Fisioterapeuta formado em JF é selecionado em prêmio internacional de medicina esportiva

Estudo publicado por Fábio Oliveira foi escolhido pela revista acadêmica Sports Health para premiação que acontece no Colorado (EUA)


Por Gabriel Silva

10/07/2022 às 07h00

“Quem disse que Juiz de Fora não pode se destacar a nível internacional?”, questiona o fisioterapeuta Fábio Oliveira em conversa com a Tribuna. A resposta é dada por ele mesmo – ou melhor, por sua trajetória. Profissional formado pela Unipac em Juiz de Fora e com histórico de participação na equipe do tenista Radu Albot durante o US Open, em 2020, Fábio teve um estudo selecionado para um prêmio internacional de medicina esportiva, conferido pela revista acadêmica Sports Health, e se prepara para participar da cerimônia de premiação que acontece no próximo dia 15 de julho na cidade de Colorado Springs, no estado do Colorado, nos Estados Unidos.

A pesquisa do fisioterapeuta de 42 anos selecionada para o prêmio é voltada para o tratamento de dores no ombro, um acometimento comum do cotidiano que chega a manter os sintomas por até um ano. “A nossa ideia era, de alguma forma, acelerar o processo de reabilitação e diminuir o período em que as pessoas sentem esses sintomas. Além, claro, de encontrar recursos terapêuticos que possam proporcionar um benefício para o tratamento desse tipo de lesão”, explica Fábio.

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O levantamento se debruçou sobre o kinesiotaping, método de tratamento que consiste na colagem de fitas adesivas que promoveriam estímulos sensoriais e mecânicos na pele para auxiliar na recuperação. O recurso, segundo o fisioterapeuta, é muito popular em clínicas especializadas no tratamento de lesões e também é utilizado frequentemente no tênis, área em que Fábio atua. “A gente estava realmente muito curioso para tentar entender como esse recurso poderia ser benéfico para o tratamento das dores no ombro”.

Profissional formado na cidade também tem passado vitorioso como atleta de taekwondo (Foto: Arquivo pessoal)

A pesquisa

Para analisar a eficiência do kinesiotaping como alternativa de tratamento para dores no ombro, a pesquisa analisou a metodologia da bandagem quando adicionada ao tradicional programa de reabilitação baseado em exercícios. A ideia era identificar possíveis benefícios, como a aceleração da recuperação, que as fitas adesivas poderiam gerar aos tratamentos.

O pesquisador, então, recrutou 52 pessoas acometidas pelo problema para fazer parte do estudo. Os participantes foram divididos em dois grupos de igual tamanho, um que recebeu o tratamento convencional baseado em exercícios e outro que, além da reabilitação convencional, também recebeu o kinesiotaping. O objetivo foi identificar como a metodologia da bandagem poderia apresentar vantagens.

“Nós avaliamos as limitações funcionais provocadas pela lesão, o nível de dor, a amplitude de movimento”, conta Fábio. “Comparamos um grupo ao outro e chegamos à conclusão de que a adição do kinesiotaping não proporcionou nenhum tipo de benefício (em comparação) ao tratamento que foi prestado ao grupo controle, que recebeu apenas o programa de habilitação convencional baseado em exercícios”, sentencia o profissional.

Fábio trabalha com tenistas em competições internacionais (Foto: Arquivo pessoal)

Pesquisa duradoura e de grande impacto acadêmico

A pesquisa foi realizada pelo fisioterapeuta ao longo de três anos como elemento central do projeto de doutorado de Fábio, realizado no Canadá. “Eu participei diretamente de todas as etapas desse projeto de pesquisa, desde a montagem de design, recrutamento e tratamento”, diz, orgulhoso. Apenas as fases de mensuração de resultados foram realizadas por um estagiário pós-doutoral, para evitar enviesamento.

Cerca de um ano após a pesquisa ser publicada, ela chegou a figurar entre os assuntos mais comentados no Twitter. O reconhecimento chegou até a Sports Health, com a premiação na categoria “Best Original Research Paper” (melhor artigo de pesquisa original) do “2022 Sports Health T. David Sisk Award”. “É uma grande oportunidade de aumentar minha rede de contatos internacionais. Grandes nomes da pesquisa vão estar lá”, diz Fábio sobre a cerimônia que vai acontecer em território estadunidense. O prêmio ainda confere ao ganhador 2,5 mil dólares.

Legado para Juiz de Fora

Para o pesquisador, o reconhecimento internacional do trabalho recebido por ele é também um fator motivador para os acadêmicos juiz-foranos. “Quem disse que Juiz de Fora não pode se destacar a nível internacional? Eu vim da cidade e me formei em JF”, diz Fábio. “Eu falo de Juiz de Fora, mas essa importância pode se estender ao Brasil todo. A ciência, para os brasileiros, ainda não tem grande representatividade no mundo, mas nós temos grandes pesquisadores e podemos ser premiados”.

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Bolsista na Unipac quando estava na graduação, Fábio ainda lembrou que apenas conseguiu se formar em fisioterapia em função do esporte, história que contou à Tribuna em matéria publicada em 2020. Para ele, a trajetória de sucesso internacional mostra que é possível seguir no ramo acadêmico mesmo tendo origem humilde. “É possível seguir carreira científica mesmo vindo de uma origem pobre e sendo negro. Não são impeditivos. É um bom incentivo para jovens da periferia, jovens negros e pobres, que têm muita dificuldade em seguir na carreira acadêmica”.

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