Novo aplicativo acirra disputa por passageiro


Por Fabíola Costa

19/03/2017 às 07h00

O taxista José Afonso dos Reis afirma que o serviço é uma reação à crise que o setor enfrenta (foto: Leonardo Costa)

A disputa declarada, mas pacífica, travada nas ruas entre taxistas e motoristas parceiros da Uber ganha mais um capítulo em Juiz de Fora: um grupo de taxistas disponibilizou um aplicativo que oferece descontos de 30% nas corridas, independente do dia, horário e percurso. Em uníssono, os motoristas procuram dissociar a oferta do recurso a uma reação ao concorrente – não reconhecido pela categoria, nem pelo Poder Público. Para eles, é uma estratégia para reverter o momento econômico adverso e levar o passageiro de volta ao táxi. Mesmo não legitimada pelo Município, a Uber, que vem ganhando espaço em número de parceiros e de clientes, prepara inovações no serviço oferecido na cidade, mas também já começa a apresentar problemas, como o das temidas cobranças indevidas. Pelas contas do Sindicato dos Taxistas, a queda do faturamento no setor varia entre 40% e 50%, por motivos como Uber, recessão no país e aumento da frota para 630 táxis, após a última licitação.

Com 20 anos de atuação nas ruas, o taxista José Afonso dos Reis é um dos idealizadores do “Taxi 10 JF”. Ele não teme a concorrência com a Uber, sob o argumento de que o seu trabalho é legal – ao contrário do concorrente -, mas afirma que era necessária uma reação mediante a recessão que o país enfrenta, com reflexos diretos na redução da demanda. “Com o desconto de 30%, é possível fazer com que o passageiro volte a usar o táxi.” José Afonso explica que o aplicativo está disponível na Google Play Store (para dispositivos com Android) e na Apple Store (para dispositivos com iOS).

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Pelo aplicativo, é possível chamar o táxi e acompanhar o seu trajeto, contar com uma estimativa do tempo de espera e avaliar o motorista após o final da corrida. Não é possível fazer o pagamento por meio eletrônico, mas os taxistas associados são orientados a oferecer a opção do pagamento com cartão de crédito. Ao custo final da corrida, que aparece no taxímetro, são deduzidos os 30%, calculados pelo motorista no próprio aplicativo. O preço mínimo da corrida é de R$ 7.
Os carros devem ser novos e estar limpos, os motoristas devem usar traje social, e o ar condicionado precisar estar sempre ligado. “Era preciso um diferencial, porque o serviço estava meio degradado”, afirma o taxista. O lema do serviço é unir qualidade, atendimento, preço e, principalmente, segurança. Hoje são cerca de 80 motoristas associados e 600 passageiros cadastrados. A adesão, de ambos, é considerada crescente.

Consumidores avaliam serviços de APP e Uber

Uma juiz-forana de 46 anos que preferiu não ser identificada e utiliza o serviço de táxi com frequência diz que não migrou para a Uber porque não tem cartão de crédito. Ela usou o “Taxi 10 JF” pela primeira vez na última quarta-feira. “Sobre o serviço prestado pelo motorista, achei muito bom, carro novo, com ar condicionado. Também gostei do preço, pois uma corrida da minha casa, no São Pedro, até o Cascatinha, que normalmente pago R$ 19, paguei R$ 13.” Em relação ao aplicativo, porém, ela achou mais confuso que o Vá de Táxi (antigo Way Táxi). “O tempo estimado para a chegada do carro não é confiável, pois ele indica uma previsão bem menor do que o que aconteceu na prática. O aplicativo não é muito “amigável” (de fácil utilização) e a tela de início não traz informações claras.” A passageira pretende aderir ao novo aplicativo e diz que só não migrou para a Uber “porque o serviço ainda não aceita dinheiro ou cartão de débito”.
Já outra juiz-forana, de 52, que também prefere manter o nome sob sigilo, migrou para a Uber e se arrependeu. Ela aderiu ao aplicativo em novembro e, dois meses depois, recebeu a comunicação de uma corrida realizada em Hong Kong. Nem é preciso dizer que ela não viajou para a Asia. Desde então, tem tentado contato com a empresa, sem sucesso. Além das duas corridas em janeiro, surgiram outras duas na semana passada. Ela conseguiu suspender a cobrança junto à empresa responsável pelo pagamento on-line, alegando que o débito não era autorizado. “A Uber não fez nada para que fosse solucionado o problema.” Na falta de um telefone para atendimento ao cliente, todas os meios eletrônicos de contato se mostraram ineficazes, diz.  “Fiquei bastante descontente com a falta de segurança do aplicativo. Em um prazo muito curto, conseguiram clonar a minha conta. Minha preocupação é que os meus dados estão abertos para uma pessoa que está os usando de forma fraudulenta. É uma questão muito séria para não ter, sequer, um retorno da Uber.” Procura da, a empresa ainda não se manifestou sobre o assunto.

 

Settra autua 28 da Uber

A Uber começou a operar na cidade em novembro do ano passado. Desde então, a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra) autuou 28 motoristas parceiros, sob o entendimento de que o transporte é irregular. O argumento é baseado em lei municipal que proíbe o uso de veículos particulares cadastrados em aplicativos para o transporte remunerado individual na cidade, e o Artigo 6.866 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que penaliza o transporte remunerado de pessoas, quando não licenciado para esse fim. A Uber, por meio de sua assessoria, informa que não concorda com as apreensões em Juiz de Fora, porque, no entender da empresa, o serviço encontra respaldo na legislação federal e na própria Constituição, em função do exercício da livre iniciativa e da liberdade de exercício profissional. A liminar que beneficia a Uber, em vigor no estado, não cita os órgãos de fiscalização municipal, daí brecha legal usada para as multas e apreensões no município. A empresa não informou se pretende ajuizar uma ação específica para legitimar o serviço na cidade. Um grupo de motoristas parceiros, no entanto, está se mobilizando para tentar obter uma liminar também a nível local.

Apoio
O secretário Rodrigo Tortoriello afirma que “dá apoio total” à iniciativa de os taxistas disponibilizarem o Taxi 10 JF, que, segundo ele, completa as ações que a Prefeitura tem realizado no serviço de táxi, como a ampliação e a renovação da frota. “Estamos há quatro anos trabalhando e, agora, o setor começa a se organizar.” Tortoriello elogia a iniciativa de alguns profissionais de privilegiarem o uniforme branco, além da crescente preocupação com a apresentação e com o atendimento diferenciado. O secretário identifica, ainda, mudança de mentalidade no setor, ao ver o táxi como uma prestação de serviço, “como sempre deveria ter sido.”  “Foi um grande passo que eles deram, identificar que é preciso melhorar a imagem e a qualidade do serviço, manter o carro limpo, o vidro fechado, o ar ligado e deixar o cliente satisfeito.” Tortoriello não credita a criação do aplicativo à Uber. Para ele, o problema do táxi não era a falta de concorrência, mas a carência de oferta e a necessidade de melhoria na qualidade do serviço. “O que o consumidor quer é um bom serviço, com preço melhor e bem prestado.”

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