Preços dos alimentos sobem quase 40% em Juiz de Fora

Dos 13 itens que compõem o grupo, oito ficaram mais caros


Por Fabíola Costa

31/01/2019 às 07h02- Atualizada 31/01/2019 às 08h43

O impacto no bolso depende do consumo de cada família e do peso que o alimento exerce no cardápio diário (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)

A grande maioria dos alimentos mais presentes na mesa do consumidor subiu de preço no intervalo de um ano em Juiz de Fora. Dentre os 13 itens que compõem a cesta básica, 12 foram analisados e oito deles ficaram mais caros. Tendo por base a coleta de preços realizada pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA), nas pesquisas divulgadas nos dias 24 de janeiro de 2019 e 25 de janeiro de 2018, a Tribuna constatou que, em alguns casos, como o do quilo da batata inglesa, a alta chegou a 39,6%. O produto, que era vendido a R$ 2,12 no ano passado, agora já custa R$ 2,96 na cidade. Em segundo lugar na lista está o litro do leite tipo C, cuja majoração chega a 31,65%. Em 2018, o produto custava, em média, R$ 1,99. Hoje, é vendido a R$ 2,62. A banana prata também provoca impacto no bolso, com elevação de 23,31%. O valor do quilo da fruta passou de R$ 3,26 para R$ 4,02, de um ano para o outro.

A comparação de preços aponta que também houve quedas no período avaliado. O quilo do açúcar cristal recuou 78,6%, de R$ 7,79 para R$ 1,66. Também na lista de alimentos que ficaram menos caros, está o quilo do tomate, que caiu de R$ 5,92 para R$ 3,28, redução de 44,59% – ver quadro. O valor da cesta, como um todo, recuou 6,8% em Juiz de Fora, de R$ 331,86 (em janeiro de 2018) para R$ 309,19 (em janeiro deste ano). Os valores não consideram o item arroz, porque houve erro na coleta de preços do produto realizada em 2018, impedindo a correta comparação.

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Da lista, o assessor da SAA, Dalton José Abud, pontua o comportamento de alguns alimentos, como o leite, cujo produtor vem sofrendo desestímulo, reduzindo a produção e a oferta e elevando os preços. Ainda assim, avalia, o preço do alimento praticado nos mercados está muito abaixo do custo de produção. Já a farinha de trigo, por ser commodity, se manteve atrelada ao dólar, puxando para cima os preços dos derivados.

Para ele, mesmo depois de tantos meses, o mercado ainda sofre com a desestabilização provocada pela greve dos caminhoneiros, em função da quebra dos ciclos de comercialização. Para breve, Dalton espera queda momentânea no preço da carne de frango, em função da ameaça de embargo, pelos países árabes, caso a embaixada brasileira em Israel seja transferida para Jerusalém.

Batata inglesa, leite tipo C e banana prata foram os que tiveram preços mais elevados (Foto: Marcelo Ribeiro/Arquivo TM)

Na sua opinião, apesar de o valor da cesta básica ter apresentado queda, o impacto no bolso depende do consumo de cada família e do peso que o alimento exerce. “Se o preço do tomate caiu quase 45%, vai impactar pouco, porque o consumo, em valor absoluto, é pequeno. Ao contrário da carne, que teve alta de 0,26% e é mais consumida.”

O assessor aposta, em 2019, em uma tendência de estabilização nos preços, caso a inflação feche o ano em baixa e não exista “reviravolta” no cenário econômico.

“Hoje, quando não há queda no consumo, há substituição de produtos. Não se compra mais por marca. A preocupação primeira é o preço.”

Leite, pão, carne e batata: maior impacto

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apurou que, entre dezembro de 2017 e o mesmo mês do ano passado, os produtos que mais impactaram a cesta foram leite integral, pão francês, carne bovina e batata. As maiores quedas foram registradas em café em pó e açúcar.

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) apontou que o preço do leite integral, em 2018, subiu devido a menor oferta e a maior disputa de matéria-prima por parte das indústrias de laticínios. A alta da batata foi impactada pela redução da área plantada e pelo clima seco, que prejudicou a produção especialmente no Centro-Sul do país. Conforme o Dieese, o óleo de soja encareceu porque parte do óleo bruto foi usada para fabricação do biodiesel.

