Sapo de fora: Na Copa do machismo, o Brasil já é campeão
A Copa do Mundo começou há uma semana, mas o Brasil já tem pelo menos um título: o de torcida mais machista. Um vídeo de brasileiros na Rússia ensinando português para uma torcedora estrangeira poderia ser inofensivo, não fosse o machismo e o racismo escancarados. O grupo ensina a mulher a pronunciar palavras de baixo calão, referindo-se à possível cor da pele do seu órgão genital. A moça, loira e branca, se diverte e tenta repetir, acreditando que aquele é apenas um momento de integração entre os povos. Ingênua, como muitas de nós já fomos.
No último sábado (16), o vídeo viralizou nas redes sociais após ser postado por um dos autores. Milhares de internautas se indignaram, repudiando a ação. Esse grupo “seleto” de torcedores escancarou uma realidade que nós, mulheres, vivemos cotidianamente: o assédio sexual. Muitas vezes travestido de brincadeira, como no vídeo, o assédio começa de forma discreta, com um comentário ou piada — mas não deixa de ser violência.
Sei que pode vir à mente de muitos leitores a angustiante máxima “o mundo está chato”. Queria eu que estivesse mesmo. Que fosse chato, mas que respeitasse as mulheres. Que fosse chato, mas que tratasse todas as pessoas de forma igual, sem privilégios de gênero, classe, cor da pele, entre outros. Queria que não precisássemos parar, no meio da Copa do Mundo, para discutir a violência contra a mulher, o machismo e o racismo.
A vergonha de ver filhos da nossa pátria desrespeitarem, de uma só vez, todas as mulheres do mundo, tem que ser maior que o tropeço do empate na estreia. A taça do mundo pode ser nossa em um mês mas, na Copa do machismo, já somos campeões.