Sapo de Fora: Este ópio chamado Copa do Mundo (mesmo sem o Brasil)


Por Juliana Netto

07/07/2018 às 07h00- Atualizada 07/07/2018 às 17h16

Se você me perguntar se gosto de Copa, certamente vai ouvir o meu sim. Mas, diferente da maioria dos brasileiros, a minha afirmativa pouco está relacionada à Seleção Brasileira. Com cifras estratosféricas nos salários, estrutura totalmente discrepante entre seleção e clubes nacionais, atletas cada vez mais “estrangeiros”, com saídas tão precoces do país, discursos de técnico e jogadores sempre muito bem elaborados por media trainings, me sinto muito pouco representada por aqueles que atualmente vestem a camisa canarinho. Não torço contra, mas também não me desespero nos tropeços verde-amarelos. A última vez que escorri lágrimas pela seleção foi em 1998, quando, ainda pré-adolescente, vi uma França dominar o time brasileiro de Zagallo, depois daquela emocionante semifinal contra a Holanda.

No entanto, quando me deparo com a possibilidade de ver jogos, a maioria de bom nível (ou pelo menos em nível bem acima do nosso famigerado Brasileirão) três vezes ao dia, no café da manhã, no almoço e mais a tarde – como na primeira fase -, não há como não gostar de Copa do Mundo. Assim como acho um barato torcer pelo avanço – que infelizmente não ocorreu – das seleções africanas. Como considero mágico ver um país eliminado e, mesmo assim, ter uma torcida inteira valorizando a campanha, tal como aconteceu no 2 a 0 do Peru contra os australianos, que rendeu aquele emocionante “Contigo, Peru” cantado e chorado por todos os peruanos no estádio. Como foi lindo ver as iranianas frequentarem pela primeira vez uma arquibancada, espaço inabitado por elas no país de origem.

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Emoção que mareja meus olhos tal como o envolvimento entre jogadores e torcedores da Islândia, com aquele tradicional “Uhuu” acompanhado das palmas. Confesso que torci bastante para o país do gelo seguisse para o mata-mata só para ver aquela coreografia outras vezes. Assim como confesso que, durante a disputa de pênaltis entre Colômbia e Inglaterra, eu e mais uma meia dúzia de colegas da redação, na hora do café, ficamos com o coração disparado torcendo para nossos vizinhos sul-americanos que, tristemente, deram adeus ao torneio.

Vibro quando o país que decido torcer avança, mas fico triste ao ver um jogador ou um torcedor chorando após a eliminação. E é por tudo isso e mais um pouco – que não cabe neste espaço – que me amarro em Copa do Mundo. Muitas seleções, muitos jogos, muitas culturas e muitas emoções que – felizmente ou infelizmente – são vividas somente de quatro em quatro anos.

Se o Brasil vencesse? Bacana! Afinal, o nosso reconhecimento mundial muito tem a ver com as nossas outras cinco conquistas. E, mesmo que eu não me sinta muito representada pelos jogadores de salários astronômicos, com uma certa exceção do lateral Danilo, natural da nossa vizinha Bicas, todos têm uma história de superação para chegar onde chegaram.

Mas o Brasil perdeu! Tudo bem. A Copa é uma competição, e em competições alguém tem que perder para o outro ganhar. Dentro de campo, uma única seleção terá a oportunidade de levantar a taça. Nós, torcedores, por mais que torçamos para o título, que, na verdade não é nosso, ganhamos mesmo é a possibilidade de sairmos um pouco da rotina consumindo um pouco deste ópio chamado Copa do Mundo de futebol.

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