Falta do 13º reduz valor das compras em Juiz de Fora
Lojistas temem impacto pela falta de pagamento do benefício a servidores estaduais e municipais
Correr atrás dos presentes de Natal está duplamente mais difícil esse ano. Primeiro, porque muitos juiz-foranos, especialmente os servidores do Estado e da Prefeitura, estão sem receber o 13º salário. Segundo, porque o calor não está dando trégua. A poucos dias para a data mais esperada do ano para o comércio varejista, a movimentação nas ruas – e nas lojas – aumenta na mesma proporção que a temperatura marcada nos termômetros digitais encontrados em cada esquina. Basta dar uma circulada pelo Centro para identificar centenas de consumidores disputando espaço no interior das lojas, enfrentando fila no caixa e carregando sacolas para casa. O horário especial de funcionamento do comércio de rua começou na quarta-feira (19) e segue até o dia 24. A expectativa tanto do Sindicato do Comércio (Sindicomércio) quanto da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) é de que as vendas cresçam de 3% a 5% este ano ante igual período do ano anterior.
A fonoaudióloga Allana Graziela Simões saiu de casa determinada a concluir a maratona para compra de presentes em um único dia – e conseguiu. Estava na rua às 9h30 e pouco depois das 15h já estava com a lista de 15 presentes liquidada. Para conseguir presentear todos os familiares, sem extrapolar o orçamento doméstico, ela estipulou um valor médio para cada lembrança e tentou segui-lo, na medida do possível. “Para presentear a mãe, precisei gastar mais”, justificou, com um sorriso. Allana esperava por promoções, mas afirma ter encontrado preços mais altos às vésperas do Natal. Ela fez as compras na quarta-feira, encontrou lojas cheias, mas acredita que o tumulto será maior no final de semana.
A mãe Jucilene Coelho, a filha Cleycilene e os três netos decidiram enfrentar o calor e também foram às compras durante a semana. “Decidimos antecipar um pouco, porque no sábado e no domingo o comércio vai ferver.” Na avaliação da família, há promoções, mas é preciso pesquisar e “andar”, ponderou Jucilene. Este ano, Cleycilene decidiu levar os filhos para auxiliar na escolha dos presentes e otimizar a compra. “O segredo é pesquisar bastante.” Também na maratona natalina, estava a aposentada Maria José Peres. Este ano, ela vai presentear os dois netos. Para fazer a alegria deles, comprou o que eles pediram, mas não esqueceu de fazer uma pesquisa de preços. A tarefa durou dois dias, mas a aposentada voltou para casa com a certeza de que os deixaria feliz, sem estrangular o orçamento doméstico.
O sócio-gerente da Domith, Luiz Alexandre Domith, identificou aumento da procura logo após a liberação da primeira parcela do 13º. As vendas, no entanto, não correspondem às expectativas para o período. Luiz comenta que, em função do não pagamento, este ano, do abono natalino pela Prefeitura e pelo Estado, os consumidores continuam indo às compras, mas houve redução no valor do tíquete médio. Na loja, o gasto médio por cliente gira em torno de R$ 30. Em função disso, avalia, a expectativa de crescimento entre 4% e 5% da Domith precisou ser revista para baixo. A torcida, agora, é para que o movimento ao menos se iguale ao do ano anterior.
Em JF, 80% deixam compras para os últimos dias
Apesar do impacto da falta do 13º do funcionalismo público municipal e estadual, o presidente do Sindicomércio-JF, Emerson Beloti, diz que o setor se mantém esperançoso neste final de ano. A expectativa é de que o resultado das vendas, especialmente no Natal, possa compensar as perdas acumuladas pelo setor nos últimos anos. “Paramos de cair, mas estamos devendo em termos de contratações e crescimento.” Mediante a constatação de que a maioria dos consumidores (até 80%) deixa as compras para a última semana, Beloti afirma que houve a decisão de concentrar o horário especial de funcionamento do comércio de rua nos últimos dias, de olho na expectativa de maior demanda.
Embora o movimento tenha começado a ganhar corpo na quarta-feira, as apostas estão concentradas no final de semana e na véspera da data. No final de semana, estima o presidente, cerca de 17% da procura é formada por consumidores de outras cidades, comprovando a importância de atratividade também deste público. “Esperamos que as ruas fiquem repletas de consumidores, para que possamos ter um clima natalino. Queremos que o empresário feche a porta, com clientes dentro da loja, como acontecia antigamente.”
Mais prazo
Para o presidente da CDL/JF, Marcos Tadeu Andrade Casarin, cerca de 70% dos consumidores devem deixar as compras para os últimos dias. Na avaliação dele, em muitos casos, trata-se de falta de alternativa, já que muitas famílias precisam fazer as contas, até a última hora, do quanto vai sobrar para os presentes. A situação, observa, fica ainda mais complicada para aqueles que não contaram com o recebimento do abono natalino. Para Casarin, o fato de o Natal ser comemorado na terça-feira amplia o prazo de compras. Na avaliação dele, a data será de lembranças, e o comércio juiz-forano está estabilizado, à exemplo dos consumidores, “vivendo com o mínimo”. “Só haverá crescimento a partir do momento em que houver melhoria salarial. O consumidor não compra mais porque não tem condições.”
