Sesi fecha curso de ensino médio e expansão é cancelada
Alunos não poderão concluir a formação na unidade do Sesi na Barreira do Triunfo; professores devem ser desligados
A Escola Sesi Luiz Adelar Scheuer, situada na Barreira do Triunfo, Zona Norte de Juiz de Fora, vai fechar as portas no fim deste ano letivo, deixando 23 alunos impossibilitados de concluir o ensino médio gratuito oferecido a estudantes do curso de mecatrônica do Senai. O anúncio oficial foi feito pela diretoria aos responsáveis, na última segunda-feira (26), cerca de seis anos depois da inauguração do projeto, desenhado para beneficiar uma turma por ano de cada série, conjugada com curso técnico. A medida ainda deverá afetar 11 professores, que podem ser desligados ou realocados em unidades do Sesi em Barbacena e São João Nepomuceno. Uma expansão das turmas, com aulas a partir do sexto ano do ensino fundamental, prevista para acontecer em terreno adquirido nas imediações do Shopping Jardim Norte, também foi temporariamente cancelada.
“Em Juiz de Fora, tínhamos o projeto de implantação de ensino fundamental 2 (sexto ano em diante) até o ensino médio, em terreno próximo ao Jardim Norte. Seria construída uma unidade nova, mais moderna, que não inviabilizasse o acesso dos alunos. Entretanto, com a sinalização dos cortes, a presidência do Sistema Fiemg não achou por bem fazer investimento. O projeto não está descartado, mas está aguardando as definições desse cenário econômico. Já havíamos licitado as obras de demolição e implantamos, com a Prefeitura, uma rua que existia só no papel para integrar os terrenos, que somam seis mil metros. Agora estamos de stand-by”, explicou o diretor da Escola Luiz Adelar Scheuer e gerente das unidades Sesi/Senai de Juiz de Fora, Vander Montesse do Amaral.
Segundo Amaral, as decisões foram tomadas pela Superintendência Regional do Sesi em Belo Horizonte, diante dos possíveis cortes no orçamento anunciados pelo Governo federal no chamado Sistema S (conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica). Esse já é o segundo impacto direto que o município sofre com a medida em análise pelo Executivo: desde o dia 21 de julho, o Sesc Pousada, localizado no Bairro Nova Califórnia, Cidade Alta, suspendeu os trabalhos. O local oferecia hospedagem, serviços gratuitos nas áreas de esporte, cultura e lazer.
Amaral explicou que, atualmente, são recolhidos 1,5% para o Sesi e 1% para o Senai da folha de pagamento das indústrias. “O empresário paga por meio de guia, e o valor é repassado à manutenção das atividades. Mas o Governo federal já indicou cortes nesses recursos compulsórios do Sistema S em âmbito nacional. A alegação é para desonerar a folha e poder gerar mais emprego, mas vamos estar reduzindo a qualificação profissional do Senai e as ofertas do Sesi, que têm cunho mais social, de educação, cultura e saúde do trabalhador.” Conforme o gerente, está em curso uma negociação entre a Confederação Nacional das Indústrias e o Ministério da Economia. “O Governo já falou em redução dos recursos de 25% e até de 30%, mas não fechou questão. O Sesi em Minas está se antecipando, e nosso orçamento para 2020 está com corte na ordem de 10%.”
O diretor justificou que a decisão de encerrar o ensino médio na Barreira do Triunfo deve-se também à baixa demanda. Cada turma teria capacidade para atender de 35 a 40 estudantes, mas o número é bem menor. “Temos a turma do terceiro ano, que vai formar, com 16 alunos. A do segundo está com 23, e comunicamos que não ofertaremos o terceiro ano. Demos ciência aos pais em reunião sobre as motivações, de acordo com a legislação estadual, à qual prevê que a entidade educacional pode encerrar suas atividades, desde que comunique com 90 dias de antecedência. Demos aos pais tempo hábil para buscarem outra instituição de ensino com prazo bem delatado.”
Apesar dos acertos do ponto de vista legal, Amaral admitiu ter ocorrido descontentamento. “Pesa a insatisfação, porque os filhos gostam muito do ensino, e os pais confiam na instituição. Mas compreenderam as argumentações e se dispuseram a tentar migrar com o máximo de alunos em conjunto, para que eles não sintam tanto e possam conseguir descontos.”
