Davi e Cauã, de 8 e 11 anos, são nossos Mbappé e Umtiti

Para esta dupla de atletas locais, Davi, 8 anos, e Cauã, 11, nada de Neymar, Coutinho ou Jesus. Os apelidos que ganharam em função de semelhanças físicas ou características do futebol têm mesmo é sotaque francês!


Por Bruno Kaehler

15/07/2018 às 07h00

Davi (à esquerda) e Cauã jogam das equipes sub-9 e sub-11 do Sport Club e cravam sua preferência para o jogo deste domingo: “Vou torcer pra França” (Foto: Felipe Couri)

Neymar? Philippe Coutinho? Thiago Silva? Que nada. Nos treinos dos times sub-9 e sub-11 do Sport Club Juiz de Fora dois dos atletas que se destacam são apelidados com nomes de craques do outro lado do Atlântico. Davi, 8 anos, mais conhecido em campo como Mbappé, e Walyson Cauã, 11, chamado de Umtiti, já gostavam das alcunhas dadas antes da Copa do Mundo. Imagine agora, com a França na decisão.
Com a bola no pé, a dupla mostrou personalidade ao encontrar a reportagem da Tribuna no clube juiz-forano em que fazem escolinha. Ao serem chamados pelos apelidos, o sorriso foi imediato. “(O apelido) é porque eu pareço com o Mbappé mesmo. Gosto muito e o ‘meu fã é ele’!”, conta Davi, que é atacante e diz parecer com o francês também nas quatro linhas.

Já Cauã – o Umtiti – é meio-campista e recebeu a alcunha antes mesmo de mudar de posição. “No ano passado, o Diego, meu treinador, me deu esse apelido e eu era zagueiro. Agora passei para o meio de campo. Mas acho que jogo parecido com o Umtiti!”, opina o jovem. Mas não seria melhor serem chamados de Neymar ou Thiago Silva, por exemplo, por serem craques do Brasil? “Prefiro esse apelido porque o Neymar não arrumou nada na Copa!”, crava Davi, seguido pelo companheiro de clube. “Prefiro Umtiti que Thiago Silva porque o Umtiti foi melhor na Copa”, justifica Cauã. Quando questionados sobre quem será campeão da Copa do Mundo neste domingo, na partida entre França e Croácia, pela final da Copa da Rússia, a resposta foi imediata. “Vou torcer pra França na final!”, gritam Davi e Cauã.

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Para o treinador do Sport, Fernando Henrique, os apelidos refletem um cenário cada vez mais comum nas turmas de futebol com crianças e adolescentes. “Temos visto muito essa questão dos meninos serem comparados com atletas de fora, principalmente nesse momento de Copa. Estão vendo que o Brasil foi eliminado, então outras seleções começam a ter visibilidade. E por ter os meninos parecidos com o Mbappé, Umtiti, Griezmann, a Bélgica também está muito em evidência, acabam se comparando a esses jogadores. Pelo Brasil é um pouco preocupante porque não dão tanta importância aos jogadores daqui, não os enxergam tanto como ídolos. Por serem mais novos, vendo uma nova geração de jogadores, eles não estão se espelhando tanto nos brasileiros, mas nos jogadores de seleções que estão se destacando no Mundial”, avalia.

Há 23 anos como massagista do Sport, Tererê não vê tantos apelidos de Romário e Ronaldinho entre as crianças, que acumulam conhecimento de atletas que atuam no exterior com cada vez mais facilidade. “Antigamente falavam mais nos jogadores brasileiros, e hoje veem os estrangeiros após a eliminação da Seleção Brasileira. Esses meninos passaram a se espelhar e se sentem mais à vontade em falar dos jogadores lá de fora do que dos brasileiros”, relata.

Apoio incondicional da família

Antes de Mbappé e Umtiti, os jovens são Davi e Cauã, estudantes e filhos apoiados plenamente por seus familiares. Desde o primeiro contato com a bola até os apelidos, lá estavam os pais observando cada passo. “Quando o Davi era pequenininho, comprei uma bola para ele e vi que ficava dominando ela. Percebi que iria gostar de futebol. Coloquei ele no Sport (em 2014), começou a treinar e foi evoluindo até chegar no estágio em que está. Muitos colegas dizem que ele tem muita semelhança com o Mbappé pelo estilo de jogo”, conta o taxista Wilson Benedito Júnior, pai de Davi, que mora no Bairro Costa Carvalho.

O talento não foi reconhecido apenas pelos pais e pelo clube, como conta a enfermeira Marisângela Abreu Rodrigues, mãe de Davi. “Há pouco tempo ele passou em uma peneira do Flamengo, vai para lá treinar no sub-9 deles. Está só evoluindo. Não tenho a conta de quantas bolas ele já furou ou perdeu! Independente do que ele for, continuará sendo nosso filho amado. Mas acho que tem muito futuro e talento. Estamos sempre presentes, vamos para o Flamengo com ele, que vai ficar alguns dias e voltar porque pela idade não pode ficar lá. Deixou 35 meninos para trás na peneira”, conta, orgulhosa.

Juliana Cruz dos Santos, mãe de Cauã, também revela mudanças para apoiar o filho no futebol. “Desde pequeno ele via os jogadores profissionais e isso partiu dele mesmo. Nós somos de Rio das Flores, mas há um ano ele ganhou a bolsa para vir treinar no Sport e resolvemos largar tudo e vir em busca do sonho dele. É isso que ele quer e estamos lutando para ajudar a realizar o sonho dele”, revela a hoje moradora do Bairro Ipiranga.

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