Oferta cai e preço de hortaliças, legumes e frutas dispara na Ceasa

Supermercados também veem preocupação em alimentos perecíveis, como frutas, legumes, verduras, carne in natura e categorias de produtos resfriados


Por Fabíola Costa

24/05/2018 às 07h00- Atualizada 24/05/2018 às 07h06

Caryle mostra banca desguarnecida pela pouca oferta de batatas (Foto: Marcelo Ribeiro)

Apesar de os consumidores já terem identificado a progressiva redução na oferta de hortaliças, legumes e frutas em estabelecimentos da cidade, até em função da capacidade de estoque reduzida, a Ceasa Minas, por meio de sua assessoria, afirmou, nesta quarta-feira (23), que não vai se pronunciar a respeito da paralisação dos caminhoneiros. No dia anterior, havia afirmado que terça-feira não era um dia de mercado forte na unidade, por isso, não teria havido impacto. O próximo dia de maior procura na unidade local seria esta quinta-feira.

O tesoureiro da Associação dos Concessionários do Mercado Municipal, Carlyle Francisco Lopes Barros, foi à Ceasa nesta quarta-feira e afirmou que a oferta estava muito reduzida. “Não tinha quase nada, e os produtos disponíveis quase dobraram de preço.” Ele, que costuma comprar 30 caixas de produtos, só conseguiu levar dez para a sua revenda. Carlyle ficou surpreso com a escalada dos preços. A batata, que era comprada a R$ 60 o saco, nesta quarta, era vendida a até R$ 150. A couve-flor, que era vendida a R$ 20, chegou a ser encontrada por até R$ 60. A oferta de frutas foi considerada irrisória e cara. A caixa de limão, que era de R$ 30, passou para R$ 50. “O que tinha disponível havia sobrado de segunda-feira e estava armazenado nas câmeras frias.” Ele pretendia voltar a Ceasa nesta quinta, mas afirmou que só levaria para o Mercado Municipal produtos cujos preços não estivessem absurdos. “Prefiro ficar sem mercadoria.”

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Procurada, a Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA) informou que o funcionamento das feiras livres, inclusive a noturna, está mantido. A pasta, por meio de sua assessoria, também afirmou que os produtos e os serviços fornecidos pela SAA não tinham sido comprometidos até o momento. O secretário de Agropecuária e Abastecimento, Carlos Alberto Ramos de Faria, no entanto, informou que as escolas da rede municipal e as creches podem garantir a merenda até o final desta semana, mas, se a paralisação continuar, a rede de ensino poderá ser afetada.

Sobrepreço

Conforme a professora de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Michele Nunes, a greve dos caminhoneiros já começou a apresentar impacto direto na falta de produtos do setor alimentício e na alta dos preços dessas mercadorias.

“Como os alimentos não conseguem chegar aos centros de abastecimentos por estarem presos nas estradas que estão parcialmente interditadas, os que estão à venda estão com preços superfaturados.”

Segundo ela, os comerciantes tendem a aumentar o processo do produto escasso e dos que ainda não estão disponíveis. “Além disso, a entrega mais cara vai recair também sobre o preço. Trata-se da lei da demanda e da oferta. Quanto maior a extensão da greve, maior o impacto nos preços. Isso vai pesar bastante no bolso dos consumidores.”

Supermercados preocupam-se com itens básicos

A Associação Mineira de Supermercados (Amis), por meio de sua assessoria, informa que considera legítimo o direito de manifestação da categoria e se solidariza com a classe. Por meio de comunicado, porém, externou a preocupação com as consequências dos bloqueios nas rodovias para o abastecimento de gêneros básicos, especialmente o de alimentos perecíveis, como frutas, legumes, verduras, carne in natura e demais categorias de produtos resfriados, como laticínios. “Empresas filiadas reportaram que já começam a ter afetada a sua rotina de recebimento destes produtos em todo o estado.”

O Bretas, por meio de sua assessoria, informa que lamenta que a paralisação dos caminhoneiros esteja afetando diretamente o abastecimento de suas lojas, gerando transtornos aos clientes que podem não encontrar o produto que desejam. “Estamos atentos, acompanhando de forma proativa a situação junto aos fornecedores e esperamos que o abastecimento seja rapidamente normalizado, para que a população não seja prejudicada pela falta de itens de consumo diário.”

Já a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), por meio de sua assessoria, informou que “está acompanhando atentamente” o protesto nacional. O posicionamento é que, mesmo com o esforço do setor para garantir o perfeito abastecimento da população brasileira, foi identificado que alguns estados já começaram a sofrer com o desabastecimento de alimentos, e que isso poderá se estender para todo o Brasil nos próximos dias, caso alguma providência não seja adotada. “A Abras está buscando sensibilizar o Governo federal para que uma solução seja tomada imediatamente.” O objetivo, diz, é evitar que a população sofra com a falta de produtos de necessidades básicas e com uma eventual elevação nos preços.

Setor de criação de animais teme “colapso”

Para a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (AVIMIG), os setores de criação de animais são os que mais sofrem com a paralisação dos caminhoneiros. Conforme o conselheiro Cláudio Faria, por tratar-se de uma cadeia verticalizada de escoamento de produtos e entrada de insumos, a interrupção do fluxo provoca colapso no setor, com animais morrendo de fome. “É o que já está acontecendo no estado.”

Faria cita como exemplo unidades produtivas localizadas em Visconde do Rio Branco, Passos e Patrocínio, em que, segundo ele, “a interrupção de produção já é uma realidade”. Pelas contas do conselheiro, desde terça-feira, cerca de seis mil trabalhadores já voltaram para suas casas, em função da falta de animais para abate. Ele reforça que as regiões de Uberlândia, Uberaba e São Sebastião do Oeste estão sofrendo perdas irreparáveis.
Na avaliação da associação, torna-se necessária a intervenção das autoridades no sentido de “resolver a situação o quanto antes”, visando a evitar “um colapso maior”, a morte de animais e a perda de produtos. A Pif Paf, uma das principais empresas do setor na região, foi procurada, mas preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

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Reflexos

Para o movimento cooperativista, a mobilização traz graves reflexos econômicos, forçando a interrupção das atividades das cooperativas agropecuárias, que atuam nas diversas cadeias do agronegócio, em especial, as de lácteos, aves, suínos e peixes. “Pela característica dessas atividades, a logística de suprimento de insumos e as operações envolvendo produtos perecíveis são diretamente impactadas pela atual situação, fazendo com que os empreendimentos cooperativos sejam forçados a paralisar, por exemplo, suas linhas de abate e processamento, pois a capacidade de estocagem não consegue suportar a inviabilidade de escoamento da produção.”

A avaliação é que prejuízos têm sido acumulados a cada dia. O cooperativismo brasileiro, representado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), reconhece que a motivação da manifestação é legítima, mas cobra a imediata atuação do Governo federal no sentido de chegar a um entendimento junto às lideranças do movimento, “mitigando os prejuízos e evitando o colapso no abastecimento interno e nas exportações”.
Também procurada, a Fiemg Regional da Zona da Mata, por meio de sua assessoria, afirmou que não tem posicionamento sobre os impactos para o setor. Já a Fiesp divulgou nota demonstrando “preocupação e indignação” em relação à greve dos caminhoneiros, que, segundo a entidade, está gerando prejuízos importante24s para a indústria e para a sociedade como um todo.

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