Há 34 anos, Tupi vencia a seleção do Catar em Juiz de Fora

Jogo realizado no Salles Oliveira terminou em 1 a 0 para o Carijó; zagueiro da época lembra qualidades adversárias, e ex-goleiro reforça “experiência única”


Por Davi Sampaio, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

18/12/2022 às 07h00- Atualizada 19/12/2022 às 08h37

Improvável imaginar, nos dias atuais, um time de futebol de Juiz de Fora disputar um jogo contra a seleção de algum país. Entretanto, há pouco mais de 34 anos, no dia 29 de junho de 1988, o Tupi enfrentava a seleção do Catar, nação que sedia a Copa do Mundo de 2022. A partida principal foi vencida pelo Galo Carijó, que atuou com seu time de juniores (sub-20), pelo placar de 1 a 0, com gol de Claudius Alexandre. Os atletas sub-17 da época também duelaram com os catarianos, mas empataram em 0 a 0. Ambas as partidas foram realizadas no estádio Salles Oliveira, no Bairro Santa Terezinha, Zona Nordeste da cidade.

O Tupi foi escalado no jogo principal, sob comando do técnico Moacyr Toledo, o Toledinho, com Luciano (Reginaldo); Magno, Nísio, Romualdo e Ronan; Volnei, Serginho e Sávio; Claudius, Bebeto e Albert (Jorge). Já o time sub-17 teve Régis; Marcelo, Moacir, Márcio e Luis Cláudio; Gilberto (Cazuza), Edmilson e Ticoleu; Robson (Danoninho), Zé Carlos (Rodrigo) e Valtencir (Israel), segundo arquivo da Tribuna de Minas.

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Jogadores jovens do Tupi alternados com visitantes catarianos no Salles Oliveira em 1988 (Foto: Reprodução / Jairo)

Tupi influente em terras cariocas

Um clube centenário, como o Tupi, colecionas diferentes histórias marcantes. No âmbito estadual, o mais conhecido é o episódio do “Fantasma do Mineirão”, quando a equipe venceu Cruzeiro, Atlético-MG e América-MG entre 1965 e 1966, no principal estádio de Belo Horizonte e de Minas Gerais. Já no nacional, é relevante o empate por 1 a 1 em um jogo-treino contra a Seleção Brasileira de Pelé, em 1966, na cidade de Caxambu, quando os jogadores se concentravam para a Copa do Mundo. Internacionalmente, o jogo contra o Catar foi um dos grandes momentos do Tupi, segundo o historiador e pesquisador do futebol carijó, Léo Lima.

“A partida pôde ser realizada pelo bom momento vivido pelo Tupi na década de 1980. Ficou apelidada de época de ouro. O Tupi tinha um contato muito forte no Rio de Janeiro. Foi o supervisor Danilo Batista, influente na Federação Carioca e na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que conseguiu esse amistoso. Era também um projeto do presidente do clube na época, Maurício Batista, expandir a sua marca pelo Brasil. Queria que o Tupi ficasse conhecido nacionalmente, e esses amistosos ajudavam nisso”, explica o historiador.

Ainda segundo Lima, jogos como esse ficam eternizados na história do clube. “A marca se expande, fica mais conhecida e valorizada. O nome da cidade se espalha também. Legal o Tupi ter esse registro, estar na marca da história do Catar, que hoje sedia a Copa do Mundo. Para a história, é muito importante. Tanto para o clube quanto internacionalmente”, avalia.

Da disparidade financeira a um vaso de flores de recordação

Nisio, ex-zagueiro carijó, com a tradicional camisa alvinegra (Foto: Arquivo pessoal)

A partida é ainda mais marcante para quem teve a oportunidade de disputá-la. A Tribuna conversou com o ex-zagueiro Nisio Cunha, titular no jogo principal. Segundo ele, a torcida compareceu em bom número mesmo com a partida realizada em uma Quarta-feira Santa.

“E também foi um jogo diferente, por ser outra escola. Tiramos fotos para mostrar a universalidade que é esse esporte. Eles tinham uma estrutura financeira invejável. Ficaram concentrados no Hotel Ritz, chegaram em um ônibus especial, farto de materiais de jogo. Nós, do Tupi, nos encontramos na hora do jogo. Morávamos atrás do Parque Halfeld e descemos a avenida como se fossemos para uma partida com os amigos”, se recorda Nisio.

O ex-zagueiro também do Sport Club Juiz de Fora acredita que a qualidade da seleção do Catar na época era elevada. “Bons jogadores, jovens e rápidos, com excelente técnica. Um padrão tático parecido com o que Marrocos usa na Copa do Mundo deste ano. Foi muito legal esse intercâmbio. Desde aquela época, víamos o progresso de outras escolas do futebol”, conta. Após o apito final, uma situação lhe marcou. “Trocamos as camisas no final do jogo e foi muito engraçado porque ganhei um vaso de flores como recordação”.

“Através do Tupi, sou o que sou”

Luciano, goleiro do Tupi contra o Catar, mostrou gratidão por experiência como arqueiro carijó (Foto: Arquivo pessoal)

A reportagem conversou também com o ex-goleiro Luciano Miranda, dono da meta Carijó na partida. “Nós tínhamos por volta de 20 anos. Bebeto era o centroavante, tinha o Claudius, já falecido, ponta-direita. O Ronan, lateral, jogadores de qualidade. Outros não recordo tanto. Mas é muito boa essa lembrança. Foi um jogo muito legal, todo mundo novo e com sonho de ser jogador profissional. Lembro do pessoal com muita ansiedade, pois seria o primeiro jogo internacional nosso. Ainda conseguimos vencer por 1 a 0”, conta o arqueiro da época.

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Na vida de Luciano, o Tupi teve importância não só esportiva, mas também profissional. “Tive que parar de jogar futebol profissionalmente porque já estava na faculdade e ficou difícil treinar. Mas foi um período muito bacana da minha vida. Experiência única, jogar com pessoas de outro país, de outra cultura. Inesquecível. E através do esporte, dessa vivência que tive no Tupi, sou o que sou hoje. Professor de educação física, concursado no Colégio Militar de Juiz de Fora, onde estou há 28 anos”, se orgulha.

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