Sapo de Fora: Baita inveja


Por Renato Salles

03/07/2018 às 07h00- Atualizada 03/07/2018 às 07h28

O futebol é mágico, mas, por vezes, revela os piores lados do ser humano. Olha que não estou falando das atrocidades cometidas por bandidos travestidos de torcedores, que, invariavelmente, ganham destaque em nosso noticiário. Trato aqui do rancor nosso de cada dia, muitas vez explicitado quando nos prostramos à frente da televisão para acompanhar aqueles que conseguiram realizar nossos próprios sonhos e se tornaram jogadores de futebol. Ou, mais do que isto: chegaram ao auge ao estampar em seus sorrisos a chancela de um atleta de Copa do Mundo. Por exemplo: por que diabos criticamos tanto Thiago Silva, Paulinho, Willian, Gabriel Jesus e Neymar que, ao lado dos outros comandados de Tite, fazem uma campanha basicamente impecável até aqui? Só pode ser por inveja e pela vontade indisfarçável de que fôssemos nós a vestir aquela camisa amarela.

Só pode ser inveja criticar o Neymar pelo fato de ele ter cortado ou pintado ou feito sei lá o que com seu cabelo antes da partida de estreia. Ou fantasiar se o choro do camisa 10 brasileiro após marcar contra a Costa Rica é falso ou verdadeiro. Só pode ser inveja afirmar que o Willian não merecia ser titular da Seleção; ou dizer que o Paulinho não presta; ou que Jesus deveria ser sacado; ou ainda desdenhar de Thiago Silva por lágrimas incontidas que já secaram na parede das reminiscências da Copa de 2014. Ouvi todos estes venenos sendo destilados contra nossos jogadores ao longo deste Mundial. Eu mesmo devo ter evocado meu rancor em alguns momentos. Admito.

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Tal acidez do torcedor comum – irrefreável mesmo diante de seguidas vitória, no entanto, só mostra uma coisa: após quatro jogos e uma visível evolução a cada partida, não há muito o que criticar a equipe dentro das quatro linhas. O time é bom, organizado e dedicado. De fato, o que o Brasil tem feito até aqui nesta Copa, sem invencionices, é de dar inveja. Baita inveja, eu diria. Duvida? Pergunte a argentinos, alemães e espanhóis.

Certamente, eles não esconderão a dor de cotovelo e saberão valorizar a nossa equipe mais do que nós mesmos, em nossa inveja nada velada. Ah, como eu queria estar vestindo aquela camisa amarela e fazer parte de uma equipe que conhece seus limites e, mais do que isto, tem potencial e poder mental para sonhar com o hexa. É mesmo de dar inveja.

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