Zico 70 anos: as homenagens de quem idolatra o craque flamenguista

Arthur Coimbra, o Zico, comemora seu 70° aniversário nesta sexta; torcedores juiz-foranos e atletas contam suas histórias com o ex-jogador e relembram momentos marcantes de sua trajetória


Por Davi Sampaio, estagiário sob a supervisão da editora Carolina Leonel

03/03/2023 às 08h19- Atualizada 03/03/2023 às 15h19

Zico em sua partida de despedida do futebol profissional brasileiro no Estádio Municipal, em 1989 (Foto: Roberto Fulgêncio/ Arquivo TM)

Ídolo a ponto de ter seu nome escolhido para batizar o filho de uma família rubro-negra. Ou a nível de ser eternizado em uma tatuagem grande e colorida na pele de um torcedor. Ter também uma das maiores escolas de futebol de Juiz de Fora batizada com seu apelido. A grandeza de Zico dentro de campo fala por si só, com a conquista da Libertadores e do Mundial de 1981 e de três campeonatos brasileiros, além de três participações em Copa do Mundo. Mas a atuação do maior ídolo da história do Flamengo fora das quatro linhas também é digna de admiração: em 1983 ele organizou uma partida de futebol cuja renda arrecadada foi destinada a vítimas das enchentes que atingiram o Sul do país; anualmente, desde 2004, o craque realiza o “Jogo das Estrelas”, partida beneficente que fez história ao contar com 72 mil pessoas em uma edição e ao arrecadar mantimentos para os afetados pela tragédia de Mariana, em 2015.

O craque Zico, que completa 70 anos nesta sexta-feira (3), é motivo de admiração e orgulho para muitos torcedores juiz-foranos fanáticos e também por atletas que fizeram história ao lado do “Galinho de Quintino” – como Zico também é conhecido – no Flamengo. A Tribuna ouviu torcedores juiz-foranos e atletas que contaram suas histórias com o ex-jogador e relembraram momentos marcantes da trajetória do homenageado.

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Audrinho e o filho Arthur Coimbra, cujo nome homenageia Zico, posam ao lado do craque em 2017 (Foto: Leonardo Costa)

O Arthur Coimbra de JF

Audrey Coimbra, o “Audrinho”, de 50 anos, é flamenguista fanático. Daqueles que imitavam o modo de Zico bater falta em campos de várzea de Juiz de Fora. Acompanhou a geração de ouro do Flamengo que venceu o Mundial em 1981. Com o passar do tempo, o vínculo com o clube e com seu maior ídolo foi se intensificando. Em certo momento, decidiu que aproveitaria o sobrenome Coimbra para batizar o filho com o nome Arthur em homenagem a Zico, o Arthur Coimbra “original”.

Em 2005, o sonho de Audrinho se realizou. Nascia seu filho Arthur Coimbra, 52 anos depois de seu xará Zico. A homenagem teve o apoio da mãe, Maria dos Anjos, também flamenguista e que achava o nome bonito. “Quando ficamos sabendo que seria um menino, logo tivemos certeza do nome. É meu maior ídolo, tinha que ser Arthur. E com th, para ser igualzinho”, diz o pai. “Brinco que se eu fosse mais fã do Júnior (lateral-esquerdo), ele se chamaria Leovegildo, o nome de nascença do Maestro.”

Batizado o filho, a mãe começou a pesquisar e gostar ainda mais do Flamengo, conta o pai. O filho mais novo do casal, Rafael, de 12 anos, chega a gritar pela janela na hora dos jogos. “Assistimos a todos os jogos, sempre reunidos. Quarta e domingo tem sempre aquela expectativa. Em jogos importantes é aquela atenção total, ficamos tensos. E ainda tem a promessa que fiz de levá-los ao Maracanã”, conta Audrinho, que esteve presente na partida de despedida de Zico do futebol profissional brasileiro, realizada no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio em 1989. Na ocasião, o Flamengo venceu por 5 a 0 o Fluminense. O jogo contou com um gol antológico de Zico, que em cobrança de falta acertou o ângulo do goleiro Ricardo Pinto. “O estádio estava muito cheio. Lembro de que quando ele foi bater a falta, todo mundo parecia saber que aquele gol iria sair”, relembra.

Um dos momentos mais marcantes na vida de pai e filho foi em 2017, quando Zico veio a Juiz de Fora para receber o título de cidadão honorário da cidade. “Conseguimos uma foto com ele, mesmo com todo mundo em cima. Tinha até torcedores rivais do Flamengo. A minha mão e a do meu pai não paravam de suar, foi inesquecível. Eu nunca vi ele tão feliz na vida”, conta Arthur Coimbra.

O garoto, desde pequeno, assistia a partidas de Zico em plataformas de vídeo, apoiado pelo seu pai. “Assisti ele jogando a Copa, o Mundial, seus melhores momentos. Entendi a dimensão que ele possui, porque conseguiu colocar o clube no mapa, fez o Flamengo ser conhecido”, entende. “A minha relação com o meu pai melhora por causa do futebol, choramos e sorrimos juntos. A partir de 2019, quando o Fla começou a ganhar muitos títulos, ficamos ainda mais próximos”, afirma o jovem.

