Família alvinegra, sim senhor!


Por Bruno Kaehler

04/06/2017 às 07h00- Atualizada 21/12/2017 às 16h43

Toledo mostra, orgulhoso, ao lado do filho Paulo Henrique, camisa comemorativa de seus 159 gols pelo Tupi; com a bola, seus netos Raphael (à esquerda) e Pedro (Foto: Leonardo Costa)
Toledo mostra, orgulhoso, ao lado do filho Paulo Henrique, camisa comemorativa de seus 159 gols pelo Tupi; com a bola, seus netos Raphael (à esquerda) e Pedro
(Foto: Leonardo Costa)

Em Juiz de Fora, Toledo é sinônimo de futebol. A família se orgulha de possuir nada mais nada menos que o maior artilheiro da centenária história do Tupi Foot Ball Club, ex-técnico e integrante da vitoriosa e inesquecível equipe responsável pelo famoso “Fantasma do Mineirão” na década de 1960. Filho de Carlos e Ana Toledo, Moacyr Toledo é um dos principais nomes do desporto juiz-forano e motivo da profunda relação entre seus descendentes e o esporte local. Aos 83 anos, o Toledinho, como também é chamado, é cidadão benemérito juiz-forano e trabalha na administração do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, maior palco esportivo de Juiz de Fora.

Foi no gramado do Mário Helênio que a Tribuna encontrou o ícone carijó ao lado de seu filho, Paulo Henrique Toledo, e netos, Raphael e Pedro Toledo, todos com histórias moldadas por Moacyr e ligadas ao clube de coração da família. Seja no Salles Oliveira, em Santa Terezinha, ou em qualquer outro gramado da cidade ou do país, Toledo fez história com a camisa juiz-forana do Galo Carijó numa história que já dura quase 70 anos.

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Os laços familiares foram também combustível de Moacyr em seus primeiros passos no esporte, motivados pelo pai, Carlos, fanático torcedor alvinegro, que não escondeu a alegria quando o filho assinou o primeiro contrato com o clube. “Parece que aquilo foi a melhor coisa que dei a ele na vida”, relembra Moacyr. Desde o período da adolescência em Santa Terezinha, o ídolo carijó foi acumulando conquistas até o auge de sua carreira, em 1966.

“Comecei com 16 anos no Tupi. Com 17 já estava no time profissional e depois participei dessas campanhas que o Tupi fez pelo Brasil afora. Um dos maiores feitos nossos está registrado em uma placa no Mineirão escrita ‘Fantasma do Mineirão’. Quem viu, viu. Há quem fale que quem vive de passado é museu, mas sem passado não se tem presente. Acredito que o que fiz no Tupi foi pouco, devia ter realizado mais coisas, mas fiz um pouco da história do Tupi. Sinceramente, acho que cada um tem que fazer um pouquinho. Por isso o Tupi é conhecido no Brasil todo”, relata Moacyr.

O popular time batizado de “Fantasma do Mineirão”, sob comando de Geraldo Magela Tavares, marcou a gloriosa história carijó quando, em 1966, superou duas vezes o Cruzeiro, sendo a primeira por 3 a 2 em Juiz de Fora, e a segunda por 2 a 1 no Mineirão, assim como os rivais da capital Atlético Mineiro e América Mineiro, no Mineirão e ambos por 2 a 1. Os triunfos diante das três maiores equipes do estado chamaram a atenção de todo o país. O sucesso carijó atraiu, inclusive, a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo daquele ano na Inglaterra. O escrete convidou o Tupi a participar de jogo-treino com a presença de Pelé em Caxambu. Desta ocasião, o então ponta e meia-direita Moacyr guarda a foto em que divide a bola com o rei do futebol. A imagem também está exposta no saguão do Estádio Municipal.

Sempre Tupi e Juiz de Fora

Toledo em primeiro plano, e atrás, foto em que ele aparece com o Rei Pelé, em amistoso do Tupi com a Seleção Brasileira em 1966 (Foto: Leonardo Costa)
Toledo em primeiro plano, e atrás, foto em que ele aparece com o Rei Pelé, em amistoso do Tupi com a Seleção Brasileira em 1966 (Foto: Leonardo Costa)

Mesmo com tamanha repercussão na época e propostas de outros clubes, Moacyr permaneceu em sua cidade natal. Casou-se com Adelina, de quem é viúvo, e teve os filhos João Carlos, Denise e Paulo Henrique Toledo. “Fiquei jogando no Tupi e não me interessei sair. Se tivesse que fazer outra vez, continuaria do mesmo jeito. Foi o clube que me projetou. Estamos dando sequência em nossa família agora com netos e até bisneto. E creio que a família não vai mudar de camisa, será do Tupi sempre. Mas fico pensando que podíamos ver mais coisas ainda, como o Tupi ser campeão mineiro”, destaca Moacyr.

