Caçula de oito irmãos, lutador tenta mudar a vida da família através do muay thai

“Roceiro” Dalmo Sorrentino, do Bairro Santa Cruz, tem cartel invicto na arte tailandesa e os objetivos de crescimento profissional e pessoal


Por Bruno Kaehler

19/07/2020 às 07h00

“Sou filho caçula de oito irmãos e minha ideia é mudar a vida de todos eles com o meu esporte.” Vinte minutos de entrevista são suficientes para entender que o lutador profissional de muay thai, Dalmo Sorrentino, de apenas 23 anos, não somente carrega consigo o bem, como o transforma em combustível na carreira de invejável cartel de oito lutas e nem uma derrota sequer.

Nascido em Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, mas radicado em Juiz de Fora há mais de dez anos, inicialmente no Jóquei Clube, e hoje no Bairro Santa Cruz, Zona Norte da cidade, Dalmo é sustentado pela arte marcial. Cerca de seis horas de seus dias são reservadas para os treinos, com o restante sendo complementado por meio de aulas, como professor do também chamado boxe tailandês. “Já tentei ter uma vida paralela, mas não tive sucesso. Vivo do muay thai”, afirma.

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Dalmo com seu chapéu, nova assinatura na carreira após ser chamado de “roceiro” (Foto: Leonardo Costa)

A arte milenar apareceu para o lutador aos 12 anos de idade, por meio da família. A profissionalização veio aos 19. “Meu irmão (Davidson Sorrentino) é professor e ele que me introduziu na academia. Comecei competir aos 13 anos e cheguei a lutar kickboxing também. Iniciei lutas em Belo Horizonte e fui conseguindo progredir no muay thai, pensando em competir até fora do país”, conta o atleta da academia CTDS e que também já se apresentou em diversas cidades do interior de Minas, além do Espírito Santo, de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Desde então, ele trabalha não apenas pela satisfação pessoal com as vitórias no esporte, mas também por um motivo bem maior, exposto ao ser questionado sobre o que lhe faz, em meio às dificuldades encontradas no mundo das artes marciais, seguir no muay thai.

“A oportunidade de mudança de vida. Porque falar que é simplesmente pelo esporte, como muitas pessoas dizem, é mentira. Porém, o esporte me ajudou muito em vários quesitos, como na disciplina, em ser mais educado e calmo. Mas o foco real é a mudança de vida para a minha família.Tenho irmãos no Sul de Minas, em Juiz de Fora e em São Paulo”, conta.

O atleta radicado em Juiz de Fora treina seis horas por dia (Foto: Leonardo Costa)

“Roceiro” com orgulho

A pandemia do novo coronavírus veio e trouxe uma saudade, que certamente já não cabe no peito do atleta, do ringues. “Minha última luta foi em fevereiro, em São Paulo”, recorda o invicto lutador. “Antes da quarentena começar eu tinha um GP (Grand Prix), um campeonato de três lutas em São Paulo, em um dos maiores eventos de muay thai do Brasil. Já estava no processo de perda de peso e tudo, mas o evento foi suspenso pela pandemia. Se tudo ocorrer bem, em setembro volto a competir, participando de um outro campeonato, no Rio de Janeiro”, destaca.

Mas foi justamente de sua última luta que nasceu o que promete ser a assinatura de Dalmo, já tendo marcado o evento, além dos treinos e postagens do atleta em suas redes sociais: o chapéu.

“Quando disse que ia lutar em São Paulo (cidade de Suzano) e que sou de Juiz de Fora, alguns, por brincadeira maldosa, querendo denegrir minha imagem, falaram que ‘o roceiro estava saindo da roça para lutar na cidade grande’. Acatei como uma coisa boa e acabei entrando com um chapéu de peão antes da luta, na parte como se fosse um ritual de dança que temos no muay thai. Fiz como se estivesse capinando, mostrando minhas origens”, relembra Dalmo, que se surpreendeu com o resultado da atitude.

“Isso acabou refletindo tanto na cidade de Suzano quanto em São Paulo, porque foi parar em uma página de grandes lutadores de muay thai como a melhor luta. Acabou chamando a atenção esse meu jeito simples de ser. Virou um incentivo pra mim e gerou uma boa repercussão”, conta, orgulhoso.

Dalmo, entre o instrutor Felipe Fernandes e a cunhada Simone, parceiros de treino (Foto: Leonardo Costa)

Camp e patrocínios

Dalmo relata que não sentiu, inicialmente, fortes consequências financeiras em sua vida por conta da necessidade do isolamento social e diminuição das aulas como personal e competições na cidade e fora dela.

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“Como professor sempre fui muito regrado quanto aos meus ganhos e buscava guardar o máximo possível. E sempre digo que tenho um custo de vida muito barato. Com 23 anos, um jovem normalmente vai pra festas, gasta um dinheiro a mais com isso, mas eu sempre fui mais retraído nessa parte, justamente pensando em ter algo futuramente. Quando essa pandemia começou, me atrapalhou bastante, claro, mas minha questão financeira não foi tão atacada por isso. Quando vi que estava sem previsão de volta, veio a preocupação, apesar de eu ter poucos alunos como personal em função das minhas seis horas de treino diário, em média”, explica o atleta-professor.

Nesta semana, ele deixou a Zona Norte de Juiz de Fora e iniciou a participação de um Camp em Vitória, no Espírito Santo, focado no muay thai. Contudo, o esportista ainda busca auxílio financeiro para as diversas viagens programadas no caminho de seus sonhos.

“Ainda não tenho patrocínio que me ajude financeiramente para as viagens, por exemplo. Logo após esse camp no Espírito Santo vou para outro em São Paulo e isso obviamente gera despesas. Tenho parceiros que me ajudam com suplementos, em permutas, mas ainda busco um suporte financeiro”, explica Dalmo.

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