Campeão sul-americano sub-20, Luiz Maurício treina com bola de meia e ainda sonha com pódios no ano

Lançador de dardo foi contratado pelo Exército, deve ir à área militar no Rio de Janeiro nesta segunda e pode retomar os treinos convencionais após quatro meses de atividades em casa


Por Bruno Kaehler

12/07/2020 às 06h59

Luiz Maurício já é considerado um dos principais nomes do Brasil no lançamento de dardo (Foto: Leonardo Costa/Arquivo TM)

Luiz Maurício Dias da Silva, 20 anos, não vê a hora de voltar a lançar um dardo, uma de suas maiores paixões. Campeão brasileiro e sul-americano sub-20, além de prata no Pan-Americano da categoria no ano passado, o juiz-forano mantém o foco nesta quarentena com treinamentos regulares em casa, em parceria com o seu treinador, Jefferson Verbena, do Cria UFJF, projeto de atletismo da universidade local. A distância do lançamento, que requere um espaço como o de um campo de futebol, como na Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid), local de treino do atleta, mas que está fechado por conta da pandemia do novo coronavírus, tem sido o maior desafio do esportista.
“Ficar sem lançar é o mais complicado, sem dúvida. Tudo você quer imitar os movimentos do lançamento”, conta Luiz Maurício, que não sabe o que é realizar um treinamento em condições normais há quatro meses. “Eu venho fazendo exercícios de fortalecimento e alguns técnicos também, de casa. Agora que estou saindo um pouco para fazer algumas atividades e desenvolver a técnica da corrida “, explica à Tribuna.

Seu técnico, Jefferson, explica que, como a prioridade é resguardar a saúde de todos neste momento, do ponto de vista do rendimento desportivo, a ideia é minimizar as perdas. “Não estamos preocupados se ele vai ter um ganho de performance durante este período pelas limitações que temos. Ele montou alguns pesos através de material alternativo, tem feito bastante treinamentos com o peso corporal também. E em alguns momentos, no próprio bairro dele, no Nossa Senhora de Fátim, consegue fazer uma corrida quando não tem nenhum ou pouco movimento. Estamos nos adaptando e a expectativa que tínhamos de aproximar da marca dos 80 metros não sabemos mais como vai ser. Temos que preservar a integridade dele, a minha e de nossos familiares primeiro”, ressalta o professor.

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Para seguir desenvolvendo a técnica do lançamento do dardo de casa e, ao mesmo tempo, diminuir, dentro das possibilidades, a saudade da prática tradicional da modalidade, Luiz Maurício conta que realiza, de forma constante, um exercício prático para qualquer profissional ou aspirante no esporte. “Eu estava lançando bolinha de meia na parede. Já fazia isso mesmo sem a pandemia. Vou enrolando até ela ficar pesada, também usava uma bola de 1kg da UFJF. Ajuda muito porque tem a questão do controle do braço, da técnica que você usa no lançamento, o ponto final. E tem os exercícios de fortalecimento que são aqueles básicos, como flexão, agachamento e afundo”, cita o lançador.

Meta afetada e estudos em dia

Luiz Maurício possui a marca de 74,51m como a melhor de sua carreira. Como Jefferson destacou, no entanto, a busca pelo novo recorde pessoal em 2020, próximo da casa dos 80 metros, sofreu um freio na prática e se tornou uma incógnita. “Nossa temporada começou, na verdade, em 2019. Como sempre fazemos, iniciamos no ano anterior com o planejamento e objetivos de mais uma medalha no Troféu Brasil e também nos campeonatos Brasileiro e Sul-Americano sub-23. Além da expectativa bem grande de buscar uma marca próxima dos 80 metros. Era o que tínhamos em mente para este ano”, contextualiza o técnico.

Com a pandemia, todas as competições, naturalmente, foram suspensas. Apesar da distância do recorde pessoal se mostrar um pouco maior na teoria, Luiz Maurício aproveita as horas em casa para ganhar conhecimento na modalidade. “Como não sei quando vou voltar à normalidade dos treinos, o que é muito importante pra conseguir resultados, é difícil ter um objetivo ainda nesse ano relacionado a marca. A hora mesmo é de aprender um pouco mais nessa quarentena. Vi um documentário, por exemplo, e vários vídeos sobre lançamento de dardo para ir aprendendo. E se você voltar e já querer correr atrás do prejuízo muito rapidamente, pode machucar. Mas se não forçar um pouco também, não tem resultados, então é preciso achar um equilíbrio”, esmiuça o atleta.

Apoio do Exército, calendário divulgado e motivação extra

Luiz Maurício e o técnico, Jefferson, têm mantido a comunicação mesmo à distância (Foto: Arquivo pessoal)

São numerosos os relatos de atletas, mesmo de alto rendimento, que diminuem a carga de treinamento em casa, com o passar do tempo, pela falta de motivação por conta da quarentena e consequentes limitações também nos exercícios. No caso de Luiz Maurício, o treinador Jefferson, que mantém contato com o atleta por meio de ferramentas on-line, enfatiza sua maturidade.

“Ele sabe a importância de se manter motivado para executar esses treinamentos. Lógico que às vezes fica um pouco mais desanimado por não estar, por exemplo, conseguindo lançar o dardo, que é uma parte extremamente fundamental dentro do processo. Mas como atleta ele sabe que são coisas que podem acontecer e precisa enfrentar mais essa situação e seguir envolvido com as atividades”, destaca.
E apesar do período de reclusão, Luiz Maurício ganhou um motivo para se manter compenetrado nas atividades em casa até o fim da pandemia. “Em março eu comecei a fazer parte do time de atletas de alto rendimento do Exército brasileiro”, expõe o lançador, que, como a maioria dos atletas da cidade, evolui paralelamente às dificuldades financeiras pela falta de apoio.

Na última semana, uma notícia ainda fortaleceu a sequência do planejamento da dupla do Cria UFJF. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) divulgou o calendário da modalidade até o fim de 2020. Luiz Maurício tentará participar e buscar o lugar mais alto do pódio no Campeonato Brasileiro sub-23, programado para ocorrer em outubro, do Sul-Americano da categoria, agendado para novembro, e do Troféu Brasil, na mesma faixa etária, com a previsão de realização em dezembro. Todas as competições ainda não possuem local definido.

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Em meio às incertezas, uma possibilidade de deixar, mesmo que momentaneamente, a bolinha de meia, pelo dardo, já eleva o entusiasmo do atleta. “Agora apareceu uma oportunidade de ir ao Rio (de Janeiro), em uma área militar. Vou me apresentar ao Exército provavelmente nesta segunda e fico até 7 de agosto”, revela Luiz Maurício. “Com a previsão dos campeonatos, vamos tentar especificar mais os treinos. E com ele se apresentando ao Exército vamos ver como será a situação. Pode, de repente, ficar lá um tempo e nos organizamos de acordo com o que for acontecer para seguir o preparando para as competições”, projeta Jefferson.

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