13º salário injeta otimismo no comércio em Juiz de Fora

Pesquisa do Dieese aponta que R$ 21,4 bilhões serão injetados em Minas; 1º parcela deve ser usada para quitar dívidas


Por Sandra Zanella

30/11/2021 às 07h48

A chegada do 13º salário no bolso do trabalhador celetista, que deve receber a primeira parcela até esta terça-feira (30), deixa o comércio de Juiz de Fora otimista, já que mais de R$ 21,4 bilhões serão injetados na economia de Minas Gerais, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Mesmo com a expectativa de que a primeira parte do valor seja usada pela maioria das pessoas para a quitação de dívidas, os sindicatos patronais esperam que a circulação maior de dinheiro aqueça as vendas e ajude a recuperar o setor, atingido em cheio pela pandemia. A aposta ganha forças quando se trata da segunda parcela, que precisa ser paga até o dia 20 de dezembro, às vésperas do Natal, contribuindo para as compras de presentes na melhor data comercial do ano.

Lojistas esperam que uma parte do extra seja destinada às compras natalinas, que devem garantir fôlego ao setor, impactado pela pandemia (Foto: Fernando Priamo)

Conforme cálculos do Dieese, a média salarial dos trabalhadores do mercado formal em Minas é de R$ 2.589,64, e mais de nove milhões de pessoas no estado vão receber o abono natalino. “Estamos muito otimistas com o 13º salário. Geralmente, primeiro, os trabalhadores pagam as contas, mas, de qualquer forma, é mais um dinheiro sendo investido no mercado de Juiz de Fora. Estamos com a demanda reprimida, e as pessoas também estão precisando do lado social, porque comprar faz bem, relaxa”, acredita o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL/JF), Marcos Casarin. “Quem está com o crédito negativado e consegue pagar a dívida é inserido no mercado novamente”, ressalta, esperando alcançar os bons resultados natalinos de 2019, antes da pandemia. “Não podemos comparar com 2020, porque estávamos fechados pelo problema mais crônico da pandemia. Mas acreditamos que este fim de ano será bem melhor do que o anterior.” Os setores que mais devem se beneficiar, na opinião de Casarin, são os de vestuário, calçados e cosméticos. “Todo mundo quer ficar bonito no final do ano e também aproveitar para comprar presentes.”

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A esperança de que o 13º  salário dê um fôlego para lojistas, que chegaram a ficar até seis meses com as portas fechadas, entre idas e vindas, durante os momentos de piora do cenário epidemiológico, também é compartilhada pelo presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti. “Uma boa parte da primeira parcela vai para pagamentos de ações pendentes, para quitar algumas coisas que tenham mais prioridade do que o consumo. As pessoas ficam mais conservadoras no sentido de ajustes e até de uma certa reserva. Mas a segunda parte vem mais forte, quase toda para o consumo, porque acaba atendendo o apelo da data fortíssima do Natal, que une muito as famílias.”

O porteiro Luiz Antônio Pereira, 66 anos, é um exemplo dessa tendência. Questionado sobre o que pretende fazer com a primeira parte do valor extra, ele responde, sem hesitar: “vou pagar dívidas e contas”. Já para a última parcela, ele planeja destino um pouco diferente: “vou comprar algumas coisinhas, mas também vai ter uma continha para ser paga”. Ele revela que pretende comprar roupas para os netos, para ele e a esposa, como presentes de Natal. “Este ano está muito mais apertado, mas espero conseguir, se Deus quiser, quitar o IPVA do carro.”

13 salário: ‘Segunda parcela vai ser extremamente importante’

O presidente do Sindicomércio-JF, Emerson Beloti, acredita que o impacto do 13º salário deverá ser sentido principalmente a partir do dia 20 de dezembro. “A segunda parcela vai ser extremamente importante para o comércio, porque ainda há uma boa parte dos comerciantes tentando se recuperar dos prejuízos de 2020 que tivemos com a pandemia. Ficamos três meses fechados e intercalamos outros três meses de abre e fecha. A recuperação é lenta, e a gente percebe que ainda há setores atravessando crise muito forte.”

Conforme Beloti, um desses segmentos é o de vestuário, que costuma ter boa procura no Natal. “Mulher ainda compra mais, mas deve ter muito homem que não comprou nem uma camisa no último ano. As lojas vêm se reinventando e precisam muito dessa época. A venda interativa pela internet também só agrega, porque boa parte das empresas de vestuário possui redes sociais, como Facebook e Instagram. Acredito que esse tipo de consumo não veio para dividir o mercado, é preciso se atualizar e se adequar aos novos tempos.”

O presidente do Sindicomércio reforça que a situação econômica ainda está “descompensada” para os comerciantes, seja pela inflação ou pelas correções de aluguel pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Segundo ele, o sindicato e outras 24 entidades empresariais do país ainda aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a ação judicial, proposta em meados do ano, para substituir o IGP-M – cujo acumulado anual chegou a ultrapassar 30% durante alguns períodos -, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que tem girado em torno de 10%. A medida é considerada urgente porque apenas 25% dos quase dez mil lojistas ligados ao Sindicomércio na cidade têm imóveis próprios. “Infelizmente isso demora, a decisão está em análise. Mas os comerciantes estão muito confiantes com a segunda parcela do 13º, especialmente daqueles segmentos ligados diretamente ao Natal, como vestuário, eletroeletrônicos, cosméticos, brinquedos e móveis.”

Especialista recomenda cautela e reserva para contas de 2022

Até dezembro, o pagamento do 13º salário deve injetar cerca de R$ 232,6 bilhões na economia brasileira, segundo o Dieese, beneficiando 83 milhões de brasileiros com o adicional médio de R$ 2.539. Desse total, 51 milhões, ou 61%, são trabalhadores no mercado formal, incluindo os empregados domésticos com carteira de trabalho assinada, que somam 1,3 milhão. Os aposentados ou pensionistas da Previdência Social (INSS) correspondem a 32,3 milhões, ou 38,7%.

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Em entrevista à Tribuna, o diretor adjunto do Dieese, José Silvestre, avalia que, devido à crise observada na economia e agravada com a pandemia, o 13º salário deverá ser mesmo usado, em boa parte, para a quitação de dívidas, já que houve aumento da inadimplência. “As famílias estão mais endividadas, houve aumento da taxa de juros e há uma incerteza muito grande em relação à economia, com aumento do desemprego e queda na renda.” Por isso, ele também orienta ter cautela na hora de usar o 13º. “É recomendável procurar quitar as dívidas e, evidentemente, fazer as compras tradicionais de final de ano. Para aquelas pessoas que têm renda um pouco maior, que permite fazer reserva e aplicação, é bom também, se possível, guardar uma parte do 13º para fazer frente às despesas típicas de início de ano, como IPVA, IPTU, matrícula e material escolar.”

O especialista acredita que algumas pessoas com renda mais confortável possam optar por reformar a casa ou o apartamento e até trocar de carro. “Mas é bom ter cautela com os recursos do 13º, porque as perspectivas para 2022 também não são boas, o que traz muita insegurança, já que a taxa de desemprego está próxima de 14%, e temos inflação e juros mais elevados.”

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