“Pela história dela”: irmãos vendem figurinhas da Copa para ajudar a mãe

Isaque e Israel Dittz, de 15 e 14 anos, vão diariamente ao Parque Halfeld, tradicional ponto de troca de figurinhas do álbum; mãe é diarista e passa por dificuldades financeiras


Por Davi Sampaio, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

07/09/2022 às 07h00- Atualizada 07/09/2022 às 11h10

Divertimento para alguns, oportunidade de ajudar a família para outros. Enquanto cerca de 400 pessoas vão no Parque Halfeld aos sábados para trocar figurinhas do álbum da Copa do Mundo, que acontece entre os dias 18 de novembro e 21 de dezembro, no Catar, os irmãos Isaque e Israel Dittz, de 15 e 14 anos, moradores do Bairro São Benedito, Zona Leste de Juiz de Fora, aproveitam, do dia mais pacato ao mais movimentado, para venderem figurinhas e auxiliarem financeiramente a mãe Rosely Micarelli, diarista.

“Venho aqui no Parque Halfeld quase todos os dias para vender e pode ajudar em casa. A gente guarda o dinheiro para ver o que nós estamos precisando, geralmente ajudamos a pagar uma conta”, conta Isaque à Tribuna. “Damos uma grana para a minha mãe para comprar um pó de café, por exemplo”, explica Israel.

PUBLICIDADE
Israel e Isaque com as figurinhas no Parque Halfeld (Foto: Leonardo Costa)

O pacote fechado, que contém cinco figurinhas, é vendido nas bancas no valor de R$ 4, com cada uma saindo por 80 centavos. Os irmãos comercializam as comuns por 90 centavos ou R$ 1, com a vantagem para o comprador de poder escolher qual precisa, sem ter que contar com a sorte de abrir o pacotinho e torcer para que não venha nenhuma repetida. Além das figurinhas mais básicas, os adolescentes vendem as brilhantes por R$ 2 ou R$ 3 e craques como Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi por até R$ 10.

Mãe e irmãos, orgulho mútuo

A mãe, Rosely, trabalhava em uma barraca de camelô no Calçadão, mas largou o emprego para se dedicar à faxina. “Depois que me separei do meu marido, que entrou nas drogas, ficou muito difícil. Minha mãe faleceu e meu pai não me ajuda. Sou eu e Deus. Pago aluguel e não recebo pensão. Com a pandemia, as coisas ficaram muito mais complicadas. A alimentação está muito cara, fica difícil comprar um tênis que meus filhos queiram”, conta a mãe, que tem mais um filho, Igor, de 29 anos.

De acordo com Rosely, a iniciativa de vender as figurinhas partiu dos próprios filhos. “O Isaque e o Israel gostam do clima da Copa, de todo aquele movimento. Fico muito contente deles terem pensado em mim e estarem me ajudando. São meninos muito bons, bem tranquilos. Frequentam a igreja, não me dão aborrecimento”, se orgulha. A mãe diz ainda que busca dois trabalhos de jovem aprendiz para os filhos, e deixou o contato (32) 98878-3786 para os interessados em ajudar.

O conteúdo continua após o anúncio
Igor, Israel, Isaque e a mãe, Rosely (Foto: Arquivo pessoal)

E como não poderia ser diferente, o sentimento dos filhos pela mãe é recíproco. “A gente sempre teve o pensamento de ajudar a minha mãe. Pela história dela, pelo que vimos passar. Ela trabalha como diarista, um trabalho muito honroso. Respeitamos, apoiamos e gostamos. Não discriminamos, é um trabalho limpo. É gratificante poder ajudar nossa mãe. Sempre quando queremos alguma coisa, ela se desdobra para dar para a gente. O mínimo que podemos fazer é vir aqui para dar um dinheiro para ela”, reforça Isaque.

Os irmãos, no momento, apenas vendem figurinhas, mas depois querem fazer e completar o álbum mesmo com o obstáculo do preço. “Não ligo para futebol, mas adoro o clima da Copa. É muito legal abrir o pacote, ver o que veio. O pessoal gosta de futebol e desse contato com as pessoas, apesar da figurinha cara”, acredita Israel, o mais novo. Já o mais velho é apaixonado pelo esporte, e começou a vir no Parque Halfeld em 2018. “Eu tinha 11 anos. Fui gostando das figurinhas, aprendendo mais sobre os jogadores. Era mais barato, mais fácil. Só que estamos aí novamente para ajudar minha mãe. Mais para frente, queremos completar o álbum”, pretende o menino de 15 anos.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.