Futebol de salão dos anos 1960 e 1970 em JF é relembrado em livro

“Dentro da área não vale”, de Carlos Salomão Musse e Márcio Itaboray, é lançada nesta quinta-feira (11), no Clube Bom Pastor


Por Bruno Kaehler

10/04/2019 às 20h03

Carlos Salomão Musse (esq) e Márcio Itaboray lançam livro sobre o futebol de salão juiz-forano nesta quinta (Foto: Marcelo Ribeiro)

Gol de dentro da área? Não vale. Lateral é cobrado com a mão. Saída de bola do goleiro só pode passar o meio da quadra se encostar, antes, no espaço defensivo. E a bola? Pequena e muito pesada. Futsal, não. Isso é o futebol de salão. Em uma “resenha histórica”, como Márcio Itaboray definiu, marcada por cumplicidade diagnosticada por Carlos Salomão Musse em cada contato e depoimento coletado, as regras, características e histórias do futebol de salão juiz-forano dos anos 1960 e 1970 são resgatadas no livro “Dentro da área não vale”, de autoria da dupla de médicos, botafoguenses e, acima de tudo, apaixonados por futebol, com lançamento a partir das 18h desta quinta-feira (11), no Clube Bom Pastor (próximo ao bar).

“No livro pegamos um pouco da história do futebol de salão e fizemos as comparações entre ele e o futsal, que dá para ver que é outra coisa. Tamanho da quadra, número de substituições permitidas, até hoje a Associação Mundial de Futebol de Salão segue neste nome porque ficou rebelde a se assumir como futsal. Como eram os cartões, tiros de canto e lateral, o que o goleiro podia ou não fazer, de onde podia fazer os gols, como era a cobrança de pênalti… e no final conseguimos a relação de treinadores, árbitros, massagistas, dirigentes da época, além de colocar curiosidades do futebol engraçadas. Eram mais resenhas mesmo”, conta Itaboray.

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“O interessante de a gente ter feito o livro é que tudo isso ficasse na memória, eternizado. Porque as histórias, se não foram contadas, vão se acabando, morrendo”, diz Márcio Itaboray

A obra foi enriquecida por 18 depoimentos de pessoas que vivenciaram a época na cidade, com idade entre 64 anos e 85 anos. A missão da dupla juiz-forana foi alcançada. “É difícil destacar uma história. Das pessoas que puderam dar depoimentos, de maior parte no Fórum da Cultura, cada um agiu de uma forma. Alguns mais emotivos, outros mais saudosos. O interessante de a gente ter feito o livro é que tudo isso ficasse na memória, eternizado. Porque as histórias, se não foram contadas, vão se acabando, morrendo”, explica

Marcinho, como o médico é chamado por amigos, foi além. “O mais importante é a paixão pelo futebol. Por isso fizemos o livro. Somos botafoguenses e apaixonados por futebol, isso que importa! E mesmo depois que parei de jogar pelos clubes continuava a acompanhar o futebol de salão da cidade na época. Meu sócio (Salomão) e eu começamos a conversar sobre isso. Ele jogou mais tempo e mais que eu, em qualidade, e passamos a discutir jogos do passado, quem fez aquele gol, e provocar outras pessoas da época. Eles começaram, então, a nos mandar fotos da época, deram corda e disseram para a gente fazer o livro. Escolhemos este período, dos anos 1960 e 1970, porque foi o que nós participamos e foi muito bom do futebol de salão. E a partir dos anos 1980 virou futsal. Insistimos no livro que o futsal é outro esporte. O goleiro não podia mandar a bola no campo do outro time sem bater, antes, no seu lado da quadra. Lá no início você não podia cair com as mãos no chão que era falta. Imagina! A bola era pesadíssima. Era o esporte da bola pesada.”

O livro será vendido, no lançamento, no Bom Pastor, a R$ 30. Após esta quinta, será comercializado também na banca do Parque Halfeld, no Centro, no Bar du Léo, no Morro da Glória, e na Semetra (Rua Santo Antônio, Centro).

Histórias e o primeiro gol do Ginásio da Academia

Marcinho atuou, até os primeiros anos da fase adulta, pelo clube Bom Pastor. “Eu morava no Bom Pastor e comecei a jogar no juvenil do clube. Formamos até o primeiro time infanto juvenil de lá. Montamos um time na rua e fomos representar o Clube Bom Pastor. E fomos disputar alguns torneios, como da Liga, que eram muito pesados. Disputamos o Campeonato Mineiro de Futebol de Salão. Joguei lá dos meus 16 anos até os 24. Sempre futebol de salão, que dava um ibope danado, inclusive na Olimpíada Universitária, a cidade parava para ver”, recorda.

Equipe do Bom Pastor da década de 1960 é uma das recordadas por Marcinho, em destaque (Reprodução/Marcelo Ribeiro)

Já Salomão defendeu tanto o Bom Pastor, quanto o República, entre as principais camisas. Em 1966, ele também marcou história no futebol de salão local pela equipe da Academia de Comércio. “Eu estudava no Jesuítas, que na época não tinha futebol de salão. E eu nem conhecia esse esporte, só de campo. Depois fui transferido para a Academia de Comércio e, coincidentemente, não tinha futebol de campo. Quando fui procurar treinar com a equipe de campo da Academia, disseram que eu teria que jogar futebol de salão. E a quadra da Academia daquela época era de terra batida, isso em 1964. E começaram os preparativos para a inauguração do ginásio, o atual da Academia, inaugurado em 1966. Comecei a treinar com o time da Academia e estreamos esse ginásio. O jogo foi em um sábado à noite, contra um time chamado Arnaldo, de Belo Horizonte, e por sorte minha fiz os dois gols do jogo. Então fui o autor do primeiro gol do ginásio da Academia”, lembra, orgulhoso.

Equipe do Caveme, de 1973, também foi recordada no livro, com Salomão (circulado), Júlio Maravilha e outros destaques locais (Reprodução/Marcelo Ribeiro)

Hoje, o futsal 

As mudanças, com o passar do tempo, ultrapassam as regras e nomenclatura das diferentes modalidades. “Meus dois filhos disputaram a Copa Bahamas, e hoje o futsal ficou limitado a essa competição, que é regional. A Liga não faz mais torneios como antes, que movimentava a cidade. A Bahamas é que faz isso e de forma muito intensa. Mas os Jogos Universitários não têm mais a força de antes. Acho que mudou muito, sem ser comparativo, se é melhor ou pior”, avalia Marcinho.

Para Salomão, que também recordou os Jogos Universitários, a diferença está no envolvimento do jogador de futsal com o clube. “Não é tão forte. Por exemplo, a Copa de Futsal da TV Integração atrai jogadores de fora, mas assim que acaba os jogadores são dispensados. E, na época, competições como os Jogos Universitários eram muito incentivadas e motivavam a cidade. Tinha um desfile inaugural, sábado, e todas as faculdades levavam a sério, exceto a de Engenharia, que sempre avacalhava (risos)! Mas era o desfile oficial. Os Jogos eram realizados em duas semanas e, na segunda, a universidade entrava em recesso em função das partidas.”

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