Jovem de 16 anos dá uma guinada completa através do kickboxing

De gordinho vítima de bullying a campeão de kickboxing, José Antônio Cabral, o quinto entrevistado da série “Incríveis”, que mostra histórias de superação, deu uma guinada graças ao esporte


Por Júlio Black

14/01/2018 às 07h00- Atualizada 15/01/2018 às 18h53

“Eu pratico o esporte desde o dia 3 de março de 2015. Guardo na memória porque mudou minha vida. Eu tinha menos de 1,60 metro e pesava 82kg, sofria bullying na escola. Quando disse que queria competir, dar aula, a galera ria de mim, mas treinei, emagreci e hoje todo mundo me respeita”. (Foto: Leonardo Costa)

Quem já passou pela adolescência sabe que esta é uma fase danada de difícil, em que é muito fácil a timidez, o bullying, a escola, o sedentarismo fazer com que o futuro adulto se torne uma pessoa fechada, sem confiança. Mas daí que o esporte pode ser o mecanismo capaz de virar o jogo a seu favor. Este é o caso do juiz-forano José Antônio Verdeiro Cabral, 16 anos, o quinto entrevistado da série “Incríveis”, que mostra histórias de superação através do esporte. Ele conquistou, no final do ano passado, o título na categoria peso galo (61,2 kg) do 3º Campeonato Brasileiro Seishinkaikan Ring Sports, na modalidade K1 Rules, ao derrotar por nocaute o seu adversário na única luta, que já valia a final. Foi o seu terceiro título em 2017 nos quatro torneios que já disputou.

Os três cinturões conquistados por ele (os outros foram o do Campeonato Brasileiro de Kickboxing, em maio, e o da Copa Brasil de Muay-Thay, em agosto) marcam mais do que o triunfos na modalidade. São os efeitos visíveis na mudança que o jovem resolveu dar em sua vida há quase três anos, quando decidiu praticar o kickboxing para por fim à vida sedentária de então, que se resumia a comer e ficar na frente da TV, do computador, ou grudado no celular. Foi tão marcante que ele lembra até hoje do dia em que procurou a Academia Shint Gym, no Milho Branco, bairro onde mora.
“Eu pratico o esporte desde o dia 3 de março de 2015”, relembra, orgulhoso. “Guardo na memória porque mudou minha vida. Eu tinha menos de 1,60 metro e pesava 82kg, sofria bullying na escola. Quando disse que queria competir, dar aula, a galera ria de mim, mas treinei, emagreci e hoje todo mundo me respeita.”

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A vontade de praticar o esporte surgiu, por ironia, graças à televisão, onde assistia às lutas. Ele chegou a tentar treinar em casa, tentando copiar o que assistia no YouTube, mas não conseguia. O jeito foi pedir à mãe, Célia, para treinar em uma academia. Ela ficou surpresa com o pedido, mas apoiou a decisão do filho.

“Quis ir para a academia tanto para lutar quanto para emagrecer, mas o início foi muito difícil, não conseguia sequer correr. A perna não levantava quase nada, qualquer soco eu quase desmontava (risos).” Apesar da dificuldade inicial, José Antônio não desistiu, nem mesmo quando aconteceu a separação dos pais. A mãe se mudou para o Rio de Janeiro, mas ele ficou em Juiz de Fora porque somente aqui poderia continuar os treinamentos. “Eles continuam me apoiando, apesar do medo que me machuque.”

“Golpe” psicológico para dar um empurrãozinho

(Foto: Leonardo Costa)

 

O primeiro professor de José foi Edson Dias Moreira Junior. Ele lembra que a evolução do adolescente, carinhosamente apelidado de “Gordinho” pelo colegas, foi gradativa, com coisas bem básicas e treinando com outras crianças. “O fato de estar acima do peso fazia com que ele quisesse parar no meio dos exercícios, mas a gente incentivava”, conta. “Não tinha como sabermos se ele seria um grande lutador, ainda mais por conta da estatura, mas não desistimos.”

A perda de peso foi uma das questões que mais desanimava o jovem, que via outros colegas disputando e vencendo torneios enquanto ele não emagrecia, mas para animá-lo Edson e seu irmão, Thiago Souza Moreira, também professor e lutador, colocaram José Antônio como um dos auxiliares de ringue durante as lutas. “Ele vibrava, gritava, o juiz até chamava a atenção dele (risos)”, relembra Thiago.

A melhor maneira de colocar o rapaz no ringue, porém, foi com um pequeno “golpe” psicológico. “Ele estava com 77kg em março, e a gente queria colocá-lo como peso galo (61kg), mas dissemos a ele que nosso objetivo era inscrevê-lo nos torneios como peso mosca (56kg). Ele conseguiu alcançar os 61kg em pouco meses, mas daí tivemos que colocá-lo na categoria peso pena (até 65 kg) por falta de adversários no peso galo”, conta Thiago. O emagrecimento foi obtido com a redução gradual das refeições e muito exercício: oito a dez horas diárias de treinamento e mais oito a 10km de corrida, o que deixou o rapaz fininho e ágil. “Mas depois das competições a gente pode relaxar por alguns dias”, conta José. “Eu até comi um cachorro-quente, mas não pedi o maior (risos).”

Agora, o objetivo de Edson e Thiago é colocar José Antônio em uma academia de musculação para que ele possa enfrentar adversários mais fortes, além de buscar patrocínio para as competições futuras – como a agendada para o segundo final de semana de dezembro em Cabo Frio (RJ). “São muitos gastos, como transporte, hospedagem, dieta, materiais para competição”, destaca Thiago.

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Mais leve e tranquilo

(Foto: Leonardo Costa)

Apesar do esporte ser coisa séria, José Antônio Cabral não tira o sorriso do rosto quando treina e nem mesmo durante as fotos para a reportagem. O que se vê é um garoto feliz e bem resolvido consigo mesmo após o início da prática do kickboxing, e que não deixa de manter a simplicidade e espontaneidade da juventude. “Ele estava rindo na sua primeira luta pra valer, o árbitro até veio nos dar uma bronca. Quando fomos falar com ele, disse que não estava debochando do adversário, e sim feliz por estar ali”, relembra Thiago.

Quando o assunto é o emocional, José Antônio não esquece da primeira vitória. “Assim que o árbitro determinou o final da luta eu deitei no ringue e comecei a chorar”, lembra o jovem, acostumado com o receio que é substituído pela tranquilidade quando começa a luta. Essa postura, aliás, está presente em outros momentos de sua vida. “Ficava muito nervoso quando ia fazer uma prova (ele estuda na Escola Estadual José Freire, no Bairro Industrial, e está no 1º ano do ensino médio), mas hoje fico tranquilo. Eu também era muito fechado, tímido, mas hoje estou mais solto, com mais facilidade para fazer amizades, tenho mais autoestima, confiança, disciplina”, assegura, sorridente, o jovem que já treina também jiu-jítsu para realizar outros sonhos: participar de torneios do K1 Rules, WGP e, quem sabe um dia, MMA e o UFC.

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