Gasolina sobe 32% em JF em um ano; motoboys preparam protesto

Motoentregadores farão manifestação na manhã desta terça; motoristas de aplicativos foram convocados, mas associação descarta adesão


Por Renato Salles

28/03/2022 às 20h28

Os constantes reajustes dos combustíveis têm impactado de forma sensível o bolso do brasileiro. Só nos últimos 12 meses, com base na pesquisa de preços feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) o preço da gasolina subiu 32% em Juiz de Fora. Levantamento da ANP, feito entre os dias 21 e 27 de março de 2021, constatou preço médio do litro na cidade de R$ 5,69. Na última coleta, entre os dias 20 e 26 de março deste ano, o preço médio da gasolina comum era de R$ 7,499. O preço máximo chegava a R$ 7,779. Esta variação é a maior já observada na cidade de um ano para o outro, considerando a semana do dia 26 de março como referência, desde 2004, período até o qual vai o arquivo das séries históricas de levantamentos semanais feitos pela agência reguladora na cidade.

A variação do preço afeta, em especial, profissionais autônomos, motoristas e motociclistas que prestam serviços de transporte coletivo individual e de transporte de carga por aplicativos como o Uber, o iFood e similares. Assim, integrantes da categoria, principalmente dos motoentregadores, convocaram para esta terça-feira (29) uma manifestação contra os preços dos combustíveis, que vêm sofrendo fortes altas nos últimos meses. Recentemente, as variações acabaram potencializadas por conta da guerra no Leste europeu, após a invasão da Rússia à Ucrânia.

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Os manifestantes também cobram reajuste nas tarifas pagas pelos apps pela prestação do serviço. A pauta local também deve integrar a movimentação, com pedidos por melhorias na infraestrutura viária da cidade, por conta do grande número de buracos existentes nas ruas. “A gente precisa de zeladoria. No caso dos motoboys, isso é uma questão de risco à vida”, afirma Nicolas Souza Santos, motoboy e um dos organizadores do movimento na cidade.

Inicialmente, a organização convoca motoristas e motoboys para se concentrarem, a partir das 10h desta terça-feira, na Rua Coronel Vidal, no Bairro Mariano Procópio. Do local, a expectativa é de que os manifestantes se desloquem pelas ruas de Juiz de Fora, passando pela região central, em direção ao supermercado Carrefour, no Bairro Cruzeiro do Sul. Uma parada no Parque Halfeld também é aventada. Durante o ato, a categoria deve deliberar, inclusive, um indicativo que sugere a extensão do protesto até o próximo dia 1º.

Até a tarde desta segunda, a informação era de que cerca de 400 motoentregadores haviam confirmado presença no ato. A maioria presta serviços na plataforma do iFood. Segundo informações de uma comissão que trabalha para a fundação da Associação dos Motoboys, Motogirls e Entregadores de Juiz de Fora, a cidade tem cerca de seis a sete mil motoboys na cidade. A maioria atua de forma autônoma para grandes empresas, entre aplicativos e startups. A estimativa é de que pelo menos três quartos trabalhem sem carteira assinada.

Movimento é nacional, mas uma das pautas locais é pedir melhorias nas condições de infraestrutura viária (Foto: Fernando Priamo)

Reajuste do valor repassado por aplicativos

A mobilização segue calendário de manifestação nacional que prevê atos em outras cidades no Brasil, tendo como temas centrais o protesto contra os preços dos combustíveis e a cobrança pelo aumento dos valores repassados a motoristas e motoboys pela prestação de serviço de frete e de transporte individual de passageiros por aplicativos. “Na pauta nacional, pedimos o fim da dolarização do combustível. Recebemos em Real e estamos pagando em dólar. Então, queremos o fim da política de preços da Petrobras. Também pedimos o reajuste das tarifas, que estão paradas há muito tempo”, explica Nicolas.

