Sapo de fora: Divagações futebolísticas


Por Roberta Heluey, estagiária sob supervisão do editor Wendell Guiducci

13/06/2018 às 07h00

Nasci no ano em que o Brasil conquistou o título de tetracampeão da Copa do Mundo. De lá pra cá vivenciei sete campeonatos mundiais. Meu histórico em relação ao futebol deixa claro que nunca fui muito ligada ao esporte. Na infância, era chamada pelos meus primos como a famosa “vira-folha”, variando minha escolha entre Atlético-MG e Cruzeiro, já que, na minha cidade natal, Barbacena, os dois times são os mais famosos. Meu primo, o mais velho de 21 netos da minha avó, resolveu que uma das missões da vida dele seria coagir todos os outros primos a descobrirem sua paixão pelo Galo. Depois de muita insistência, ele foi vitorioso nesse batalha.

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Voltemos à Copa. A primeira lembrança vaga que tenho é a comemoração de 2002. A única memória que vem à tona sou eu me acabando em lágrimas enquanto balançava a bandeira do Brasil na carroceria de um Kia Bongo 1994, do saudoso Tio Tista. A Copa de 2014 terá sempre um espaço nessa memória curta e no coração grande. Há quatro anos morava em Ouro Preto, e motivo para festejar é o que não falta naquele lugar. Dias de jogo do Brasil surgiam mil e uma opções de repúblicas que transmitiam a partida. Independente do lugar, certas coisas eram as mesmas: pessoas de verde, amarelo e azul, goles na cerveja gelada alternada com os tradicionais xingamentos ao juiz e o abraço coletivo a pessoas que antes do jogo eram apenas desconhecidos.

Acompanhei alguns jogos nos bares de Belo Horizonte, sede de algumas partidas. Eu e uma amiga de 1,83m de altura entramos no meio da torcida dos argentinos que faziam uma espécie de moshy futebolístico, cantando e pulando ao som de “Brasil, decime qué se siente, tener en casa tu papá, te juro que aunque pasen los años, nunca nos vamos a olvidar…” – uma canção que grudava na cabeça igual chiclete e que, pelo excelente ritmo, fez centenas de brasileiros deixarem de lado a rivalidade e encherem o pulmão para cantar uma música que no final afirmava que Maradona era melhor que Pelé.

É aí que aparece pra mim o que tem de mais bonito em Copas do Mundo. Compartilhamos a felicidade da vitória e a indignação da derrota com desconhecidos. Deixamos de lado a preocupação da vida adulta para reavivar nosso lado criança, seja pintando o rosto com as cores do Brasil, seja gastando uma parte do salário com buzinas, vuvuzelas, bandeirinhas e apetrechos para decoração. Conseguimos finalmente tirar do papel aquele plano de happy hour com as pessoas do trabalho. E quem não é ligado muito em futebol, igual a mim, passa a anotar na agenda todos os dias de jogo do Brasil e se emociona com o time.

Em uma época em que a moda é problematizar tudo, há quem diga que a Copa é mais uma demonstração da política do pão e circo. Quem me conhece sabe que, como boa aquariana, gosto de problematizações e conversas reflexivas, mas não enxergo cabimento em quem critica o evento. Acredito que na vida devemos pesar os pontos positivos e negativos e na balança acho que abraços, lágrimas de emoção e comemorações pesam mais do que o discurso “na atual situação política do país, esses brasileiros (quem fala é o brasileiro que não se inclui como brasileiro) esquecem os problemas e só se preocupam com futebol…”. Uma coisa não afeta a outra. Eu posso torcer para o Brasil conquistar o hexacampeonato e continuar informada e fazendo a minha parte para um país melhor. Uniremo-nos então na mesa do bar para compartilhar a emoção do jogo e também nas ações diárias para fazer o Brasil vitorioso no futebol e na qualidade de vida.

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