta, a Serra das Cabras, um trecho muito sinuosa. E no final terminamos num trecho de aproximadamente 60km com uma autoestrada bem parecida com a nossa BR-440. Depois é a chegada em Esparta, aos pés da estátua de Leônidas (rei de Esparta, imortalizado no filme “300” pelo ator Gerard Butler), relata.

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Mesmo sem equipe de apoio e com obstáculos do relevo e do clima – calor durante o dia e muito frio à noite, Farinazzo não tem dúvidas de que irá desfrutar cada passo da experiência. O primeiro motivo é o apoio recebido por colegas de trabalho que, com rifas e “vaquinha”, contribuíram para angariar fundos para a viagem. O segundo é o visual, que contempla belas paisagens e ruínas antigas, datadas de mais de 500 a.C.

Para suportar todas as adversidades, Farinazzo diz que sua estratégia inclui cuidados especiais com água e alimentação. “Faço hidratação a cada meia hora com repositores energéticos e hidroeletrolíticos, levo salame, muitas azeitonas e castanhas, coisas fáceis de carregar, porque não podemos sair com a mochila pesada. E como a prova tem 75 pontos de apoio que fornecem algumas coisas, é importantíssimo estar sempre hidratando, sobretudo durante o dia, pelo sol.”

ATLETA se preparou em estradas próximas à BR-440 para simular o calor intenso previsto durante a prova que é uma das mais famosas do planeta, com 246km

‘Senta que lá vem história’

O espírito de superação de cada participante faz jus à tradição da Spartathlon Ultra Race. Uma das maiores atrações da corrida é, sem dúvida, os séculos de história no percurso, famoso por causa da Batalha de Maratona, em 490 a.C.. A prova foi criada para homenagear o feito do ateniense Fidípides. Para entender um pouco mais esse fato histórico, a Tribuna conversou com o historiador Antônio Gasparetto Junior, doutorando, mestre (2013), bacharel e licenciado (2010) em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“A famosa modalidade de corrida de 42km, conhecida como maratona, tem seu nome que remonta a um evento da Grécia Antiga. Na Antiguidade, o Império Persa conquistou um vasto território, avançando, inclusive, sobre terras gregas. Dentre elas, as colônias de Mileto. Com a revolta de Mileto contra o domínio persa ocorreu a Primeira Guerra Médica, que opôs gregos e persas. Conta Heródoto, historiador grego, que o general Milcíades teria enviado à cidade de Esparta o soldado Fidípides para solicitar ajuda no campo de batalha. Esparta teria confirmado o apoio, mas só para seis dias depois, e não havia esse tempo a esperar. Milcíades organizou seu exército, e cerca de 15 mil soldados gregos foram capazes de forçar o recuo de 100 mil soldados persas.

A vitória, que foi decidida na Batalha de Maratona, teve como consequência o envio novamente de Fidípides para anunciar a vitória dos gregos. Conta-se que, quando Fidípides chegou a Atenas, anunciou a vitória dos gregos e, logo em seguida, teria caído morto de cansaço. Mas os historiadores consideram que essa é uma versão romanceada do fato de Fidípides ter percorrido mais de 200km em dois dias para pedir o auxílio militar nas cidades gregas. O ato de Fidípides foi homenageado, finalmente, em 1896, na primeira edição dos Jogos Olímpicos Modernos, com a criação da modalidade de 40 km, chamada, então, de maratona. A distância de 42km só se tornaria oficial em 1921 e, de lá para cá, ela é disputada como uma das provas de corrida mais importantes.”

Conta-se que, quando Fidípides chegou a Atenas, anunciou a vitória dos gregos e, logo em seguida, teria caído morto de cansaço

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