‘Jogaram essa bomba na nossa mão’
A dona de casa Rosa Fátima Zápico Moura, 48 anos, não ficou nada satisfeita em saber que seu filho Rafael, 15, não poderá mais se formar na Escola Sesi, como havia sonhado. “Dia 24, foi Dia da Família, fomos lá e compartilhamos lanche. Foi um momento de alegria, tanto para nós pais e alunos, quanto para professores e coordenadores. Já haviam avisado sobre uma reunião, às 19h, na segunda-feira (26). Pensamos que fosse pedagógica, mas era para dar a notícia que o Sesi seria encerrado no fim deste ano. Jogaram essa bomba na nossa mão, avisando que nossos filhos não vão mais se formar na escola. Foi um choque.”
Além do custo, a preocupação maior de Rosa deve-se ao fato de que Rafael concluirá o curso técnico de mecatrônica este ano, mas só poderá pegar o diploma quando terminar o ensino médio. “Como ficam os pais que não têm condição de pagar escola particular? Eu estou pesquisando várias, tentando descontos, mas sou viúva e será muito difícil.” A capacitação profissional teve custo de 18 parcelas de R$ 370, das quais a dona de casa ainda tem que quitar duas. “Pagamos tudo certinho para agora não termos o ensino médio, é muito injusto. Deveriam manter ao menos mais um ano para nossos filhos formarem.”
A moradora do Bairro Santa Cruz, Zona Norte, e outros responsáveis chegaram a propor o pagamento de mensalidades para a conclusão da última etapa da educação básica na própria instituição. Entretanto, de acordo com o diretor da Escola Luiz Adelar Scheuer, Vander Amaral, seria inviável. “Só com os encargos dos professores seriam gastos R$ 270 mil no ano, sem contar os custos com estrutura, como secretaria, água e luz. Daria uma mensalidade absurda, que não caberia no bolso dos pais”, justificou.
Conforme Amaral, o Governo federal tem questionado muito os valores. “Temos custo mais elevado do que o parâmetro de escola pública, mas qualidade em educação tem preço. Em outras cidades, nas quais a escola do Sesi vai do infantil ao ensino médio, esse valor consegue ser reduzido, mas em Juiz de Fora não. Em 2019 não conseguimos montar o primeiro ano, achamos que a localização (na Barreira do Triunfo, às margens da BR-040) tem dificultado a captação de alunos. O fato de termos número reduzido aumenta o custo, e o Sesi Minas fica ainda mais em evidência. Fizemos todos os esforços para levar a turma do segundo ano à conclusão, mas não tem solução. Hoje tenho uma estrutura grande para atender 39 matriculados, e não consigo chegar a números razoáveis para apresentar uma gestão eficiente e não ficar exposto aos questionamentos do Governo federal.”
A coordenadora geral do Sindicato dos Professores, Cida Oliveira, repudiou o fechamento da escola, demonstrando solidariedade aos discentes e docentes. “Vemos um total desrespeito com esses profissionais. Os meninos que estudam lá também, para onde vão, como será a vida deles? Estamos vivendo um desmonte da educação no nosso país, seja no campo dos alunos ou dos professores. Todos são merecedores de uma escola de qualidade, mas não está na agenda do Governo uma educação em todos os níveis voltada para a classe trabalhadora.”
Amaral afirmou que “inevitavelmente” haverá redução do quadro, mas garantiu estar tentando realocar os professores. “Estamos fazendo consultas em escolas Sesi do entorno sobre demanda de contratações, em cidades próximas, como Barbacena e São João Nepomuceno, onde o eventual deslocamento seria viável. Vamos fazer o possível para minimizar os desligamentos.”
Outras unidades não serão afetadas
Apesar do encerramento do Programa de Educação Básica Articulada a Educação Profissional (Ebep), o espaço na Barreira continuará proporcionando a cerca de 500 jovens, de 14 a 24 anos incompletos, as capacitações técnicas gratuitas do Senai em várias áreas voltadas para a indústria.
Ainda segundo o gerente das unidades Sesi/Senai de Juiz de Fora, Vander Amaral, a Unidade de Saúde de Vida e Qualidade do Trabalhador, na Rua Floriano Peixoto; o Clube José Weiss, na Avenida Brasil; e o Clube Campestre Nansen Araújo, na Avenida Eugênio do Nascimento, Cidade Alta, não serão afetados.
“A princípio, é só a unidade da Barreira do Triunfo, devido ao número reduzido de alunos no ensino médio. Vamos impactar 23. Mas o forte da unidade integrada com o Senai são os cursos profissionalizantes.”
Além dos 500 jovens atendidos no local, outros 1.200 estão matriculados no Centro. O gerente explica que não há previsão de fechamento de outras escolas do Sesi na Zona da Mata e no Campo das Vertentes.