Fisiculturista Ester Ferreira supera acidente e chega ao topo do ranking mundial

Atleta radicada em Juiz de Fora lidera categoria Women’s Physique, até 1,63m, em apenas dois anos de esporte


Por Bruno Kaehler

13/05/2018 às 07h00

Ester começou no fisiculturismo em 2016 e, de lá para cá, foi campeã mineira overall; campeã brasileira, bronze no Sul-Americano e conseguiu o overall do Arnold Classic (Foto: Marcelo Ribeiro)

O que em 2010 pareceria um sonho, em 2018 é a realidade da personal trainer Ester Ferreira. Após sofrer um acidente de carro há oito anos e viver um drama, a atleta se apaixonou pelo mundo do fisiculturismo e conquistou, de 2016 para cá, a liderança do ranking mundial da IFBB (Federação Internacional de Fisiculturismo e Fitness) na categoria Women’s Physique até 1,63m. A posição foi alcançada após o título na categoria e no geral (overall) do Arnold Sports Festival da América do Sul, no último mês de abril, em São Paulo (SP), quando a fisiculturista de 31 anos bateu também a campeã da categoria acima de 1,63m.

“Foi tudo uma surpresa. Ainda não consigo explicar qual é a sensação. É surreal e sempre será. O fato de você estar em cima de um palco e conseguir agradar aos olhos da arbitragem e o público, e conseguir overall do Arnold e o primeiro lugar no ranking mundial, a sensação é realmente surreal. Não esperava em dois anos e vamos ver o que vem pela frente”, conta a atleta.

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O sorriso de Ester é motivado não apenas pelo resultado, mas pelo gosto de superação. Nascida em Santos Dumont, mas radicada em Juiz de Fora, a fisiculturista tem cicatrizes que levará para a vida. “Tive um acidente no final de 2010. Estava pilotando e um rapaz veio na contramão na estrada e teve a colisão. Tive fratura exposta na perna esquerda, rompimento de 100% dos ligamentos do tornozelo, deslocamento de quadril, então foi tudo para me tirar da minha área de atuação”, relembra.

Quando mais dificuldades apareceram, Ester deu a volta por cima. “Os médicos disseram que eu tinha risco até de amputar a perna. Mas veio aquele espírito de esportista e saber que com a musculação e qualidade de vida, conseguiria superar. Voltei à musculação para fazer a adaptação, melhorar o condicionamento e a atrofia. Por sempre treinar, consegui um resultado em dez meses. Em seis meses larguei a fisioterapia e em dez voltei devagar para a musculação”, lembra.

A evolução ocorreu e o fisiculturismo entrou em cena em 2016. “Disputei três campeonatos naquele ano. No primeiro estive na categoria Welness (de físico menos musculoso e esteticamente agradável, segundo definição da IFBB), uma categoria errada para mim, em que entrei de gaiato só por curiosidade, e depois me apresentaram à minha verdadeira categoria, a women’s physique. Nela fui terceiro lugar no Mineiro de 2016, e segundo lugar em uma Copa de Juiz de Fora. Em 2017 as coisas foram melhorando. Fui campeã mineira overall; me classifiquei para Brasileiro, e fui campeã. Daí me classifiquei para o Sul-Americano, na Argentina, e fui bronze. No meu primeiro campeonato de 2018 consegui o overall do Arnold Classic.”

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Alimentação restrita e rotina disciplinada

Ao acordar, Ester faz o aeróbico em jejum, na esteira ou na bicicleta. Ela treina três turnos por dia (Foto: Marcelo Ribeiro)

Em sua categoria, Ester conta que se busca “o máximo de definição muscular possível com o mínimo de percentual de gordura. Antes de subir no palco, conseguimos o que chamamos de mágica do shape, que é quando você acorda e está, de certa forma, com a pele colada no músculo. Mas o que tem que priorizar, acima de tudo, é o físico feminino. Quanto mais feminina, melhor.” Para isso, as regras limitam a alimentação intercalada com os treinos.

“Temos que respeitar no mínimo as oito horas de sono, mas não conseguimos na maioria das vezes. Acordamos e fazemos o aeróbico em jejum, na esteira ou bike. Ainda tenho mais uma hora de treino de dia e um cardio antes de dormir. São três turnos de treino. E a alimentação é muito restrita. Falamos que é a galera do frango e da batata doce. São proteínas mais concentradas, com o mínimo de gordura. Geralmente utiliza-se o filé de frango, a clara de ovo e o peixe, que prefiro a tilápia. A batata é um carboidrato de baixo índice glicêmico, tem a mandioca… são várias coisas, porém cada organismo se adapta de um jeito”, explica.

Ester diz que precisa enfrentar o preconceito das pessoas em relação ao seu físico. “A minha categoria é a da mulher musculosa, vamos dizer assim. Então há preconceito no visual. Algumas pessoas me olham com admiração, e eu consigo mostrar para elas a beleza da mulher, independente dos músculos. Outras ficam com um olhar assustador, principalmente próximo da época de campeonatos, em que costumo ficar mais sequinha. Mas você tem que seguir seu sonho. Não atrapalhando sua saúde ou o próximo, o negócio é ser feliz.”

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“Algumas pessoas me olham com admiração, e eu consigo mostrar para elas a beleza da mulher, independente dos músculos. Outras ficam com um olhar assustador”, conta Ester (Foto: Marcelo Ribeiro)

Profissionalismo
Com a conquista no Arnold Classic, Ester recebeu o direito ao Pro Card, o que lhe permite competir profissionalmente. Até lá, ela tem várias competições pela frente. “Tenho o Mineiro, em junho, o Brasileiro, em julho, e o Sul-Americano, no Paraguai, em setembro. Ainda não sei se fico no amador ou se pego profissional. Vai muito pelo patrocínio. As coisas começam a melhorar, mas exigem mais da parte financeira, então preciso de apoio para continuar. É um esporte em que você tem que investir na alimentação, suplementação, nos manipulados. Precisamos de um retorno.”

Seja qual for seu futuro, a trajetória de Ester não é comum. “Me considero uma pessoa mais que vitoriosa. Poderia ter ficado sem a perna e hoje estou em primeiro lugar no ranking mundial, onde preciso mostrar realmente meu físico. É inexplicável, um milagre de Deus.”

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