Do Chapadão aos EUA: Max Alves relembra origens e se orgulha de trajetória

Meio-campista passou por diversos times de JF na base; após passagem pelo Flamengo, hoje atua no Colorado Rapids


Por Davi Sampaio, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

06/11/2022 às 07h00

Jovem sorridente, criado em periferia. Jovem que realizou não só o seu sonho, mas também o de todos que cresceram com ele. Jovem que começou jogando bola na sua comunidade, o Chapadão, no Bairro Dom Bosco, Zona Sul de Juiz de Fora, até chegar a um dos maiores times do Brasil, o Flamengo. Jovem que hoje, com apenas 21 anos, já consegue dar uma vida melhor à sua familia com o seu trabalho no futebol dos Estados Unidos, pelo time do Colorado Rapids. O juiz-forano Max Alves, destaque desde bem pequeno no futebol local, agora materializa a fé e a crença depositadas sobre ele pelos familiares, amigos e profissionais através de sua trajetória ainda no início, mas já tratada como referência por crianças e adolescentes sobretudo da cidade. De férias em JF, o meio-campista relembrou à Tribuna seus passos, contou bastidores dos times em que passou e celebrou a mudança de vida que teve através de seu esforço e ambição.

Trajetória no futebol de JF e testes até o sucesso

Max Alves começou a jogar futebol nas ruas do Dom Bosco, até ter sua primeira oportunidade em um clube, aos 7 anos, no Centro de Futebol Zico JF. Quando criança e adolescente, conciliava futsal e futebol. Passou por vários times conhecidos na cidade: Sport, Sesi (quando se sagrou campeão mineiro sub-15), São Bernardo e Bom Pastor, na quadra, e no projeto da UFJF, no Uberabinha e Tupi no campo. Mesmo que em momentos distintos da sua vida, Max sempre deixou seu nome registrado nas equipes de base, não só pelo desempenho no esporte, mas também pela gentileza e riso fácil – o que gerou até apelido de “Sorriso” ao jogador canhoto. Durante partidas da Copa Bahamas e Liga de Futebol de Juiz de Fora, o garoto encantava o olhar de treinadores e torcedores. Como ele se recorda, “falaram que eu tinha que sair de Juiz de Fora”.

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“Levava como motivação ser tratado como joia. Era muito legal ver Juiz de Fora me apoiando, em volta de mim. Falavam comigo que eu tinha que ir para um time grande pelo meu talento. Esperei minha hora, com os pés no chão e respeitando meus companheiros. Só queria continuar jogando minha bola que uma hora apareceria a oportunidade. Fiz testes no América-MG, Fluminense, Bahia e Atlético-MG, mas não deu certo. Nesse vai e volta, tinha muita dúvida se deveria ser jogador de futsal ou campo, mas vi que teria mais oportunidade nos gramados”, relembra Max.

Mas foi na base da Associação Mineira de Desenvolvimento Humano (AMDH), hoje chamado Betim, que Max conheceu uma pessoa que ajudaria a trilhar seus caminhos profissionais. “O Régis (Almeida), meu empresário, foi ver o Kassinho (outro meia juiz-forano) em um jogo em Betim e me conheceu, gostou do meu futebol. A partir dali, tudo virou. Ele viu como era a situação lá de casa, que eu realmente precisava de ajuda, e me deu o que eu necessitava. Hoje em dia, vivo uma vida diferente do que eu pensava”, declara o jogador.

Em 2019, Max retornou para Juiz de Fora, fez parte da equipe sub-20 do Tupi vice-campeã mineira de 2019, mas teve como principal destaque sua participação na Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando o Galinho chegou até as oitavas de final e foi eliminado pelo Athletico-PR. “O Wesley Assis, treinador do Tupi, me ajudou muito na época. Tivemos uma ótima campanha lá. Depois dali, consegui ir para a base do Flamengo”, conta Max.

Aos 18 anos, Max despertava a atenção nos treinos e jogos pelo Tupi sub-20 (Foto: Felipe Couri / Arquivo TM)

O seu empresário, Régis Almeida, acredita que o segredo para o sucesso de Max, que foi para o Flamengo já contratado, se baseia na análise de outros aspectos além do futebolístico. “Busquei trabalhar com Max olhando e ajudando no todo. É um menino novo, percebi que precisava de uma figura paterna, já que perdeu o pai cedo. Conheci o Evandro, da Team Star, que é empresário do Vagner Love e nos apoia muito. Um cara gigantesco, sou grato a ele pelo auxílio na condução da carreira do atleta. Hoje, eu e Max temos uma confiança mútua em todos os aspectos da vida, o que é muito importante”, relata Régis.

Chegada ao Flamengo: sonho realizado

Ainda em 2020, Max chegou ao Rubro-Negro para integrar a equipe sub-20, e logo em seu primeiro treino, uma situação curiosa aconteceu. “Dei um chapéu no João Gomes. Hoje ele é titular do time principal e já na base era respeitado. Mas o João não ficou bravo, eu que fiquei pensando, mas depois vi que tinha que jogar meu futebol do jeito que ele é”, revela. No profissional, outro momento em um treino ficou na memória do juiz-forano. “Ainda quando eu estava no sub-20, subia para fazer jogos-treinos com o time principal. Uma vez, dei um carrinho no Arrascaeta. A cabeça ficou a mil, mas levantei e pedi desculpa e ficou tudo certo”, fala o juiz-forano, com sorriso no rosto.

