Italianos radicados em Juiz de Fora lamentam a ausência da Azzurra na Copa
Italianos radicados em Juiz de Fora lamentam o vazio deixado pelo Azurra no Mundial que começa quinta-feira
As principais seleções já estão na Rússia para a Copa do Mundo que começa nesta quinta-feira. Mas, dessa vez, os fãs da tetracampeã Itália vão precisar escolher outra equipe para torcer. Tristeza para a colônia italiana em Juiz de Fora, que conta com pelo menos 800 pessoas, entre imigrantes e descendentes. Isso porque, depois de conquistar a Copa da Alemanha em 2006, a Azzurra vem amargando seguidos vexames. Foram duas desclassificações ainda na fase de grupos, nos Mundiais de 2010 e 2014. Mas nada comparado com o desgosto da não classificação para a atual competição.
A derrota para a Suécia na repescagem tirou a Itália da Copa do Mundo pela primeira vez desde 1958. Decepção para milhares de fãs da Azzurra espalhados pelo mundo, como o agente consular italiano em Juiz de Fora, Pietro Ventozo, de 64 anos, que não assistirá o selecionado de seu país na Rússia.
O representante do Governo italiano na cidade viu grandes momentos de sua esquadra azul no Brasil, como a vitória na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, e o vice nos Estados Unidos, em 1994. Mas, para ele, a seleção de 1982 foi a melhor. ”Aquele momento foi inesquecível para o povo italiano, quando eliminamos os sul-americanos Brasil e Argentina e, mais tarde, vencemos a final contra a Alemanha. Tinha o Paolo Rossi, Tardelli, Bruno Conti e outros grandes jogadores’.’
Mesmo com a derrota para o Brasil, a final de 1970, está na memória de Pietro, torcedor da Inter de Milão. “A final do Mundial do México foi fantástica, mesmo com a derrota por 4 a 1. Lembro que foi um jogaço, mas que estava muito equilibrado no primeiro tempo, após o gol de Boninsegna. Nós perdemos, mas a Seleção Brasileira era muito boa com Pelé, Jairzinho, Rivelino.”
Muitos gringos
Apesar da riquíssima história, os resultados atuais frustram Pietro, que mora há 31 anos em Juiz de Fora. O excesso de estrangeiros nas grandes equipes italianas é apontado por ele como um problema para a seleção nacional. ”Sempre gostei de esporte, gostava muito do futebol italiano quando tinha regras que impossibilitava um time inteiro de estrangeiros. Por isso que a Itália naquela época era uma equipe muito forte. Quando o técnico convocava a seleção, era com os principais jogadores das grandes equipes italianas’.”
Mesmo com a rivalidade dentro da história das copas, o cônsul italiano afirma que vai torcer para o Brasil na Rússia. ”Brasil só perde esse Mundial se acontecer uma tragédia, como uma lesão de jogador importante’.’
Ligações históricas
Os italianos contribuíram muito para a construção do Brasil, entre o final do século XIX e o início do XX. A substituição da mão de obra escrava por imigrantes foi fundamental para o crescimento do país. No futebol, a rivalidade é grande. Se os italianos sofreram com Pelé, Jairzinho, Carlos Alberto em 1970, e Romário, Taffarel e Bebeto em 1994, os brasileiros não esquecem até hoje a figura de Paolo Rossi, que marcou três vezes contra a Seleção Canarinho de 1982. Também a admiração pelo futebol brasileiro é enorme entre os italianos, já que grandes nomes marcaram a história nas equipes daquele país, como Falcão, Ronaldinho e Kaká.
Nascido na Itália, o empresário Stefano Comotti, 54 anos, é casado com uma brasileira e se mudou para Juiz de Fora 12 anos atrás. Apesar das ligações familiares, o motivo principal da admiração pelo Brasil vem das origens italianas do nosso povo: ”O emocional é muito forte no povo latino. Boa parte do povo brasileiro é oriundo da Itália. Palmeiras e Cruzeiro são grandes equipes do futebol brasileiro que vêm da cultura italiana”. Apesar da simpatia pela seleção da Croácia, Stefano, que torce para o Cruzeiro no Brasil, vai apoiar a Seleção de Tite na Copa da Rússia, e descarta qualquer torcida para um freguês histórico.
Algoz do Brasil na última Copa do Mundo, a Alemanha nunca venceu os italianos em Mundiais. Foram cinco confrontos, com três vitórias da Itália e dois empates. As duas equipes protagonizaram um dos jogos mais importantes da história do Mundial, na semifinal da Copa de 1970. A vitória da Azzurra por 4 a 3 colocou frente a frente Brasil e Itália na decisão daquele torneio. Stefano conta emocionado da amizade com o conterrâneo Giacinto Facchetti, lateral-esquerdo daquela seleção, falecido em 2006. ”Ele me confidenciou uma vez que, quando o Brasil chegava na área, os defensores da Itália não tinham reação. Inclusive que ficou tonto após marcar Jairzinho!”
Ventura
Escolhas erradas de dirigentes de futebol prejudicam o desempenho dentro das quatro linhas na visão de Stefano. A escolha de Giampiero Ventura é apontada pelo empresário como um dos principais motivos de a Itália não disputar a Copa do Mundo. ”Colocaram um treinador sem histórico de vitórias e a consequência disso foi o que aconteceu. Quando se tem camisa, isso conta muito.” Apesar disso, a escolha de Roberto Mancini como novo treinador agradou aos italianos em Juiz de Fora. O que resta agora para os torcedores da Azzurra é assistir tudo pela televisão e se preparar para a Copa do Qatar, em 2022.