‘Jovem Samurai’ faz vaquinha on-line para formalizar projeto social

Professores buscam recursos para melhorar condições de prática de judô , além de possibilitar um potencial maior para conseguir apoiadores,


Por Gabriel Silva

21/07/2019 às 07h00

Todas terças e quintas-feiras, a rotina de 18 crianças moradoras do entorno do Bairro Monte Castelo têm um momento especial. Comandados pelo professor Phillip Vieira, o judô é praticado pelos pequenos atletas na sede da 7ª Igreja Presbiteriana, local gentilmente disponibilizado pela administração do centro religioso. Os pés descalços sob o tatame fino já é tradição no projeto Jovem Samurai, que há dois anos utiliza o esporte como forma de oferecer disciplina e integrar jovens de 5 a 13 anos. Objetivo nobre, mas dificultado pelo alto custo. Como forma de driblar o dinheiro curto, o coordenador Leonardo Moura apostou na solidariedade e criou uma “vaquinha” online com o objetivo de arrecadar o valor necessário para cadastrar o trabalho como projeto social e abrir novos horizontes.

Projeto só não recebe mais judocas por limitação de espaço e de recursos (Foto: Fernando Priamo)

O objetivo simples tem o preço definido em R$ 835 (R$ 560 arrecadados até o momento), meta da vaquinha e custo estimado para colocar o Jovem Samurai em cartório com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) de associação sem fins lucrativos. De acordo com o coordenador, o registro diferenciado vai possibilitar um potencial maior para conseguir apoiadores, sejam pessoas físicas ou empresas, e permitirá melhorias na estrutura dos treinamentos visando acolher mais garotos. Dessa forma, a arrecadação pela internet foi criada no ano passado e teve seu prazo alterado por duas vezes para conseguir alcançar o valor necessário.

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O projeto

Criado em 2017, a ideia do Jovem Samurai chegou até Léo Moura, como é conhecido o coordenador, através do pai de um aluno. Professor e instrutor de judô há seis anos, atualmente Léo atua em outros quatro projetos, entre academias e escolas, e se especializa na resolução de problemas. O primeiro obstáculo foi conseguir local para realizar os treinamentos, resolvido com o auxílio da Igreja Presbiteriana; a partir daí, superar adversidades passou a ser tão frequente quanto os treinos semanalmente realizados com as crianças que rapidamente preencheram o limite de 18 participantes.

Iniciativa enfrenta dificuldades para adquirir quimonos, comprar lanches e custear as viagens para disputas de campeonatos (Foto: Fernando Priamo)

Adquirir quimonos, comprar lanches e custear as viagens para disputas de campeonatos são alguns dos desafios de se fazer um trabalho totalmente voltado para a comunidade e praticamente sem custo, já que apenas os pais com condições financeiras melhores contribuem mensalmente. “Eu costumo dizer que o judô é um esporte para rico feito para o pobre. Todo projeto social tem judô, mas se você for comprar um quimono, o mais baratinho custa R$ 80. Isso direto da fábrica, porque numa loja custa R$ 150”, afirma Leo Moura, que se tornou o principal patrocinador do projeto chegando a investir dinheiro próprio nos meninos “adotados”.

‘Nós trabalhamos o ser humano’

A motivação de Léo Moura para levar o projeto em frente é renovada todos os dias com a evolução comportamental dos alunos. Da vida escolar ao relacionamento com familiares, o desenvolvimento social é apontado pelo coordenador como um objetivo tão forte quanto o crescimento esportivo. “Quando a gente cria um projeto social, e o judô tem muito disso, de trazer para o convívio o que estava perdido, é pegar o aluno e fazer entender que a vida é para ser vivida com amor, com respeito, com dignidade, e o judô trabalha isso. A gente não trabalha religião, política; nós trabalhamos o ser humano. A gente pega a criança e mostra para ela o que é ser uma pessoa de bem, e ela absorve isso muito facilmente”, conta Léo.

Apesar de o foco ser pela formação de pessoas, após dois anos de trabalhos, o desempenho atlético também se destaca entre os garotos. Um exemplo é o de Kalléo Prates, de 9 anos. Ainda no início da vida como esportista, o jovem judoca já é cadastrado na Federação do Estado do Rio de Janeiro e participa do circuito fluminense de judô, competição seletiva para o Campeonato Brasileiro. A falta de recursos impediu a participação de Kalléo em uma das quatro etapas do circuito, mas nada que abale a confiança do coordenador em, novamente, driblar obstáculos. “O problema é que os campeonatos não têm gratuidade, e a gente tem que pagar. Aí fazemos rifa, bingo e conseguimos um apoio”, afirma o coordenador.

Suporte completo

O registro também permitirá ir atrás do sonho de ter os treinos inseridos em um trabalho mais complexo e educativo. “A primeira etapa é ensinar o judô na sua excelência. A segunda parte é empregar, oferecer para o aluno o psicólogo, nutricionista, fisioterapia e o reforço escolar”, relata Léo Moura, que afirma já possuir os profissionais dispostos a fazer o trabalho, mas a estrutura cedida pela Igreja Presbiteriana não oferece as salas individuais que seriam necessárias para os atendimentos.

Objetivo da arrecadação é reunir R$ 835 para oficializar o projeto em cartório com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) (Foto: Fernando Priamo)

Antes de projetar o sonho, no entanto, é preciso lidar com a realidade atual e ter os pés no chão. Literalmente os pés no chão; mais específicamente no tatame fino da sede do projeto na Igreja Presbiteriana. A área de luta de 2,5 centímetros de espessura já quase não suporta os 18 participantes do projeto e é outro limitador dos objetivos arrojados do “Jovem Samurai”. A área indicada para aumentar o número de alunos tem o valor de R$ 2.800, mas o objetivo é renovado diaramente com os pedidos contínuos de outras crianças para entrarem no projeto. Quando questionado sobre a dificuldade para arrecadar quase R$ 3.000 para conseguir o tatame, uma vez que mesmo os R$ 835 para a regularização já estão difíceis, Leo Moura afirmou. “Infelizmente tudo está um pouco longe realmente, mas nós esperamos conseguir”. Nada impossível para quem se especializou em resolver problemas.

 

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* Estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

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