Já em 2021, Max realizou um de seus maiores sonhos: subir para o profissional do Flamengo. “Sempre busquei estar lá em cima, é muito diferente. Atuar com jogadores como Bruno Henrique, que foi o que mais me ajudou, Diego Ribas, Arrascaeta, Felipe Luís e todos os outros foi incrível. Estar ali junto com as pessoas que eu só via na televisão e no videogame foi uma realização gigante”, se orgulha o jogador.

Logo na sua estreia no profissional, em um jogo contra o Nova Iguaçu pelo Campeonato Carioca, Max arriscou um chute de longe e acertou a gaveta já nos acréscimos, decretando a vitória do Flamengo por 1 a 0. “Aquele dia do gol eu nem sei como falar. Foi muito especial na minha vida, marcante demais. Chorei, fiquei emocionado. É incrível fazer gol pelo Flamengo, ainda mais na minha estreia. Uma pena não ter a torcida por conta da pandemia”, se recorda.

Max comemora gol marcado de fora da área, justamente em sua estreia pelos profissionais do Flamengo, aos 19 anos (Foto: Marcelo Cortes / Flamengo)

Nesse dia, Max conta que um filme passou pela sua cabeça. “Olho para trás e penso que há poucos anos eu estava brincando na rua no Dom Bosco. E algum tempo depois estava no Maracanã, fazendo gol pelo Flamengo. É um sonho realizado também do meu pai, que era flamenguista fanático e infelizmente não está mais vivo. Creio que ele está muito feliz, assim como eu”, se emociona o jovem.

No profissional do Flamengo, Max pôde atuar pelo Campeonato Carioca, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, com a confiança do então treinador rubro-negro, Rogério Ceni. Em setembro, o atleta foi emprestado para o Cuiabá, clube que defendeu em 15 partidas pelo Brasileirão e marcou um gol.

“No Cuiabá, me ajudaram muito dentro e fora de campo. Os profissionais são muito legais, e o Jorginho, treinador, me apoiou sempre, assim como o Joelton, auxiliar. Me mostravam o que eu podia fazer para melhorar. Fui muito bem lá, joguei muitas partidas. Sou muito grato a todos do clube”, agradece Max.

Novo desafio: Estados Unidos

Atleta em atuação pelo Colorado Rapids, clube da MLS, de mercado bilionário que atrai dezenas de destaques do futebol mundial (Foto: Reprodução Twitter Colorado Rapids)

Em janeiro deste ano, Max se transferiu para o Colorado Rapids, time dos Estados Unidos que disputa a principal competição futebolística do país, a Major League Soccer (MLS). Na sua chegada, o juiz-forano passou por alguns percalços. “Minha primeira preocupação quando cheguei lá era que eu não falava inglês, tive que ir aprendendo. O futebol em si é parecido, mas ter outro clima foi difícil. Sai do Brasil que tem um calor enorme para um lugar muito frio, e ainda longe da família”, destaca o atleta que afirmou ter visto a neve logo em sua chegada, outro momento que guarda para sempre.

Mas logo o jogador se adaptou, como ele conta. Ao todo, Max disputou 31 partidas pelo Colorado Rapids neste ano, e jogando mais recuado do que no Flamengo, marcou um gol e deu uma assistência. “Foi um ano de muito aprendizado fora e dentro das quatro linhas. Busquei melhorar para não passar dificuldades dentro de campo. Joguei meu futebol e estou feliz pelo que fiz”, relata.

O contrato de Max com o Colorado Rapids vai até o final de 2025. “Meu pensamento é, depois das férias, voltar para os Estados Unidos e trabalhar muito. Tentar ser campeão da MLS, a vontade de todos lá. Quero ajudar meus companheiros, preciso estar jogando. Vai depender de mim, preciso treinar mais ainda para sempre melhorar”, projeta Max. “O positivo é que lá não tem jogo no meio de semana como o Brasil, então temos mais tempo para treinar, recuperar e descansar”.

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“É fundamental que não desistam”, aconselha Max

Perguntado sobre como é ser reconhecido na sua cidade, Max se mostra orgulhoso. “Volto aqui e recebo muito carinho, pedem para tirar foto. Vejo os meninos todos grandes, é muito bom. Nunca vou esquecer das minhas origens”, promete o ex-morador do Chapadão, que revela vontade em jogar na Europa um dia.

Sempre que volta para Juiz de Fora, o jovem busca estar perto de sua família e de amigos. “Tenho um amor inexplicável por eles. É difícil porque só vou ao Brasil uma vez no ano. Meu filho, o Heitor, tem um ano e oito meses. É complicado estar longe, tenho que falar com meus pais por chamada de vídeo. Não consigo dar aquele carinho, mas ajudo sempre eles. Quero dar uma volta com minha família, ter um momento nosso”, pretende o atleta.

Como espelho para os jovens da cidade que sonham em se tornar jogadores profissionais de futebol, Max insiste para que nunca desistam. “O não nós já temos. Não vale a pena deixar para lá. Tem que continuar treinando e fazendo testes. Desejo muito sucesso para os jovens jogadores aqui de Juiz de Fora. Nasci aqui, e poder ver meus amigos tentando e correndo atrás é muito importante. Cada um tem sua caminhada, sabemos que não é fácil, mas também não é impossível. É fundamental que não desistam”, reforça Max.

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