Trabalhador quer mais
Josimar Gercia tem 34 anos, é casada, mãe de dois filhos e auxiliar de cozinha. Apaixonada pela gastronomia, trabalha há um ano na produção de doces em uma brigaderia da Zona Sul de Juiz de Fora. Além das horas dedicadas ao emprego, faz curso técnico na área, pois, segundo suas próprias palavras, “conhecimento nunca é demais, e jamais estaremos cansados de aprender”. Josi é retrato do perfil economicamente ativo na cidade, composto, em sua maioria, por pessoas que ganham até R$ 1.874, ou dois salários mínimos, com idade entre 30 a 49 anos e ensino médio completo. Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho revelam uma estatística pouco otimista, mas trazem também histórias de superação e batalhas diárias na busca pela qualificação profissional e melhoria de qualidade de vida. Na semana em que se comemora o Dia do Trabalhador, a Tribuna debate e reflete o tema a partir do olhar destas pessoas.
Com o novo emprego, Josi conquistou seu terceiro registro na carteira profissional. Anteriormente, trabalhou em outros dois grandes e tradicionais restaurantes da cidade. No primeiro, permaneceu por dois anos, mas foi demitida dentro de um programa de contenção de gastos, em razão da crise econômica. No segundo, ocorreu algo parecido, embora, neste caso, o próprio estabelecimento tenha fechado as portas. Mãe de garotos de 7 e 15 anos, ingressou no mercado de trabalho formal há cerca de quatro anos. “Casei com 17 anos e, no início, me dediquei à casa e à família. Trabalhava apenas esporadicamente, fazendo salgados e bombons. Sempre gostei de cozinhar e acabei me apaixonando pela gastronomia. Tenho o sonho de me tornar chefe. Muitos se formam, mas poucos se tornam cozinheiros, de fato. Isso é para poucos.”
Josi não está sozinha na busca por crescimento profissional. Ao contrário, a busca pela qualificação e realização pessoal é denominador comum deste grupo que já viu a crise bater à porta. Prova disso é o auxiliar-administrativo Maxwell Badaró, 45 anos, que hoje trabalha em uma agência de comunicação. Mas por pouco tempo, já que está se formando barbeiro e tem planos de abrir o próprio negócio. O setor de serviços, no qual já atua e quer empreender, é o que mais emprega em Juiz de Fora, segundo a Rais. Dos cerca de 147 mil postos de trabalho ativos na cidade, a metade, mais precisamente 74.268 vagas, está neste setor.
“Fui gerente administrativo de três franquias da cidade durante dez anos. Com a crise, a empresa encerrou as atividades e eu fui demitido. Ainda assim, consegui emprego, logo depois, em uma ONG, durante um ano. Mas por questões políticas e internas, também fui dispensado. Foi quando a situação apertou e fiquei cinco meses desempregado, até conseguir a nova ocupação”, disse Max, que encara o atual emprego como um trampolim para o seu desafio profissional e realização pessoal. “Posso dizer que, hoje, o sonho está prestes a se tornar realidade.”
Dentro do perfil identificado como o mais comum no mercado de trabalho da cidade, o agora barbeiro Max, que tem ensino médio completo, mas não teve oportunidade de concluir a faculdade de administração, está prestes a atuar na área, o que deve acontecer já em maio. Isso, segundo ele, resultado da busca por qualificação após o susto do desemprego. “No emprego de dez anos, tinha hora para entrar e nunca para sair. De repente, todo este tempo passou e eu acabei acomodado. Vou trabalhar em uma barbershop e ganhar comissão dos cortes que fizer. Com muito trabalho, espero superar esta média de dois mínimos. Posso dizer que me preparei para este momento, investindo em inúmeros cursos, workshops e treinamentos. Desde o início do ano, corto os cabelos dos amigos, para praticar. No futuro, quero abrir o meu próprio estabelecimento, mas a experiência de agora é importante.”
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