Pesquisadores e empresários unidos pela inovação

Evento que começa hoje pretende discutir oportunidades de negócios para JF e região


Por Gracielle Nocelli

22/08/2017 às 06h00

A aplicação de inovação em produtos e soluções como estratégia para aumentar a competitividade será tema da primeira Conferência de Inovação e Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira (Conide), que acontece nesta terça (22) e quarta-feira (23) em Juiz de Fora. O evento promovido pelo Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira (GDI Mata) tem a proposta de reunir pesquisadores e empresários para discutir as oportunidades no mercado. Especialistas defendem que a parceria entre os universos acadêmico e empresarial é o caminho para impulsionar o desenvolvimento econômico da região. As pesquisas de inovação tem ganhado destaque na cidade. Setores como agronegócio, comércio, indústria, serviços e turismo podem se beneficiar dos estudos. À Tribuna, empresas locais que decidiram inovar mostram os bons resultados obtidos.

De acordo com o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), Juiz de Fora teve aumento de 35% no número de depósitos de patentes feito entre 2013 e 2016. Este é um dos indicadores que mostram o fortalecimento da inovação no cenário local, conforme ressalta o professor da Faculdade de Economia da UFJF, Fernando Perobelli. “Este dado se refere às patentes de inovação (PI), concedida para produtos e serviços que atendam a vários requisitos”, explica. “A cidade tem destaque em pesquisas nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Ciências Exatas e da Terra. Além disso, possui muitos técnicos e profissionais ligados à comunicação e informação, informática e biotecnologia que podem contribuir para o avanço nestes segmentos.”

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Na avaliação do economista, a capacidade de inovação de uma localidade é um dos fatores propulsores do desenvolvimento econômico. Foi por conta deste entendimento que o projeto de extensão da UFJF Conjuntura e Mercado Consultoria criou o Indicador de Capacidade de Inovação (Inova) municipal. “É mais um mecanismo para tentarmos mensurar esta produção.” O indicador abrange aspectos de invenção, inovação e difusão.

“Cidades universitárias têm a tendência de se destacarem na produção de conhecimento e tecnologia. O Inova mostrou que Viçosa, Ouro Preto e Lavras foram, respectivamente, os municípios com maior capacidade de inovação em Minas.” Enquanto Viçosa e Lavras se destacaram pelo setor agrário, as engenharias foram responsáveis pelos resultados de Ouro Preto. Apesar do crescimento dos estudos sobre inovação em Juiz de Fora, a cidade não está na lista dos melhores resultados do estado. “Isso se deve, principalmente, ao mercado de trabalho, onde mensuramos a qualificação da força produtiva.”

‘É preciso se adaptar para sobreviver’

Na tentativa de modificar esta realidade do mercado local, o GDI Mata tem realizado esforços para conectar pesquisadores e empresários de forma a promover o intercâmbio entre o conhecimento e a aplicação prática. “O município tem uma rede de ensino muito ampla e uma trajetória empresarial pioneira. Queremos fazer a ponte entre estes dois lados para ganhar em competitividade”, diz o diretor de inovação da UFJF, Ignácio Delgado. “Temos um grande potencial a ser explorado nas áreas de tecnologia da informação, eletroeletrônicos, equipamentos médicos e farmacêuticos. Setores tradicionais como laticínio e têxteis também oferecem oportunidades.”

Para Ignácio é a inovação que irá garantir a sobrevivência dos negócios. “Competir por meio de mão de obra barata é algo que não funciona mais no Brasil. Nós já vivemos o processo de êxodo rural, em que a oferta de trabalho nas cidades cresceu, e as empresas lucravam desta forma. Agora é outro momento. Para sobreviver, é preciso inovar.”

