Salário em Juiz de Fora está 16,6% abaixo da média

Média salarial paga a homens é 10,8% superior ao valor médio recebido pelas mulheres


Por Gracielle Nocelli

29/10/2020 às 12h56- Atualizada 29/10/2020 às 17h03

O salário médio recebido pelo trabalhador em Juiz de Fora com carteira assinada, no ano passado, foi de R$ 2.630,20. O valor está similar à média paga no estado (R$ 2.662,88), mas bem aquém da média nacional, que foi de R$ 3.156,02, o que corresponde a uma diferença de 16,6%. Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2019, divulgados, esta semana, pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.

Assim como acontece nas esferas nacional e estadual, o mercado juiz-forano é composto, em sua maior parte, por homens (55,82%). A média salarial paga a eles é quase 11% superior ao valor médio pago às mulheres.

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Ainda de acordo com a Rais, o principal perfil de quem possui emprego formal em Juiz de Fora é a pessoa do sexo masculino, de cor branca, com idade entre 30 e 39 anos e ensino médio completo (ver quadro).

Na avaliação do professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernando Perobelli, a aproximação entre as médias salariais local e mineira se dá por fatores estruturais. “O resultadotorna-se próximo por conta do tamanho e da participação da cidade na economia do estado. Juiz de Fora está entre as que mais contribuem para o PIB de Minas Gerais. Vale lembrar que a maior parte dos municípios mineiros tem até dez mil habitantes, e uma economia pautada em serviços públicos.”

Já o distanciamento com a média nacional, para ele, é motivo de preocupação. “Nós vemos que, no cenário de maior abrangência, em que são consideradas mais cidades do mesmo porte que Juiz de Fora, há perda salarial. E isto é motivo de alerta para a nossa economia.”

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Exclusão no mercado

De acordo com o especialista, a composição do mercado de trabalho juiz-forano e a diferença nos salários pagos para homens e mulheres revelam um sistema excludente. “Na avaliação apenas entre gêneros, quando mudamos esse perfil geral de quem possui emprego formal na cidade, temos a mulher na faixa etária de 30 a 39 anos. Esta é, justamente, a fase fértil. E, infelizmente, as empresas ainda preferem os homens porque a funcionária pode engravidar, tirar a licença maternidade. É um comportamento que vemos em todo o país.”

Ele afirma ainda que, ao mudar outras características, como cor e idade, a situação se torna mais delicada. “Infelizmente, o mercado ainda é desigual.”

Juiz de Fora não retém talentos

Outro dado que chama a atenção na Rais 2019 é o fato de Juiz de Fora ser uma cidade polo em educação, com a presença de várias instituições de ensino superior, mas ter a maior parte de contratações direcionadas para profissionais de nível médio. “Nós oferecemos a qualificação, mas não damos condições para que as pessoas permaneçam”, diz Perobelli.

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Para ele, isso ocorre por conta da estrutura produtiva local. “Em geral, oferecemos oportunidades em áreas que exigem baixa qualificação e pagam salários menores. Seria importante aproveitar a vocação que temos no setor de serviços para atrair empresas tecnológicas e de alta complexidade, que possam gerar empregos que exigem maior qualificação e aumentar a média salarial.”

Até dezembro do ano passado, o mercado empregava 147.692 trabalhadores formais. Deste total, 13.896 eram celetistas e 11.796 trabalhavam em regime estatutário. Os setores de serviço e comércio se mantinham como os principais empregadores, somando 85.703 e 33.751 funcionários, respectivamente.

Salário e mercado de trabalho na pós-pandemia

Os dados da Rais se referem ao ano de 2019 e apresentam a realidade do mercado de trabalho antes da Covid-19. “Nós sabemos que a pandemia não afetou todos os setores de forma igual, mas o comércio e os serviços, que são as nossas principais atividades econômicas, foram muito impactados. Por isso, para 2020, é esperada a retração deste mercado, com a possibilidade de redução do salário médio.”

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