Varejo brasileiro
O varejo brasileiro espera faturar R$ 34,6 bilhões em vendas no Natal deste ano, o que representa alta de 3,1% em relação a 2017, segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Desse total, as vendas nos segmentos hiper e supermercados (R$ 12,4 bilhões), vestuário (R$ 9,1 bilhões) e artigos de uso pessoal e doméstico (R$ 5,3 bilhões) deverão se destacar. Juntas, as três categorias devem responder por 78% do faturamento com vendas natalinas este ano, informou a CNC.
Horário especial
Os consumidores que estão com a maioria e deixaram as compras para os últimos dias devem ficar atentos ao horário especial de funcionamento do comércio de rua em Juiz de Fora. Neste sábado (22), as lojas estão autorizadas a funcionar de 8h às 19h. No domingo (23), os consumidores podem fazer suas compras das 10h às 16h. E no dia 24, véspera do Natal, o expediente vai das 8h às 18h.
Por meio de nota divulgada nesta quinta-feira, a Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio) informou que os empresários do comércio em Minas Gerais não estão autorizados a convocar o empregado para trabalhar na terça-feira, 25 de dezembro, feriado em que se celebra o Natal, conforme as disposições da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
O documento, diz a entidade, está disponível para consulta no site www.fecomerciomg.org.br. Para empresas representadas por sindicato diverso, a orientação é consultar a respectiva CCT ou entidade sindical que as represente no que se refere à autorização ou não do trabalho na data.
Espera por promoção motiva compra de última hora
Dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontam que cerca de 9,3 milhões de pessoas no país deixaram para realizar as compras de Natal na semana que antecede a data, o que representa 8% dos consumidores que têm a intenção de presentear alguém neste fim de ano. O percentual é similar ao observado no Natal do ano passado, que estava em 9%.
Entre os que postergaram as compras, a principal justificativa é a espera por promoções relâmpago (55%). Outros 22% estavam aguardando o pagamento da segunda parcela do 13º salário, enquanto 14% alegam falta de tempo para procurar todos os presentes da lista. Há, ainda, 14% de entrevistados que admitem falta de organização, e 5% que culpam a preguiça de fazer compras, deixando a tarefa para o limite da data comemorativa. A pesquisa também mostra que apenas 2% dos entrevistados vão adiar as compras natalinas para janeiro de 2019, preferindo aproveitar as liquidações de início de ano.
“Ilusão”
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, deixar as compras de Natal para a última hora é uma atitude não recomendada para quem pretende economizar. “É uma ilusão esperar que as lojas venham a oferecer grandes promoções, faltando poucos dias para o Natal. As liquidações mais vantajosas costumam ocorrer após a virada do ano. Se o consumidor deixa para comprar muito em cima da hora, acaba não tendo tempo para pesquisar preços em diferentes lojas ou encontrar opções de produtos mais baratas. Além disso, com as lojas cheias, os produtos mais baratos acabam mais cedo nos estoques. Há o risco de o consumidor não encontrar o presente desejado e ter que optar por algo mais caro, comprometendo o orçamento”, alerta a economista.
Cuidado com compras impulsivas
Segundo o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, na pressa para garantir todos os itens da lista e não deixar ninguém sem presente, o consumidor acaba dando menos importância aos detalhes, cedendo às compras impulsivas. “A pressa é inimiga do planejamento. O ideal é fazer uma lista de todos os presenteados e fixar um valor do quanto se pode gastar. Dessa forma, não há perigo de exceder o preço com a compra de outros presentes que não estavam previstos. Sem falar no estresse ocasionado pelas longas filas nos caixas, aglomeração de pessoas nos centros de compras e pela dificuldade para encontrar vaga nos estacionamentos, fatores que, somados, tiram a disposição das pessoas de pesquisarem preços com calma.”
A pesquisa também mostra que, este ano, mais brasileiros devem se autopresentear. Na comparação com 2017, passou de 47% para 54% o percentual de consumidores que devem comprar presentes para si, comportamento ainda mais comum considerando as mulheres (59%). Entre as principais razões, estão a oportunidade de aproveitarem o Natal para comprar algo que estão precisando (52%) e o sentimento de merecimento (33%) após um ano de muito trabalho.
Conforme a CNDL e o SPC, cada entrevistado deve comprar, em média, dois presentes para si, totalizando um gasto de R$ 168,39, em média, por item. Os presentes mais buscados devem ser roupas (59%), calçados (35%), perfumes ou cosméticos (23%), smartphones (15%) e acessórios, como bijuterias, cintos e bolsas (12%). Eletrônicos e eletrodomésticos aparecem com 6% cada.
Para a economista Marcela Kawauti, é importante que o consumidor fique atento para não ceder ao apelo emocional da data e acabar passando da conta nos gastos. “O Natal, por ser no fim do ano, é uma ocasião perfeita para a autogratificação, uma forma de se recompensar pelo trabalho e pelas dificuldades enfrentadas ao longo do ano. Mas esse agrado precisa ser planejado para não criar dificuldades financeiras no ano que se inicia. O melhor presente que alguém pode dar a si é a garantia de um orçamento organizado e saudável.”