Hoje com 17 anos, Arthur se sente honrado com a dedicatória. “Ter o mesmo nome que o Zico, ainda mais sendo flamenguista, é demais. Quando jogo futebol com camisa que tem meu nome todo mundo comenta. Até quando vou subir em algum prédio ou lugar que precisa falar meu nome, todo mundo brinca. Se eu pudesse escolher um nome após nascer seria mesmo Arthur.”

Mesmo com a grande fase vivida pelo Flamengo nos últimos anos e com novos ídolos surgindo, tanto pai quanto filho concordam em eleger Zico o maior jogador do clube. “A geração que passou a idolatrá-lo viu o futebol mais romântico. O esporte não era tão disputado como hoje, enxergávamos como um amor. O pai tentava a todo custo passar para o filho. Pela pessoa e pelos títulos, acho que o Zico é inalcançável”, diz Audrinho. “Na história, não tem ninguém perto dele. Conseguiu fazer com que fôssemos campeões mundiais contra o Liverpool. O Gabigol pode ganhar mais vários títulos que não vai adiantar, é impossível alguém chegar ao nível do Zico”, opina Arthur.

O flamenguista Josmar Amorim eternizou na pele sua paixão pelo clube e a admiração por Zico (Foto: Felipe Couri)

Marcado na pele

O personal Josmar Amorim, de 34 anos, torce para o Flamengo desde criança. Não chegou a ver Zico em campo, mas assistiu a jogos, lances e gols gravados de seu maior ídolo. Em 2019, após o Flamengo conquistar a Taça Libertadores, ele decidiu que faria uma tatuagem que representasse o clube. Mas ao contrário do lógico – tatuar a taça ou um jogador do elenco atual – Josmar quis homenagear Zico, e tatuou uma foto do meio-campista com a taça do Mundial de 81 em sua perna direita.

“Tinha que ser do maior ídolo de todos os tempos, tanto da torcida quanto do clube, segurando a taça mais importante que temos. Ele representa muito. A história que o Flamengo tem hoje é muito graças a ele. Ser a maior torcida maior do Brasil é muito por causa da geração que ele comandou. Não tem nenhum jogador do Flamengo que chegue no nível de identificação dele com o clube envolvendo gols, títulos, história”, acredita Josmar.

Além de todo o talento no esporte, o personal é mais um fã de Zico no lado pessoal. “Fez história como pessoa, é querido por todos envolvidos no esporte e por torcidas de outros clubes. Tem um excelente caráter, é referência para nós. Falar qualquer coisa dele é pouco, tem uma representatividade gigantesca.”

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Zico no amistoso comemorativo entre a Seleção Zico 10 e a Seleção de Juiz de Fora, em 2015 no Municipal (Foto: Leonardo Costa)

Influência para milhares de crianças

O Centro de Futebol Zico em Juiz de Fora completa 25 anos em 2023. Em várias oportunidades o ídolo esteve no local. Seja na inauguração em 1998, na transferência para o novo local em 2016, ou para acompanhar diversas edições da Copa Zico, uma das mais relevantes competições de futebol da cidade. Para o proprietário do local, Leonardo Beire, Galinho de Quintino é referência para os mais de 20 mil alunos que já passaram pela escola.

“Ele impacta positivamente em todos os sentidos. É um ídolo que deixa uma mensagem de tudo aquilo que ele foi como atleta, homem, amigo, pai. Se tornou um cara que as torcidas de todos os clubes gostam. Um ícone não só brasileiro, mas mundial. Tem uma história que não é manchada, sempre está envolvido com coisas boas, possui um legado muito importante”, diz Beire.

Manter um espaço que leva o nome de Zico para a cidade demanda responsabilidade, mas também é motivo de orgulho para Leonardo. “Buscamos valorizar o respeito e a cooperação no futebol. O Zico sempre se dedicou a isso”, entende. “Ele gosta muito de Juiz de Fora. Quando ele esteve aqui, a garotada de 6 a 11 anos ficava gritando seu nome, sendo que nem o viram jogar. Os pais vão passando o que ele representa como jogador e pessoa e seu legado vai passando de geração em geração.”

Ídolos do Fla

A Tribuna também recebeu os depoimentos dos ex-jogadores Tita, companheiro de Zico na época de Flamengo, e de Athirson, jogador da geração rubro-negra pós-Zico. Para Tita, que conta ter sido o terceiro jogador que mais deu passes para gol a Galinho, ter feito parte da geração do ídolo foi um privilégio. “Elé é criado na Gávea e se tornou o maior vencedor que o Flamengo já teve, além de maior artilheiro. Ninguém nunca irá superá-lo”, afirma.

Já Athirson, hoje com 43 anos, cresceu vendo Zico jogar e sonhava em se assemelhar ao craque um dia. “Fui um desses meninos que o via e me encantava. No início da minha carreira ele me deu muitos toques, sempre me orientando. Tínhamos muita cobrança, precisávamos manter o nível de rendimento técnico, empenho, raça e amor à camisa”, relembra. Atualmente, Zico e Athirson mantêm a amizade. “Quando conhecemos o ser humano (por trás do jogador), temos a maior gratidão e alegria em saber da simplicidade e humildade, da grandiosidade que ele tem”, elogia o ex-lateral esquerdo.

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