Especulações sobre venda da fábrica da Mercedes ganham corpo em JF
Informação não foi confirmada pela montadora. Única decisão já divulgada é que a linha de montagem do Actros será mesmo transferida para São Bernardo do Campo
Em tempos de preocupação com o futuro dos trabalhadores da Mercedes-Benz, uma especulação ganha corpo nos corredores da fábrica: a possível venda da planta juiz-forana. A informação não foi confirmada pela montadora, mas, nos bastidores, fala-se até sobre a visita de prováveis interessados na unidade. Fato é que a linha de montagem do caminhão Actros, a única que permanece na cidade, será mesmo transferida para São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em julho de 2020. Além disso, apesar dos esforços de a Prefeitura manter o desembaraço das sprinters em Juiz de Fora, a Mercedes já teria se decidido, de fato, pelo Espírito Santo. Hoje as sprinters chegam da Argentina até o Porto do Rio e vão para o Porto Seco de Juiz de Fora. O direcionamento para o Porto de Vitória representaria uma economia de R$ 120 milhões por ano para a empresa, além da redução do tempo da operação dos atuais 20 dias, em média, para apenas quatro.
Na semana passada, uma audiência pública realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reuniu centenas de trabalhadores no plenário da Câmara Municipal. Eles cruzaram os braços para acompanhar os debates acerca do futuro da montadora em Juiz de Fora. A preocupação unânime era e continua sendo a manutenção dos empregos, com a concentração, em Juiz de Fora, apenas dos serviços de montagem e pintura de cabinas a partir do próximo ano.
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O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Fernando Rocha, comenta que, no dia seguinte à audiência, a categoria se reuniu com o executivo Fernando Garcia em Juiz de Fora. No mesmo dia, em Belo Horizonte, o presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer, sentou à mesa com o alto escalão do Governo mineiro. Detalhes sobre o encontro realizado na capital, altamente restrito, não foram divulgados. Conforme Fernando, a categoria pleiteia uma agenda com o Estado para saber o teor das conversas.
Para os sindicalistas, a montadora não confirmou a intenção de venda da planta, mas reiterou a decisão de transferência do Actros no próximo ano, assim como o desembaraço das sprinters no Espírito Santo já a partir de maio. “A preocupação do sindicato é de demissão da mão de obra. O processo de montagem das cabinas não vai absorver o total de funcionários, no máximo, de 50% a 60%.” Pelas contas da entidade de classe, a fábrica reúne cerca de 1.150 trabalhadores diretos e outros 600 indiretos. Na próxima semana, há outra reunião prevista com a empresa. Além das negociações da data-base, outro assunto em pauta é a reivindicação pela celebração de acordo para manutenção dos postos por, pelo menos, 24 meses.
PJF apresenta plano logístico ao Governo mineiro
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária, Rômulo Veiga, comenta que, após várias reuniões com representantes da Mercedes para tratar do desembaraço das sprinters, foi realizado um diagnóstico dos problemas relacionados à operação atual e proposto um plano logístico mais eficiente, elaborado em parceria com a Multiterminais (operadora do Porto Seco). O projeto foi encaminhado ao Governo mineiro, que, por sua vez, também precisaria cumprir metas estabelecidas. Na operação proposta, a mercadoria que chega ao Porto do Rio seria nacionalizada e alfandegada em Juiz de Fora. Hoje o desembaraço é feito no Rio, para só depois haver a nacionalização na cidade. Pela estimativa do secretário, o trâmite, que hoje levaria, em média, 20 dias, seria otimizado para algo entre quatro e sete dias. Além do ganho em agilidade, haveria a desburocratização do processo. Rômulo comenta que não teve um retorno do Estado sobre a apresentação da proposta.
Durante a audiência pública, o diretor de Relações Institucionais e Comunicação Corporativa da Mercedes-Benz do Brasil, Luiz Carlos Moraes, fez duras críticas à logística para desembaraçar veículos em Juiz de Fora, afirmando que o processo, da forma atual, não é eficiente. Além da distância, a demora para faturar um veículo, que pode chegar a 20 dias, são considerados entraves. Na época, ele até considerou que, apesar de a transferência para o Espírito Santo estar em fase de testes, caso a eficiência fosse implementada e voltasse a ser competitiva, o assunto poderia voltar a ser discutido, mas não era o caso até então. O diretor afirmou, ainda, que a montadora não conta com nenhum benefício no momento e não estava pleiteando incentivo. “Estamos discutindo a eficiência da logística.”
Após citar os investimentos feitos na planta e o ativo patrimonial, o secretário comenta que não teve conhecimento das especulações sobre uma possível venda da planta. Caso a medida seja implementada, avalia, não traria impacto negativo para o Município, nem para os trabalhadores, dependendo do tipo de venda – para quem fosse destinada e com qual finalidade. Caso uma empresa automobilística compre os artigos de produção, avalia, seria possível continuar empregando e gerando ICMS. Até o ano passado, a Mercedes contribuiu com cerca de R$ 3,6 milhões referentes ao ICMS para Juiz de Fora. No passado, lá em 1999, época em que o Classe A era produzido na cidade, a cifra chegou a R$ 18 milhões. A arrecadação oriunda de IPTU é da ordem de R$ 1 milhão, em valores deste ano.
Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes) informou que “mantém contato com a direção da Mercedes-Benz, e a mesma trabalha para que não haja a redução ou a paralisação nas operações da fábrica de Juiz de Fora”. O posicionamento é que existe o compromisso da empresa em manter as atividades no município, principalmente na montagem de cabinas, “mantendo os investimentos previstos e os empregos gerados”.
Necessidade de ajustes
Procurada nesta quinta-feira, a Mercedes-Benz, por meio de sua assessoria, informou que a montadora “em nenhum momento informou que deixaria de produzir em Juiz de Fora”. Por nota, reiterou a importância estratégica da planta para a empresa e afirmou que todos os investimentos da companhia para veículos comerciais, invariavelmente, têm contemplado Juiz de Fora. Foram citados os investimentos de R$ 230 milhões em 2014 e parte dos R$ 2,4 bilhões planejados para serem aplicados entre 2018 e 2022. “Sempre foi reiterado que as duas fábricas produzem em total sintonia; Juiz de Fora é responsável pela produção de todas as cabinas de caminhões e São Bernardo do Campo pela fabricação de caminhões.” O posicionamento é que a necessidade de ajustes, “naturais tanto na produção como nos processos logísticos”, busca tornar a empresa ainda mais eficiente e competitiva no mercado brasileiro.