A escolha o levou ao significativo número de 159 gols marcados com a camisa alvinegra, o maior artilheiro da história do clube. A opção do ex-ponta contribuiu com a evolução do esporte no município onde ele nasceu e pelo qual nutre grande paixão. “Você pode rodar o mundo todo, mas cidade igual a Juiz de Fora acho que não tem”, declara Toledinho.

‘Essa ligação é verdadeira’

Histórica formação carijó do "Fantasma do Mineirão", com Toledo (segundo agachado da esquerda para a direita) (Foto: Acervo Família)
Histórica formação carijó do “Fantasma do Mineirão”, com Toledo (segundo agachado da esquerda para a direita) (Foto: Acervo Família)

Paulo Henrique, Raphael e Pedro são exemplos do legado iniciado por Carlos e disseminado por Moacyr. O primeiro defendeu o Tupi por quase dez anos como preparador físico, além de ter atuado como jogador do clube na base. Hoje, aos 52 anos, Paulo Henrique se orgulha do amor pelo único clube defendido profissionalmente pelo pai. “Isso é um fato histórico, essa ligação é muito grande. A gente, com certeza, continua esse trabalho. Nascemos no Tupi, praticamente, jogando ali, com preparação física, treinando equipes de base. Essa ligação é verdadeira.”

Atualmente, Paulo Henrique trabalha na formação de garotos no Instituto Vianna Júnior e no Clube Dom Pedro. “Procuramos passar tudo aquilo que o esporte proporciona de bem. Esse é nosso objetivo, nossa filosofia de trabalho, colhendo bons frutos”, ratifica.

Seu sobrinho, Raphael Toledo, 27, é filho de Denise Toledo e Júlio Maravilha, ex-zagueiro também com vasta história no Tupi. O neto de Moacyr atuou em equipes locais, como o Granbery, até chegar à base do Tupi, onde se profissionalizou. Em 2014, o jovem foi um dos principais nomes do time que quase conquistou o acesso à Série B. Com o destaque, o atleta passou a protagonizar formações de equipes paulistas. Hoje, ele defende o Água Santa, de Diadema, na Série A2 do Estadual.

Ídolo carijó, Geraldo Magela (à esquerda) foi técnico de Moacyr Toledo na década de 1960 (Foto: Acervo Família)
Ídolo carijó, Geraldo Magela (à esquerda) foi técnico de Moacyr Toledo na década de 1960 (Foto: Acervo Família)

A relação com o esporte da cidade, segundo o meia canhoto, é reconhecida em cada lugar que frequenta no país. “Juiz de Fora tem ótimos atletas que vêm conquistando o Brasil e o mundo em várias modalidades. A cidade contribui muito para o esporte e pode contribuir cada vez mais.”

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O mais novo talento da família Toledo, Pedro, 19, filho de Paulo Henrique, defende atualmente a equipe sub-20 do Tupi Futsal. “Me sinto muito feliz, é um privilégio para mim. Tenho que agradecer sempre pela família que tenho, ao meu avô pela história que fez, ao Raphael pelo o que fez e está fazendo”, diz o caçula do quarteto.

Mais que uma família alvinegra, os Toledo seguem a educação proporcionada pela disciplina do esporte que aprenderam em casa. “É com muito orgulho que prestamos serviço nesta cidade, especificamente na área do esporte, do futebol, onde nos espelhamos no exemplo do pai, que nos mostrou o caminho do bem. E esse legado, ele deixou não só para nós, mas para todos aqueles que jogaram e trabalharam com ele”, afirma Paulo Henrique.

E o que fazer diante de tantos exemplos? Pedro sabe. “Não tem como aprender tudo, mas tenho que tirar muitas coisas. O meu máximo eu sempre tento dar.”

 

Raphael Toledo, neto de Moacyr, foi criado no Tupi, onde se profissionalizou e atuou em 2012 e 2014 (Foto: Leonardo Costa)
Raphael Toledo, neto de Moacyr, foi criado no Tupi, onde se profissionalizou e atuou em 2012 e 2014 (Foto: Leonardo Costa)

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