Já os aumentos nas cotações da farinha de trigo, a importação do grão e a desvalorização da moeda brasileira diante do dólar, aliados à redução da qualidade do trigo brasileiro por causa do clima, explicam a elevação do preço do pão. Conforme o Dieese, o quilo da carne bovina foi influenciado pelas exportações crescentes, principalmente no segundo semestre; e, apesar da demanda interna fraca, o ano fechou com elevação de preços no varejo.

Sobre as quedas, a produção recorde do café no ano passado pressionou os preços para baixo. A entidade explica, ainda, que, apesar da redução na produção de açúcar e do uso de boa parte da cana para elaboração do etanol, os preços domésticos se mantiveram baixos ao longo do ano.

Salário mínimo

Com base na cesta mais cara do país – a de São Paulo (R$ 471,44) -, o Dieese calculou em R$ 3.960,57 o valor do salário mínimo necessário em dezembro para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O valor equivale a 4,15 vezes o salário mínimo vigente em dezembro (R$ 954).

Segundo o assessor da SAA, Dalton José Abud, produtos como o leite tem tido elevação do preço como consequência do desestímulo de produtores que reduzem a produção e a oferta (Foto: Leonardo Costa/ Arquivo TM)

Alimentos influenciam na prévia da inflação

O grupo constituído por alimentação e bebidas teve a maior variação (0,87%) e o maior impacto (0,22 pontos percentuais p.p.) na “prévia” da inflação de janeiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi de 0,30% em janeiro e ficou 0,46 p.p. acima da taxa registrada em dezembro (-0,16%). Este é o menor resultado para janeiro desde a implantação do Plano Real, em 1994. Já o acumulado nos últimos 12 meses ficou em 3,77%, abaixo dos 3,86% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em janeiro de 2018, a taxa foi de 0,39%.

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Conforme o IBGE, contribuiu para o resultado a aceleração dos preços das frutas, que passou de 1,12% em dezembro para 6,52% em janeiro, e das carnes, de 0,92% para 1,72%. Outros itens importantes no consumo familiar, como cebola (17,50%) e batata inglesa (11,27%) também tiveram altas expressivas, embora tenham desacelerado em relação a dezembro, quando subiram 34,16% e 17,80%, respectivamente.

Cai preço médio de hortigranjeiros, mas o de hortaliças sobe

O preço médio do grupo dos hortigranjeiros, formado por frutas, legumes, verduras e ovos, ficou 15% mais barato no entreposto de Juiz de Fora da CeasaMinas em 2018 na comparação com 2017. A pesquisa foi feita pela Tribuna com base nas coletas feitas pela central de abastecimento. O valor médio praticado em 2017 foi de R$ 5,339. Em 2018, caiu para R$ 4,535.

Apesar da queda em cifras verificada no grupo como um todo, a percepção de muitos consumidores é de alta, especialmente em hortaliças (legumes e verduras). Em Juiz de Fora, o pepino japonês e a vagem manteiga especial apresentaram as maiores altas na pesquisa mais recente divulgada pela CeasaMinas. Nesta segunda-feira (28), os dois alimentos ficaram 66,7% mais caros em relação à coleta anterior, realizada no dia 24 de janeiro.

Em um ano, o preço do quilo da batata inglesa aumentou em até 39,6% (Foto: Leonardo Costa/Arquivo TM)

Segundo o chefe da Seção de Informações de Mercado da CeasaMinas, Ricardo Fernandes Martins, o aumento do preço médio das hortaliças verificado no ano passado foi influenciado, entre outros fatores, pela antecipação das chuvas a partir de outubro. Ele explica que o fenômeno acabou afetando a oferta e a qualidade principalmente dos produtos mais sensíveis ao clima adverso.

Entre as altas de preço verificadas no ano passado, Martins citou as de produtos como repolho, cebola, moranga híbrida, cenoura e, mais uma vez, a batata. Entre as hortaliças que pesaram menos no bolso dos consumidores, os destaques foram quiabo, mandioca, pimentão, chuchu e mandioquinha (ou baroa). “Normalmente, são alimentos mais resistentes a problemas climáticos ou cujas áreas de produção não foram tão afetadas.”

Entre as frutas, o maracujá azedo mineiro (255%), a ameixa carmesim (134,4%) e a maça gala (105,6%) apresentaram as maiores altas em Juiz de Fora, conforme a CeasaMinas. Quedas foram verificadas nos preços de limão tahiti paulista (-14,3%), uva thompsom (-13,3%) e morango (-12,5%). Para a CeasaMinas, o movimento de queda é percebido em frutas que apresentaram boas ofertas no ano passado.

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