O analista do Sebrae, Paulo Veríssimo, concorda. “As empresas não podem apostar nos mesmos processos e modelos que eram realizados pelas gerações anteriores. É preciso se adaptar para sobreviver, e a nova economia inclui a necessidade de inovação.”
No Sebrae, o projeto Sebraetec oferece consultoria para empresas que desejam inovar. “Nós somos mais uma porta de entrada para quem se interessar.” Ele afirma que o maior desafio para a prática da inovação é o comportamento do empresariado. “Primeiro é preciso querer, depois identificar as demandas e, por último, fazer a implantação.” Além da UFJF e Sebrae, o Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste) e a Embrapa integram as instituições do GDI Mata, que realizam pesquisas para inovação.

A Conide será realizada no Gran Victory Hotel, na Avenida Presidente Itamar Franco 3.800, Centro, a partir das 14h. As inscrições e a programação podem ser conferidas pelo site www.conide.com.br .

Reposicionamento comercial

(Foto: Marcelo Ribeiro)

Criada em 2007, a Haindcom foi uma das empresas juiz-foranas que buscou auxílio do Sebraetec para inovar. Após sete anos atuando no mercado com o desenvolvimento com soluções customizadas em tecnologia da informação para os clientes, os proprietários enxergaram a necessidade de mudar. “Nós fazíamos o que era demandado, desta forma, o volume de trabalho só aumentava, e o retorno financeiro não acompanhava”, conta o sócio Gustavo Oliveira. A partir de um diagnóstico, a empresa foi orientada a desenvolver um produto único direcionado a todos os clientes. “Nós fizemos um reposicionamento comercial. Estruturamos o que iríamos vender, valor que seria cobrado, quais os públicos seriam atendidos e a forma como iríamos comunicar o nosso produto ao mercado.” Foi assim que a empresa criou o aplicativo SmartRetail, direcionado para lojas físicas que queiram aprimorar o contato com os clientes. “Nós temos quatro grandes clientes. A experiência de inovar trouxe não só retorno financeiro, mas também, agilizou processos e contribuiu para termos uma melhor visão do nosso negócio.”

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Vendas ganham novo conceito

(Foto: Marcelo Ribeiro)

Cortar caminho no processo de compra entre o consumidor final e o fabricante do setor automotivo foi uma das ferramentas de inovação criada pela OPT Soluções. Após participar da incubação no Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF e do projeto Sebraetec, os sócios criaram o marketplace Peça Agora, que agiliza esse processo de compra que, em geral, envolve também as distribuidoras e o varejo. “Durante a graduação, fizemos um projeto de renovação de frota para uma transportadora da cidade e percebemos a necessidade de implementar inovação no mercado”, conta o sócio Felipe Lima Bronté. Para ele, a parceria com o Critt e o Sebrae foi fundamental. “Foi onde tivemos todo o suporte para esta realização.” A empresa, que está há quatro anos no mercado, passou a vender para clientes de todo o país e do exterior. “Nós temos 35 mil produtos disponíveis e queremos chegar a 100 mil até o final deste ano.”

Controle da tomada de forma remota

(Foto: Fernando Priamo)

A Smarti9 sempre trabalhou com soluções inovadoras, mas foi por meio de parcerias com instituições de ensino e pesquisa que conseguiu viabilizá-las. “O Critt e o Sebraetec nos deram desenvolvimento profissional, foi aquele empurrão para enxergarmos o mercado como ele é. Até então, tínhamos uma visão muito técnica dos negócios”, avalia um dos sócios da empresa, Diogo Fernandes. “Nós recebemos consultorias de profissionais e professores da UFJF para a capacitação dos sócio e da equipe.” Assim, a empresa desenvolveu o I9 Plug, uma tomada inteligente,com estratégias de venda. “Por meio dela é possível fazer o controle do equipamento de iluminação de forma remota. Não é preciso estar em casa para desligar ou ligar aparelhos”, exemplifica. “Iniciamos as vendas com consumidores residenciais e vimos a necessidade de ampliar. Passamos a vender com exclusividade para uma distribuidora em cada estado, o que nos trouxe uma oportunidade de venda recorrente.”

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