“Estamos organizando essa manifestação para demonstrar nosso descontentamento e a nossa insatisfação, de forma organizada, sobre o reajuste dos preços de combustíveis. A gente entendeu, depois de uma discussão entre várias pessoas, que temos dois problemas com essa alta de preços. Um acontece desde 2017, quando o Governo Temer adotou a paridade do preço dos combustíveis com o dólar. A gente acaba pagando combustível em dólar, enquanto toda a nossa produção econômica é em Real. Mas não é só isso. O problema não é só o dólar. É também o fato de a gente estar sempre exposto às variações do mercado internacional”, pontuou Nicolas.

Neste sentido, o motoboy lembra as recentes altas dos preços impactadas pela guerra na Ucrânia. “Estamos pagando o preço de uma guerra na Ucrânia, simplesmente porque a Rússia é uma das maiores exportadoras de petróleo do mundo. Mas temos nosso petróleo. Não faz sentido sofrer um baque tão grande quanto o restante do mundo está sofrendo. Poderíamos amortizar isso caso a Petrobras estivesse trabalhando com base no interesse dos brasileiros. A gente não vê isso acontecendo. A gente entende que a Petrobras resolveu adotar a política de favorecer os acionistas minoritários, enquanto o maior acionista, que é o Governo, não faz o papel de proteger o mercado interno dessa escalada de preços”, avalia.

Nicolas lembra que, além de profissionais e prestadores de serviço, a categoria também é um público consumidor, que sofre com os reflexos na inflação, impulsionados pela escalada dos preços da gasolina. “A gente também percebe que o nosso dinheiro passa a não valer nada e, aí, entra a segunda pauta: o reajuste das tarifas pagas pelos aplicativos aos motoboys”, explica.

Segundo o motoboy, no último mês, um dos principais aplicativos, o iFood, atualizou o valor repassado aos prestadores de serviço, aumentando de R$ 1 para R$ 1,50 o pagamento por quilômetro rodado. A despeito disso, a categoria considera que a correção nem sequer repõe as perdas acumuladas desde o início da pandemia. “Não é o suficiente. Hoje, a categoria pede um mínimo de R$ 7 por corrida e um mínimo de R$ 2 por quilômetro rodado”, afirma Nicolas.

Posicionamento
Por meio de nota, o iFood se posicionou e disse que respeita o direito de manifestação. A plataforma afirmou ainda que mantém o compromisso de diálogo aberto com os entregadores para buscar melhorias e oportunidades para os profissionais como também para todo o ecossistema. “Desde o início da pandemia, o iFood já investiu mais de R$ 160 milhões em iniciativas de apoio aos entregadores”, diz a plataforma. A empresa citou ainda o reajuste recente feito nos valores das tarifas.

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“Vale destacar que algumas medidas já adotadas também partiram dessa construção de diálogo com a categoria. Por exemplo, o reajuste (o terceiro em 12 meses) de 50% do valor mínimo do quilômetro rodado (R$1 para R$ 1,50) e da taxa mínima (de R$ 5,31 para R$ 6), além de mudanças na comunicação sobre a sinalização de causas de restrição, ativação e desativação da plataforma. Vale mencionar ainda os reajustes da taxa mínima e quilômetro percorrido em 2021, a criação de código de validação da entrega e seguros contra acidentes pessoais, lesão temporária”, diz o iFood, em nota.

Melhoria da infraestrutura viária é pauta local

O motoboy aponta que a manifestação em Juiz de Fora também levará uma reivindicação local às ruas de Juiz de Fora. “A gente tem um problema, uma pauta municipal: os buracos na via. Temos um problema muito sério com buraco, porque isso é uma situação de risco à vida. Não é só uma questão de prejuízo financeiro”, lembra Nicolas.

Em Juiz de Fora, a convocação também chama os motoristas de aplicativos a engrossar a manifestação, mas, segundo a Frente de Apoio ao Motorista Autônomo da Zona da Mata (Fama-ZM), a categoria não aderiu ao protesto. Por outro lado, a organização acredita na participação de motoristas de forma independente.

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