Empresa junior cresce na crise


Por GRACIELLE NOCELLI

29/05/2016 às 07h00

Ícaro Toledo (primeiro à direita) diz que  investimento em marketing ampliou mercado na região

Ícaro Toledo (primeiro à direita) diz que investimento em marketing ampliou mercado na região

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Empresas juniores de Juiz de Fora têm transformado a crise econômica que o país atravessa em oportunidade de crescimento. No ranking estadual, três nomes da cidade aparecem na lista dos maiores faturamentos entre janeiro e abril deste ano, conforme dados da Federação das Empresas Juniores de Minas Gerais (Fejemg). Os bons resultados, como o aumento do número de clientes e do rendimento, que em alguns casos chegou a triplicar, estão sendo registrados desde o ano anterior. A fórmula para caminhar na contramão da realidade nacional tem sido aliar inovação, estratégia, qualidade e preços competitivos.

A Porte Empresa Jr., da Faculdade de Engenharia e Arquitetura e Urbanismo da UFJF, foi a empresa júnior que mais cresceu em 2015. Foi concomitante ao agravamento das crises política e econômica, que o estabelecimento triplicou o número de clientes e aumentou em 427% o faturamento. Os dados são comparados ao ano de 2013. De acordo com o diretor-presidente e aluno do curso de engenharia sanitária e ambiental, Milton Marques Brovini, o cenário econômico não intimidou a equipe de 39 estudantes que realizam os projetos da Porte. “Nós buscamos um aperfeiçoamento contínuo, e isso não parou por causa da crise. Melhoramos processos, estreitamos relações, fizemos parcerias e investimos em capacitação.”

Ele credita os resultados a este trabalho. “A partir de treinamentos comportamentais, gerenciais e técnicos, aprimoramos a qualidade do nosso serviço e pudemos fidelizar nossos clientes e conquistar novos.” Para Milton, o momento é propício à atuação dos empresários juniores. “Nós garantimos a qualidade dos serviços, pois somos orientados por professores que têm vasta experiência no mercado, mas oferecemos tudo por um preço mais barato, até 40% abaixo do que é praticado.”

Na análise da diretora de desenvolvimento da Fejemg, Daniela Marotta da Silva, a crise pode contribuir para aumentar a demanda. “A maior parte das empresas juniores trabalha com consultoria, que é um segmento muito procurado em períodos mais difíceis da economia. Neste momento, o cliente não tem muito dinheiro para investir e vai buscar alternativas mais baratas.” No entanto, ela destaca que cabe às empresas se prepararem para atender essa demanda. “Muitas pessoas ainda não confiam que as empresas juniores podem desempenhar um trabalho com excelência porque são formadas por estudantes. É preciso desenvolver estratégias de prospecção e mostrar resultados.”

Milton Brovini diz que momento é propício, pois  serviços oferecidos ficam até 40% mais baratos

Milton Brovini diz que momento é propício, pois serviços oferecidos ficam até 40% mais baratos

Uma das estratégias desenvolvidas pela Mais Consultoria Jr., empresa da Faculdade de Engenharia de Produção da UFJF, foi investir em marketing. “Sabíamos que este era um momento importante para divulgar o nosso trabalho. Fechamos parceria com uma agência de publicidade para gerenciar as nossas mídias sociais, fizemos contato com sindicatos para apresentar os nossos serviços e fomos atrás das oportunidades”, conta o diretor-presidente e aluno do curso de engenharia de produção, Ícaro Abreu Toledo.

Com a divulgação, a Mais Consultoria Jr. dobrou a cartela de clientes e expandiu os projetos para cidades vizinhas como Bicas, Goianá, Santos Dumont e Barbacena. O faturamento aumentou 18% no segundo semestre de 2015 em comparação com o primeiro. Além do investimento em marketing, a empresa reformulou o modelo de negociação e criou um núcleo de gerenciamento de relações externas. “Percebemos que para superar a crise é preciso um esforço de forma direcionada e foi assim que conseguimos crescer”, destaca Ícaro. Segundo ele, a qualificação dos 24 membros da Mais também tem sido constante e, assim, a empresa tem conquistado premiações, dentre elas o ISO 9001.

A diretora de desenvolvimento da Fejemg, Daniela Marotta da Silva, explica que, em geral, as 22 empresas juniores de Juiz de Fora têm conseguido transformar a crise em oportunidade. No ranking estadual, a Machado Sobrinho Consultoria Integrada (Masci), da Faculdade Machado Sobrinho, a Mais Consultoria Jr. e a Porte Empresa Jr. ocupam segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente. Minas Gerais possui 64 empresas federadas, que reúnem cerca de dois mil estudantes com faixa etária média de 20 anos.

As empresas juniores são associações sem fins lucrativos. Os membros não são remunerados, e o faturamento é direcionado ao investimento em infraestrutura e capacitação.

Foi na crise de 2008, que Thiago apostou  na criação de sua empresa de treinamento

Foi na crise de 2008, que Thiago apostou na criação de sua empresa de treinamento

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Estudante do MEJ vira empresário

Foi em 2008, também em um ano que o Brasil atravessava uma crise econômica, que o empresário Thiago Coutinho de Oliveira decidiu criar a própria empresa. Na época, ainda estudante da Faculdade de Engenharia de Produção da UFJF, ele aproveitou a experiência adquirida durante o período em que participou do Movimento Empresa Júnior (MEJ) para empreender. “Fui membro da Mais Consultoria entre 2005 e 2006. Essa experiência me ajudou a entender como uma micro empresa funciona e conhecer os pilares de um negócio.”

Thiago relembra que, por conta da crise que o país vivia, as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho eram mais escassas. “Eu senti que precisava me preparar, queria fazer cursos, de forma que eu pudesse aliar os conhecimentos da área acadêmica com os do mercado. Foi, então, que eu percebi que existia um nicho nesta área.”

Assim, ele iniciou o projeto do Grupo Voitto, empresa especializada em treinamentos empresariais presente em mais de 150 instituições de ensino em 65 cidades do país. “Nós temos uma equipe de pesquisa e desenvolvimento responsável pela elaboração da nossa própria metodologia. Contamos com 850 consultores associados que repassam o conhecimento nestes municípios”, explica. “O MEJ foi, sem dúvida, o melhor início que eu poderia ter.”

Capacitações

Em 2015, cerca de três mil pessoas participaram das capacitações oferecidas pelo Grupo. O número corresponde a 30% do total contabilizado em oito anos de atuação. “As vendas de pacotes para empresas tiveram queda com esta crise, pois houve um bloqueio no investimento de treinamento pessoal. Em contrapartida, a demanda do consumidor final aumentou porque, neste momento, a preparação é um grande diferencial para conquistar e garantir o emprego.”

De acordo com o empresário, equacionando os resultados, eles foram favoráveis. Para ele, a regra para se sobressair ao difícil momento econômico é garantir excelência operacional e inovação. “Isso significa escutar o cliente para definir o que é qualidade, operar de uma maneira enxuta, com menos recursos e foco em produtividade, e agregar valor com iniciativas inovadoras.”

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